A polícia, de novo

Nosso cinegrafista Gilvan já teve uma animado encontro com a polícia sul-africana na primeira fase da Copa, ao fazer um treino de Portugal (caso você não se lembre como foi, clique aqui).

Pois ele segue atraindo a turma fardada.

O último emocionante convescote foi ontem, no aeroporto. A TV Brasil foi uma das duas únicas emissoras a registrar a saída da seleção daqui da África do Sul (a outra foi a BAND).

Gil estava em cima de um monte de grama, aboletado pra fazer a última imagem da reportagem que foi exibida no Repórter Brasil – justamente o avião partindo. Estava lá havia um tempão. Mas foi acender a luz, para os carros da polícia juntarem nele.

“Ai dont ispíque inglixx! Anaaaaaaaa!!!!”, gritou o intrépido camarógrafo, completando a frase com o nome da nossa produtora. “Sóri, sóri, sóri!” e pronto: o pedido de desculpas resolveu tudo.

A polícia viu que não havia nada demais em gravar ali, até porque o chefe da delegação Andrés Sanches conversou com o repórter Rogério Bastos Medeiros – mas sem querer gravar, ressalte-se.

Também pode ter ajudado o pedido do auxiliar da BAND, outro que gastou todo seu estoque no idioma de Sheakespeare pra garantir a gravação: “Pelo amor de God”, dizia ele com o dedinho apontando pro céu, implorando pra que ninguém tentasse pegar a fita.

Ninguém pegou. Graças a God.

O resultado da empreitada está aqui. Veja como valeu a pena.

Abaixo, os dois maiores amigos da polícia sul-africana, Gilvan e Rogério.

A seleção vai mudar. Mas quando será a nossa vez?

Sempre que o Brasil é desclassificado da Copa, a pauta é “enumerar os inúmeros erros” que foram cometidos na convocação, preparação, escalação, alimentação, e qualquer outro “ão” que caiba no processo. Em seguida, apontar o que deve ser feito para que esses erros não se repitam na próxima copa.

Mas quem diz que esses erros aconteceram mesmo? Será que não é possível que tudo tenha sido feito certo e – miraculosamente – algum outro time tenha sido melhor que o nosso?

“Ouvimos as fontes”, dizemos nós. Quais fontes, só pra lembrar? O processo é o mesmo que se usa pra analisar – imparcialmente, é óbvio – decisão de Banco Central ou Ministério da Fazenda: gente “de mercado”, ex-integrantes da instituição ou “comentaristas experientes”. Na enorme maioira das vezes, sempre os mesmos, que já sabemos que vão falar exatamente o que queremos escutar.

Mas daí não é a minha opinião, né? É o que o Mailson da Nóbrega acha.

Sem falar nessa esquizofrenia entre departamento comercial e conteúdo. Enquanto as chamadas são carregadas de emoção e apelos patrióticos, e os comerciais são de um ufanismo só, prafrentebrasilsalveaseleção, a moçada na beira do campo quer provar que é “jornalismo futebol clube”, imparcial, sem pachequismo. Só que sendo contra tudo – tudo – o que os caras fazem. Como se isso não fosse parcial também. Não fosse erro. Ou soberba de achar que do lado de lá só tem mané.

Lembro sempre dos famosos comentaristas que dizem que “o próprio nome da FIFA já diz que futebol é association”, pra indicar que tal time deveria jogar em conjunto. Um sujeito que diz isso deveria ser pendurado de cabeça pra baixo. “Fédération Internationale de Football Association” quer dizer Federação Internacional de Associações de Futebol. Nunca foi “Federação Internacional de Futebol Associado”.

Bom seria que, a cada quatro anos, a imprensa também passasse pelo mesmo escrutínio rigoroso que impõe à seleção. Daí, certamente, os imaturos e ou preguiçosos não viriam nas próximas. Quem previu o futuro e errou feio – ou ficou no muro de sempre – seria obrigado e estudar mais antes de abrir a boca. E quem se mostrou ultrapassado, preconceituoso ou anacrônico passaria a comentar só jogo de showbol. Se tanto.

Mas não. Nós não erramos nunca. Nem vamos a lém da conta. “Como? Campanha contra alguém? Imagine! Só reportamos fatos como eles são e fazemos críticas necessárias. Sempre construtivas, é claro”.

Quantos analistas te contaram como a seleção da Alemanha viria jogar na Copa? Qual o grande diferencial dela? Quantos apontaram a Alemanha como favoritíssima ao título? Claro que não vale aquele troço de “a Alemanha é sempre candidata em qualquer competição.”

Mas fomos várias vezes informados quantos jogos o Zéninguémkovic fez pela segunda divisão da Eslováquia, ou qual o nome da quarta ex-esposa – modelo, por sinal – do craque Bonítolson, que assinou um contrato milionário com aquela famosa grife de botinas Pedeboy.

Desnecessário dizer que tem gente no nosso meio que sabe o que fala, conhece tática, batalha por notícia e não por fofoca, não quer nem o lugar do técnico nem do supervisor da seleção. Claro que tem. Também tem quem apontou a Alemanha como favorito sim. Mas esses tem que ser a maioria. E ainda não são.

É claro que a seleção erra. Mas agora vai trocar técnico, cair comissão, modificar “filosofia”, como tanto gostamos de dizer.

E nós? Quando vamos mudar de tática?