Na quarta-feira mandei uma mensagem SMS para o porta-voz do Ministério da Saúde aqui de Moçambique. Queria que ele me indicasse alguém para falar sobre o orçamento da pasta referente a AIDS (aqui – e em todos os demais países que falam português e nos que falam espanhol – chamado de SIDA).
Ele respondeu prontamente: “estou em Uganda. Procure o dr. Abdul.”
Passei dois dias atrás do doutor Abdul. Nem eu nem a Bélia, minha produtora (falando xangana e tudo), conseguimos ir além da secretária.
Aliás, a secretária pediu: “mande uma carta pedindo para falar com ele”.
Carta é carta mesmo. E-mail não serve.
Escrevi a carta, mandei por fax. Nenhuma resposta. “Bélia, liga lá, por favor.” Ela ligou umas 50 vezes. A secretária atendeu todas. E em todas disse que não tinha resposta.
Três da tarde cheguei lá no Ministério. Fui pra sala do doutor Abdul. Doutor Abdul estava em reunião. Não há problema – eu espero”. O queixo da secretária quase caiu.
Terminou o expediente, doutor Abdul voltou. Leu a carta em cima da mesa e me chamou dentro da sala. Só pra me dizer que só falaria comigo se eu mandasse uma carta – outra – pedindo autorização do ministro da saúde para ele falar comigo. “Eu pedir pro ministro?” “É. Depois eu respondo se posso ou não falar com o senhor”.
E falou isso numa boa, ressalte-se. Não senti nele preguiça ou má vontade. É que simplesmente “é assim”. Isso porque eu quero saber de dados que já foram divulgados. Só uma sonora, pra ilustrar a matéria.
O sangue subiu. Acalmei, sai da sala, voltei pra portaria. “Quero falar com o ministro”, disse eu. “Ele viajou”. “Então o vice ministro”. “Já foi”. “E o secretário-permanente? “Está saindo agora…”
Deixei a moça falando sozinha e corri no estacionamento. Parei o secretário no semáforo. Ele abriu a janela espantado. Entreguei meu cartão a ele e expliquei quem eu era, que não conseguia nada porque o porta-voz viajara e que eu estava “me habituando ao país e seus hábitos”.
“Você quer dizer habituando-se à burocracia moçambicana, não é?”
É, secretário. É isso mesmo.
A abordagem me rendeu um café com a vice ministra na segunda cedo. Será que vai rolar entrevista? Por via das dúvidas, vou levar uma carta-pedido-súplica impresso em folha timbrada, duas vias.
E você aí, em Brasília: da próxima vez que o retorno do ministério demorar meia hora e você começar a arrancar os cabelos, liga aqui pra Bélia. Ela te ensina a ter paciência.