Já falei aqui da AMETRAMO – Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique – quando tratei dos fenômenos de Quisse Mavota (se você não lembra, leia aqui e veja aqui).
Ela reúne mais de 20 mil médicos tradicionais – que não se zangam quando são chamados de curandeiros. O grupo tem uma imensa importância no país. Pra que se tenha uma idéia: Moçambique todo tem menos de 1000 médicos convencionais. Assim, pra muita gente – principalmente no interior mais afastado – o médico tradicional é o único que ele vê na vida. Contando os não-associados, chega-se a mais de 70 mil curandeiros atuando.
Cuidam de todas as doenças… desde que causadas por espírito, como explica Fernando Mathe na reportagem aí em cima.
Eles têm até cargo no Ministério da Saúde. Tem médico que é convencional e curandeiro ao mesmo tempo. São muito mais influentes na vida cotidiana do país que alguns líderes de igrejas, mesmo não sendo exatamente religiosos.
De fato, são um traço marcante aqui nessa parte da África – dela toda, aliás.
Pois o presidente da AMETRAMO morreu. Maciane Zimba, de Gaza, tinha 76 anos.
Era considerado forte. Mas…
Na última reunião da AMETRAMO, ele pediu a palavra e lançou uma idéia: que os associados criassem um auxílio-funeral na Associação, para ajudar nas despesas finais. Tirou 200 meticais do bolso (10 reais) e foi o primeiro a contribuir. Aos outros, pediu só 50 meticais de cada.
A lista correu, teve gente que deu, gente que não deu, mas, de acordo com alguns dos presentes, ninguém suspeitava que o próprio Maciane seria o primeiro a usar do benefício. Ele parecia saudável, sem problemas.
“Por que foi mexer com isso…xê!”, me disse Fernando Mathe, porta-voz da Associação, a caminho dos funerais.
Estive com Fernando para uma reportagem que estou preparando, sobre AIDS. A história que ele conta na matéria é muito interessante. Mas você vai ter de esperar uns dias pra ver, porque a apuração continua.
Sábio esse Fernando Mathe:
“Por que foi mexer com isso…xê!”
Sempre despachava rapidinho quando vinham me oferecer terrenos em cemitério. Eu hein, tô fora..
Mas essa história dele inaugurar o benefício me fez lembrar do Odorico Paraguaçu e a inauguração do cemitério de Sucupira! Abs
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