Mafalala, Eusébio e a Copa

Curti fazer essa matéria em Mafalala, um bairro que fica bem perto do centro de Maputo. O povo recebe bem a gente, quer falar, é bacana. Espero que gostem também.

Também tem uma versão para a TV Brasil, que ainda não foi ao ar. Indo lá, republico aqui. Por enquanto, lembre aqui de Eusébio, mandando ver na seleção brasileira, em 1966.

Mais sobre a vida do Eusébio no “Que Fim Levou?”, do preclaro Milton Neves. Aliás, sabia que o meu fim tá lá também? Ó aqui.

Abaixo, o texto publicado pela Agência Brasil. O link está aqui.

28/05/2010
Bairro moçambicano onde nasceu Eusébio não sabe para quem torcer na Copa

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo – Um dos bairros mais populosos da periferia da capital moçambicana está com o coração dividido. Os moradores da Mafalala ainda não sabem para quem torcer na Copa do Mundo, que começa no dia 11 de junho. A dúvida deve-se à paixão que praticamente todos os países africanos têm pelo futebol brasileiro e ao respeito à história do filho mais ilustre do lugar, o ex-jogador Eusébio.

Aos 72 anos, imam (religioso muçulmano responsável pelas orações e sermões) de uma mesquita na Mafalala, Isufo Hangi fala com saudade do então vizinho, que hoje vive em Portugal. “Joguei ao lado dele uma vez só, no Acadêmica daqui, numa partida que fizemos contra o Sacadura Cabral, em Ressano Garcia, na fronteira com a África do Sul”, conta tio Isufo, como é conhecido.

“O juiz roubou muito contra nós. No final, teve um penalidade máxima que ninguém queria se incumbir de cobrar. Quieto como sempre foi, Eusébio foi bater. ‘Pá’… devagarinho… bola a um lado, guarda-redes ao outro… este era Eusébio”, diz o religioso, tomando um chá, no sofá da casa simples pintada de verde.

Eusébio da Silva Ferreira nasceu em 25 de Janeiro de 1942, numa casa de metal que existe até hoje na Rua de Timor, bairro da Mafalala, então cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo. Na época, capital da colônia portuguesa de Moçambique.

O “Pantera Negra” é considerado o maior jogador da história de Portugal e da África. Foi campeão europeu duas vezes com o Benfica (1961 e 1962), time pelo qual também venceu o campeonato português em 11 ocasiões. Foi ainda campeão norte-americano (pelo NASL em 1976) e mexicano (Monterrey, 1976). Maior artilheiro da Europa nas temporadas de 1967. 1968 e 1972 e 1973, fez 733 gols em 745 jogos oficiais.

Ainda jovem, seu passe foi oferecido ao São Paulo Futebol Clube, que não quis fazer o negócio.

O auge da carreira de Eusébio foi em 1966, na Copa da Inglaterra, quando sagrou-se artilheiro da Copa, com nove gols e recebeu a Bola de Ouro de melhor jogador europeu. Liderou a seleção portuguesa que até hoje mais longe foi em um Mundial – terceiro lugar – ao lado de mais três titulares moçambicanos: Coluna, Hilário e Vicente. Portugal perdeu nas semifinais para a dona da casa, a Inglaterra, que viria a ser campeã, por 2 a 1. Nas quartas de final, Eusébio marcou quatro gols e virou um jogo que estava 3 a 0 para a Coreia do Norte. A partida acabou em 5 a 3 para Portugal.

Antes, os portugueses haviam eliminado o Brasil bicampeão do mundo – time de Pelé e Garrincha (que não jogou nessa partida) – na primeira fase. Fato que causou comoção na Mafalala por envolver Eusébio e companhia, e por tratar-se do Brasil, querido desde sempre pelos torcedores moçambicanos. Um dos primeiros times de Eusébio, na Malafala dos anos 30, chamava-se “Os Brasileiros”.

O irmão mais novo de tio Isufo, Issulay, também conviveu com Eusébio nas ruas de terra da Mafalala. “Nosso campinho não existe mais. Hoje há uma escola e uma igreja lá.” Mas nem tudo mudou. O bairro ainda tem esgoto correndo a céu aberto, casebres de caniço e folhas de metal. Três ruas principais são recobertas por pedras, mas sem asfalto. Não há água encanada para todos. Mas hoje há luz elétrica, que não existia em 1966.

“Nem rádio tinha aqui”, lembra Tio Isufo. “Íamos ouvir os relatos (narrações) num alto-falante instalado na frente da sede do jornal Notícias, no centro de Lourenço Marques.” Outra maneira de se informar na época era pela revista brasileira O Cruzeiro. “Até hoje sou fã de Ângela Maria [cantora]. Aliás, ela vai bem?”, pergunta ele.

Na hora do almoço de uma sexta-feira, logo depois das orações muçulmanas, o campinho da Mafalala está cheio de crianças jogando bola. O grande ídolo delas não é Eusébio – que alguns ainda nem conhecem. É Cristiano Ronaldo, atacante do Manchester United e da seleção portuguesa. “Mas isso é só entre os miúdos”, diz Issulay. “Para os mais velhos, Eusébio é que ainda é o craque”.

Mas a empatia por Cristiano Ronaldo não tira o Brasil do coração dos pequenos. Cercado por eles, num intervalo da pelada, pergunto pelo jogo do próximo dia 25 de junho, em Durban, pela Copa, entre Portugal e Brasil. Por acaso, no dia em que se comemora o 35º aniversário da Independência de Moçambique. “Vão torcer para quem?” “Brasil!”, responde a ampla maioria.

Tio Isufo diz estar em dúvida. “Estou entre o Cavaco Silva e o Lula”, brinca, citando os presidentes dos dois países. Issulay também: “vou para o lado em que mais moçambicanos forem”. Se seguirem a “miudagem” da Mafalala, vão torcer pelo Brasil.

Edição: Nádia Franco

3 comentários em “Mafalala, Eusébio e a Copa

  1. ,Meu pai fala com muita vibração do Pantera Negra rss. Eu quase não o vi jogar… Brasil vai jogar por perto daí, não é mesmo? Ontem deu no JNacional…Bom fim de semana e grande abraço!
    Lucia Agapito

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