O miúdo chorou hoje durante todo o almoço. E miúdo aqui não é só o jeito dos portugueses e moçambicanos se referirem às crianças. Era miúdo mesmo, bem miudinho. Pudera: tem 15 dias. E já foi comer feijoada conosco no Tipalino.
Ele tomou só leite, claro. Ficou no colo da Sandra, mulher do Ricardo. Não é filho deles não – é de uma amiga, que está viajando. Seguiu com o marido e deixou o menino de 15 dias aos cuidados de outra pessoa.
Antes de achar isso “um absurdo” ou criticar essa mãe, lembre-se que estamos na África.
A mãe foi à África do Sul – logo ali, 90 quilômetros – comprar o enxoval do garoto. Quando ele nasceu, só tinha uma chupeta. É assim que mandam o costume e as tradições.
Aqui em Moçambique, quando o bebê nasce, mal tem o nome escolhido. Nada é comprado durante a gravidez. Nem móveis, nem fralda, nem roupinha, nada.
Antes é preciso ver se o nenê vai vingar. Nada mais normal em uma parte do mundo em que a mortalidade de recém nascidos é alta. A cada 1.000 partos na África Sub-Sahariana, 168 bebês não vingam.
Só 17% dos partos são em unidades sanitárias preparadas para emergências.
O número de mães que morre no parto também é alto: uma a cada 16 mulheres perde a vida dando a luz ao seus bebês.
Só depois que a criança nasce e se mostra saudável é que se vai correr atrás do enxoval. Como a amiga da Sandra foi fazer na África do Sul.
No Senegal, o costume é mais ou menos este também. Mas a criança fica sem nome até completar duas semanas. Só depois de 15 dias se faz uma cerimônia, para o pai anunciar à família como a criança vai ser chamada.
Nosso novo amiguinho, aqui de Moçambique, já tem nome. É Umwini. Que quer dizer “vencedor” em zulu.
Sem dúvida. Só de estar conosco na feijoada, Umwini tem muito o que comemorar. Afinal, a mamãe dele volta já.
Quantos miúdos africanos não puderam sequer chegar a isso?