Dia Africano da Medicina Tradicional: curandeiros em passeata

Estive lá hoje de manhã.

A Bélia foi junto. Ela fica com um medo…

Aqui embaixo, a matéria que saiu na Agência Brasil. Hoje à noite estará no telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil.

Saiu lá, ponho cá no ElefanteNews.
(atualizando… já está cá, ó aqui…)

1/08/2010
Curandeiros fazem passeata em Moçambique para comemorar o Dia da Medicina Tradicional

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Cerca de 300 curandeiros e médicos tradicionais saíram nesta terça-feira (31) em passeata pela Avenida Acordos de Lusaka, uma das mais movimentadas de Maputo, para marcar o Dia Africano da Medicina Tradicional. Vestidos a caráter – homens com peles de animais e mulheres com tecidos coloridos, chamados “capulanas” -, os manifestantes tocaram tambores e apitos e carregaram faixas que lembravam os 9 anos do reconhecimento profissional no país.

Em 2001 foi criada a Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (Ametramo), que hoje tem mais de 25 mil associados. A associação nasceu com o intuito de chancelar o trabalho dos curandeiros, além de criar padrões de atendimento e comportamento. Segundo estimativa do porta-voz da associação, Fernando Mathe, já são mais de 70 mil praticantes da medicina tradicional no país. “É muita gente mesmo”, garante.

Dados do Ministério da Saúde de Moçambique mostram que, em abril desde ano, o número de médicos profissionais não passava de 1,2 mil em todo país. Para vários moçambicanos, o médico tradicional é quem dá o primeiro atendimento, quando não o único. Uma realidade que se repete em outros países do Continente Africano.

“Contra fatos não há argumentos,” afirma a vice-ministra da Saúde, Nazila Abdula, que participou da passeata. “A saúde tentou sempre trabalhar separada da medicina tradicional. Mas sabemos que 75% da população usam os praticantes dela”.

Por isso, o ministério criou no ano passado o Instituto de Medicina Tradicional de Moçambique. “Neste momento, estamos a catalogar quem são os médicos tradicionais e quais remédios eles usam para cada doença”, explica a vice-ministra, que é médica pediatra. “E temos tido bons resultados”.

Outra medida é instruir os curandeiros a identificar doenças graves e mandar seus pacientes ao hospital o quanto antes. “Curandeiro não trata de todas as doenças”, diz Mathe. “Só as do espírito. Feitiço é feitiço, doença é doença.” Outro desafio enfrentado pela associação é combater o uso de órgãos humanos em cerimônias tradicionais. “Isso é crime”.

Maus curandeiros são alvo das próprias associações, explica Fátima Mongore , do Fórum Nacional da Medicina Tradicional. “Aproveitadores há em todas as profissões”. Segundo ela, o trabalho feito na última década é que ajudou a dar credibilidade aos curandeiros e a ganhar o respeito da sociedade e do governo.

A passeata terminou na Praça dos Heróis, onde foram depositadas flores no monumento que lembra, entre outros heróis moçambicanos, o primeiro presidente do país, Samora Machel. Além da vice-ministra da Saúde, estava presente a governadora de Maputo, Lucília Hama.

Edição: Vinicius Doria

Negócios em Maputo

O mundo é muito grande e só agora boa parte dos empresários brasileiros descobriu isso.

Topei com vários hoje na FACIM – Feira Internacional de Moçambique.

Como está aí na matéria da Agência Brasil, gente que nunca tinha pensado em vender pra África e agora vem aqui pra expor de sêmen de boi a catraca eletrônica.

Vender pra Moçambique? Facim, facim.

0/08/2010
Maior feira de negócios de Moçambique atrai 60 empresas brasileiras que miram o mercado africano

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Empresas brasileiras interessadas em abrir mercado na África trouxeram para a 46ª Feira Internacional de Moçambique (Facim) produtos que variam de xampus e sabonetes a catracas eletrônicas. Aberta nesta segunda-feira (30) pelo presidente moçambicano Armando Guebuza, a Facim é a mais importante feira de negócios do país. Este ano, a feira atraiu a atenção de 488 empresas, sendo 60 do Brasil. “O interesse em expôr aqui tem aumentado de ano para ano”, afirmou o organizador do espaço brasileiro na feira, Marco Audrá.

“Essa é a maneira mais segura de entrar em um mercado tão particular”, disse ele. O número de empresas brasileiras na Facim este ano é 40% maior que em 2009. São empresas que atuam em ramos muito diversos, como cosméticos, melhoramento genético de bovinos, higiene e limpeza, mobiliário para escolas, colheitadeiras e até sincronizadores de semáforos.

Segundo Audrá, o mercado moçambicano é menor que o de países como África do Sul e Angola, mas as perspectivas são muito boas. “Aqui há uma facilidade maior de infraestrutura e a economia do país está crescendo muito”. A grande maioria dos expositores brasileiros teve apoio do Sebrae ou do Ministério de Relações Exteriores para alugar espaço na feira e divulgar produtos.

Rodrigo Silva veio “experimentar” a feira de Moçambique. Ele é representante da Digicom, líder do mercado brasileiro de catracas eletrônicas e que também desenvolve sincronizadores de semáforos. Depois de instalar as catracas no metrô do Rio de Janeiro e no sistema paulista do Bilhete Único, a empresa sediada em Gravataí (RS) decidiu expandir os horizontes. Já fez contatos no Marrocos, em Angola e no Egito e, agora, chega a Moçambique. “Viemos nos colocar como alternativa para o mercado, que está se abrindo agora”.

A KJR, empresa paulista que produz ferramentas e conectores elétricos, também veio “testar a aceitação” de seus produtos e achar um representante local. “Como aqui a empresa de energia é estatal, precisamos conhecer bem as regras e os métodos”, disse Mauro Fernandes, representante de Exportações da companhia, que já vende para Cuba e outros países latino-americanos, como Colômbia, Chile e Peru. Mas é a primeira vez que tenta fazer negócios na África.

Mais experiente no continente, a fábrica de móveis para cozinha Poquema, de Arapongas (PR), chegou à Facim com um objetivo traçado. “Quero vender dois contêineres, cerca de U$ 70 mil dólares em mercadorias (R$ 130 mil)”, afirmou o gerente de exportações João Faro, que já tem experiência de fazer negócios na vizinha África do Sul. O mercado moçambicano, disse ele, é promissor. “Aqui estão subindo muitos prédios e o poder aquisitivo da população também cresce.”

Pelos dados oficiais do governo, a economia de Moçambique cresceu 9,5% nos três primeiros meses deste ano. Os empresários não comentam abertamente, mas consideram Moçambique um país onde a corrupção não prejudica tanto os negócios, como ocorre em outros países africanos, onde é “mais frequente e mais cara”, segundo um executivo de uma das empresas brasileiras.

Além de Moçambique e Brasil, empresas de mais 12 países estão representadas na Facim: Portugal, África do Sul, Indonésia, Malaui, Zâmbia, Tanzânia, Espanha, China, Suazilândia, Quênia, Botsuana e Itália.

Edição: Vinicius Doria

Greve no vizinho

Materinha na Agência Brasil.

30/08/2010
Funcionários públicos da África do Sul entram na terceira semana de greve

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – A greve dos funcionários públicos da África do Sul entra hoje ((30) na sua terceira semana. Governo e sindicatos voltaram a negociar, mas ainda não há sinal claro de que um acordo esteja próximo.

Até a semana passada, a oferta de 7% de reajuste e auxílio-moradia de R700 (rand, a moeda nacional, cerca de R$ 168) foi apresentada como final. Os sindicatos querem 8,6% e benefício de R1000 (R$ 240).

A pressão política aumentou nos últimos dias, quando líderes sindicais ameaçaram retirar o apoio ao Congresso Nacional Africano (CNA), partido do presidente Jacob Zuma. Outras categorias privadas, como a dos trabalhadores do setor de borracha e pneus, anunciaram que entram na greve a partir de hoje.

O presidente reuniu-se com ministros no fim de semana e determinou a volta à mesa de negociação. Segundo a porta-voz Zizi Kodwa, Zuma está preocupado com o futuro da greve porque “quem mais sofre é o cidadão comum”, disse.

Algumas manifestações de grevistas foram dispersadas pela polícia com bombas de gás e jatos de água, deixando feridos. O trânsito também foi muito afetado em Joanesburgo nos dias de passeatas. A morte de seis pessoas foi atribuída pelas autoridades à falta de atendimento adequado nos hospitais, e várias escolas adiaram a realização dos exames semestrais.

A paralisação atinge cerca de 1 milhão de servidores públicos, incluindo professores, enfermeiros e funcionários das alfândegas. A maior central sindical do país, a Cosatu, já anunciou que se não houver acordo nesta semana, vai paralisar outras áreas. O foco será o setor produtivo, incluindo o minerador e a área financeira, como operadores da bolsas de valores, o que traria grande impacto na economia.

Caso seja necessário, a Cosatu diz que consegue parar 2 milhões de pessoas na próxima quinta-feira (2). Sindicatos das forças militares consideraram juntar-se à greve, mas decidiram continuar no trabalho.

O preço do pãozinho e os plantões da gasolina

Quando eu comecei no jornalismo não existia celular, internet ou computador na redação.

Na Rádio Trianon, na Avenida Paulista 900 – 1o andar, o máximo da modernidade era uma máquina de telex que recebia as agência Globo e Estado fazendo aquele barulho de tecla batendo: tec, tec, tec…

Seu Fernando (Vieira de Mello, pai), meu chefe, não deixava sequer o papel de fax direto no telefone, porque gastava muito. “Nunca me mandaram nenhum furo pelo fax”, dizia ele.

O jeito era bater perna na rua e gastar o dedo no telefone. Por segurança, gravava-se a concorrência em fita de rolo. Era a função do radioescuta: sentava a bunda na cadeira em frente à máquina, ouvia o jornal da Jovem Pan e da TV Globo, ía numerando as manchetes e anotando o contador do gravador:

1) 000 -Palmeiras ganha por 4 a 0;
2) 012 -Técnico do Córintchia é demitido;
3) 024 – Jogador do São Paulo diz que isso não significa nada;
e assim por diante.

Mas não só: tinha que prestar atenção aos plantões. Principalmente os dos aumentos dos preços tabelados – principalmente o de aumento da gasolina.

Como nossa cobertura em Brasília era fraca, o jeito era ouvir o outros.

Radioescuta que perdesse o plantão corria o sério risco de seguir perdendo- a confiança da chefia, a chance de sair daquela salinha para outro canto mais interessante, e até o emprego.

Lembrei de tudo isso enquanto escrevia a reportagem que mandei abaixo para a Agência Brasil.

Anos que já lá vão.

27/08/2010
Preço do pãozinho sobe 17% em Moçambique

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O preço do pãozinho vai subir 17% em Moçambique a partir de 1º de setembro. A Associação Moçambicana de Panificação (Amopão) informa que a decisão é justificada pelo acréscimo dos custos, principalmente da farinha de trigo, energia elétrica, água e do fermento.

Todos os tipos de pão devem ficar 1 metical (MT) – a moeda nacional – mais caro (R$ 0,05). Mas alguns revendedores – conhecidos no país como “depósitos de pão” – já elevaram os preços da unidade de MT 4,00 para MT 6,00.

Nos últimos meses, foi grande a oscilação do MT frente ao rand (R) sul-africano, o que afeta fortemente os valores dos produtos importados. Um rand (aproximadamente R$ 0,24) valia MT 3,72 em dezembro do ano passado. Agora já é negociado a MT 5,00.

Moçambique consome, em média, 485 mil toneladas de trigo por ano e 98% são importados. Nos últimos dois anos, graças às mudanças dos preços do petróleo no mercado internacional, o valor cobrado pelo frete por tonelada do trigo trazido para o país mais que dobrou.

Além disso, desde 2007 grandes secas têm afetado a produção do grão em países fornecedores, como a Ucrânia e a Rússia. A produção do Norte da África também foi afetada pelos mesmos motivos. Já na Austrália, foram as inundações que reduziram a safra e, consequentemente, causaram impacto no preço.

Em 2008, o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique iniciou estudos para substituir parte do trigo utilizado na fabricação de pão por mandioca, que já tem produção anual de 7 milhões de toneladas. A mandioca é o milho respondem, juntos, por metade da cultura de alimentos do país.

O consumo de trigo per capita na África é o mais baixo do mundo. Segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), um africano compra, em média, 46,3 quilos (kg) do grão por ano. A média mundial é de 67 kg. O maior consumo está na Europa, 110,9 kg por habitante/ano. Na América do Sul, a média é de 55,7 kg.

Big Brother África

Saudades do bigui bródi?

Seus problemas acabaram! – como dizia aquele programa que foi engraçado na década de 80.

O Big Brother África está em andamento. Aliás, é só procurar, que sempre tem um em andamento.

Tem Uhu! Ae! e todas as demais interjeições conhecidas. Também tem mocinhas e garotões desinibidos demonstrando sapiência e erudição a cada comentário.

E, como se vê abaixo, também tem visitas inesperadas de estrelas conhecídissimas.

Mas nem tudo é igual.

Não tem Bial. Tem I.K. Osakioduwa. Se ele faz poesia ou dá lição de moral ainda não sei…

E a versão africana lembra concurso de miss – ou Fórmula Um, quando era sério: cada concorrente representa um país. Começaram 14: Moçambique, Namíbia, Etiópia, Zimbábue, Uganda, Botswana, Malawi, Tanzânia, Gana, Zâmbia, Quênia, África do Sul, Angola, Nigéria. Já se passaram 40 dias e alguma eliminações. Fala-se inglês – of course, my horse.

Com gente de vários lugares, economiza-se na produção, vende-se pra vários lugares que não têm mercado publicitário que suporte tamanha maravilha, e espalha-se a praga por todo o mundo mesmo.

Como no Brasil, o jornal do grupo de comunicação que tem a TV que passa o programa faz matéria sobre ele. Abaixo, trecho da reportagem dO País de hoje.

“O “reality show” mais visto no continente africano está cada vez mais renhido, mais competitivo e emocionante. No dia 22 de Agosto, a Etiópia foi o país escolhido pelos africanos para abandonar a casa do Biggie, através do seu concorrente Yacob, juntando-se aos seus colegas Hannington, Tatiana e à sua amiga especial Lerato, no Celeiro do Big Brother (casa alternativa). Sem sombra de dúvidas, a última semana dos concorrentes foi marcada por conflitos entre Jacob e Maryl (Namíbia), enquanto a moçambicana Jennifer e a queniana Sheila tiveram um pequeno desentendimento.”

Quer saber mais? Continua espiando, aqui no ElefanteNews…
Tá bom, vai: clique aqui que cai no site deles.

Bélia e as tranças

Você já conhece a Bélia, a produtora (se não conhece, conheça clicando aqui e aqui).

Pois durante minha viagem a Ruanda, ela estreitou laços com minha mulher. Inclusive os laços do cabelo.

E virou entrevistada do Mosanblog. Clique aqui pra ver o Mosanblog.

Aí embaixo você conhece um pouco mais sobre como pensam os jovens daqui.

Bélia e a televisão

O fato do Eduardo e eu sermos um casal, faz com que muitos de nossos leitores conheçam os dois e visitem tanto o Mosanblog quanto o ElefanteNews, o que é bem interessante para nós e cria certa complementariedade em termos de informação para os leitores. Então, quem já visita o ElefanteNews, conhece um pouco a Bélia, que é produtora de TV e trabalha com o Eduardo. Quem não conhece ainda, pode ver os posts sobre ela no ElefanteNews aqui e aqui.
a produtora Bélia

Outro dia ela fez tranças no meu cabelo. Enquanto ela trançava – o que demorou quase três horas – eu aproveitei para fazer uma entrevista. Bélia é uma figura que vale. Nasceu aqui mesmo em Maputo, no bairro Xamanculu, onde viveu até os 12 anos, quando a família se mudou para o bairro das Maotas, onde ela está até hoje. “A mudança foi muito brusca. Para o positivo. Lá as condições eram precárias. Em um terreno, pode ter mais de 50 casas. Na casa onde vivíamos, dividíamos o banheiro com mais seis famílias. Era difícil ficar na bicha [fila, por aqui] de manhã para tomar banho”, lembra.

Então, ela começou a mexer no meu cabelo. Separou um tanto para cá, um tanto para lá, e começou o trança-trança. Eu tinha comprado mechas, para as tranças ficarem todas do mesmo tamanho e volume, como eu expliquei nos últimos posts.
mechas compradas no Mercado Central de Maputo

Mechas que eu comprei no Mercado Central de Maputo, quase da cor do meu cabelo

E eu começo perguntando: Qual é o seu nome completo?
Bélia Enoque Machava.

Mosanblog: De onde vem o nome Bélia?
Bélia: Meus pais sempre gostaram de ter nomes diferentes para os filhos. Quase todos temos nomes exclusivos. Minha mãe gostava de uma cantora chamada Mbilia Bell, africana. Então, ela queria colocar Mbilia. Mas depois ela pensou no Bell. Não sei como, ela juntou os dois e ficou Bélia. Um dia fui achar significados de nomes e achei na bíblia o nome Belial. E não é um nome bom, é um nome negativo. Eu fiquei mal. Mas também, não me imagino com outro nome.

Mosanblog: E as suas irmãs? Como são os nomes?
Bélia: A minha irmã mais velha chama-se Topázia, do nome da pedra preciosa. A outra tem o nome da mamá (mamá é como eles chamam mamãe aqui. É mamá e papá), que chama-se Olga. Depois tem uma que tem o nome de Vinólia, em homenagem a uma sulafricana conhecida por ser super inteligente. Depois veio o menino, que ganhou o nome de meu pai. Enoque José Machava Júnior.

Mosanblog: Você tem um filho, não?
Bélia: Tenho sim, um filhinho. Vai fazer 4 anos dia 30 de agosto. Layton [fala-se Láiton].

Mosanblog: E esse nome?
Bélia: Layton foi o pai que deu, eu nem sei de onde veio. Foi no dia do parto. Eu tinha certeza que era menina. Já vou pensando no nome feminino que vou dar. Ia ser Giovanna. Por causa da novela da Jade, aquela do Clone. Então fui ver o nome real da Jade. Mas quando de repente vi que era um rapazito, nem imaginava que nome dar. O pai falou Layton. Eu gostei na hora. Porque não gosto de coisas vulgares. Tem que ser exclusivo. Que nem Bélia. Meu nome eu só vi em uma mulher em França, na TV. A minha xará está em França! Depois disso eu conheci um Bélio. E só.

Mosanblog: Qual seu objetivo profissional?
Bélia: Sempre tive o sonho de ser repórter, locutora de rádio, apresentadora de TV. Por alguns anos trabalhei como locutora de rádio. Foi emocionante. Fazia aquilo que eu gostava: lidar com música, conversar com os ouvintes…

Mosanblog: Em qual rádio?
Bélia: Passei em várias rádios, uma foi a RTK [aqui a letra k fala-se kapa]. O kapa é de Klinton, o primeiro dono da rádio, mas ele perdeu a vida já há muito tempo… Então, brasileiros compraram a rádio e modificaram para K FM. Lá eu fiz um programa infantil.

Mosanblog: Como era esse programa infantil?
Bélia: Tinha muita música de criança. Eu era fanzona da Eliana. Então, fui fazer o programa. Eu imitava a Eliana. Na escola chamavam-me Eliana de Moçambique. Eu sabia quase tudo dela. Mesmo que na época não tínhamos internet para acessar as informações. Eu ouvia pela rádio e via na televisão Miramar [hoje, Record], que transmitia os programas da Eliana aqui. Aquilo era uma coisa! Aquele mundo colorido… Aqui a gente não estava acostumado a ver aquilo, aqueles cenários bonitos. Aqui não era assim. As crianças conheciam só brincadeira da terra.

Mosanblog: Que brincadeiras vocês faziam nessa época?
Bélia: Uma era a mathocozana. Faz-se uma covinha no solo, de um centímetro, depois arranja-se pedrinhas e coloca-se lá. Eram 12 pedrinhas e uma bolinha, para a bolinha usávamos limão pequenino. Jogava a bola para o alto, tirava e repunha as pedras na covinha e tinha que pegar a bolinha antes dela cair nas pedras. Quando chega o programa da Eliana, saímos daquele mundo. As crianças ficaram muito mais sedentárias, porque só queriam saber de televisão. [Ela está falando de coisas de uma década atrás, mais ou menos].

Mosanblog: E quanto tempo durou seu programa infantil na rádio?
Bélia: Seis meses. Aí mudei. Fiz um de promoção de bebidas. Mas eu não fazia sozinha. Éramos três. Tinha um animador, eu e um outro homem. Comentava sobre a bebida, que estava a patrocinar a rádio. Falávamos com o ouvinte, dávamos a bebida de prêmio, líamos anedotas. Era muito bom, porque estávamos a rir. As bebidas eram Boss Whisky, Dolar Gin, American Queen… eram quatro, mas a quarta já não estou a recordar. Mas eu não bebia, só falava, só.

[E ri. E trança.]

Bélia a trançar e rir

Mosanblog: Por que você queria ser repórter?
Bélia: O sonho sempre foi fazer rádio, televisão. Queria ser apresentadora, igual a Eliana. Mas os sonhos foram mudando. Os programas de jornalismo da Miramar traziam matérias quentes. Eu via uma reportagem, ficava pensando: “como é que conseguiu fazer isso?” Tinha uma repórter que era do Ceará – eu não sei onde é que é isso – eu via o programa para ver o que ela ia fazer, porque ela só fazia matérias boas. Eu ficava no espelho em casa, tipo: tô na televisão. Eu começava a falar: boa noite, está a começar mais um programa… Meu avô queria que eu fosse médica. No décimo ano eu reprovei umas três vezes. E era pelas ciências. Nas letras eu ia bem. Português, história, geografia… Eu passei as letras todas, ciências reprovei tudo. Nas letras, vem uma pergunta difícil, se tu souberes argumentar, vais bem. Nas ciências não. Tens que saber exato. Portanto é difícil fazer medicina. O que acontece é não há nada melhor do que fazer aquilo que nós gostamos.

Mosanblog: Você continua com o mesmo sonho hoje?
Bélia: Hoje meu sonho ainda é fazer jornalismo. Ainda não fiz faculdade de jornalismo, mas eu vou chegar lá. É uma questão de perseverança. Se o que eu quero é isso, vamos lá. Hei de aprender, ainda que não saiba. Estou aprendendo, graças a deus. Vou vasculhando mais. Acredito que a lei é ser curioso.

Mosanblog: Você já assistiu a TV Brasil, para onde trabalha?
Bélia: Já. Quando eu vi: ê! O canal é diferente. Muito mais evoluído com relação aos canais nacionais. Está bem que o Brasil é independente há muito tempo. Moçambique ficou independente há 35 anos. No Brasil, dizem que tem pobreza, mas nós, quando vemos novela não vemos isso. A gente sabe que novela é mentira, mas nós não colocamos isso na cabeça quando vemos. Em tudo o Brasil é evoluído. Futebol. Brasil foi pentacampeão. Músicas. No Brasil, fazem letras incríveis. Moçambique chega lá um dia. O Brasil quando ficou independente também não foi de cá pra lá. Houve um tempo.

[Filosofa… e trança]

Bélia pensa e trança

Mosanblog: Mas mechas não tem no Brasil. Pelo menos não como aqui, em todo canto…
Bélia: Sério? Não é possível. É possível, porque… mas não… dona Sandra! Nas novelas a gente vê aquelas negras. Elas usam mechas sim. Aquilo não é cabelo delas… Mas a maior parte das pessoas no Brasil são brancos. Algumas mechas vendem lá, sim. Com certeza.

Mosanblog: E o que são as tais mechas?
Bélia: Mechas são cabelos que nós africanos usamos junto com o nosso, por termos cabelos que não crescem muito, e é lento, muito lento, não é como os brancos e mulatos. À medida que nós cobiçamos as novelas, começamos a cobiçar aquele cabelo longo, a gingar… É quando inventam-se as mechas. Na época eram menos sofisticadas que as atuais. A gente só trançava. A evolução também trouxe as extensões e fica mesmo cabelo assim, que nem de branco. Cobiçávamos ter cabelo longo, que é possível passar um pente. Quando surgem as extensões, foi um sonho!

[Sonha… e trança]

Bélia não para de trançar

Mosanblog: Quando você começou a trançar seu cabelo e a usar mechas?
Bélia: Desde criança. Eu era maluquinha. Ia numa casa que estavam a trançar e pegava as mechas que restavam no chão. E comecei já a trançar na minha cabeça. Eu aprendi a trançar na minha cabeça. Saía mal, mas eu persistia. Com o tempo comecei a trançar bem. Normalmente a mão de obra é um pouco cara. Se for para gente de fora, ainda mais. As pessoas vão vendo o teu cabelo, a tua roupa e já cobram mais.

Mosanblog: Eu já percebi isso. Tem o preço para os mulungos [estrangeiro, branco] e para os daqui…
Bélia: Aqui é assim. Se estão a ver pessoas claras, com cabelo longo, já pensam que está cheia de dinheiro. Lembram das pessoas da novela e acham que tem dinheiro igual. Olham pra ti e depois estipulam o preço. Cobram 500 meticais o que pode ser 50.

E no fim: Dona Sandra, eu falo tanto… Rádio me estragou. Meu chefe não gostava de colocar música. Ele dizia: “Eu contratei você para falar; para colocar música, saia da minha rádio, eu coloco um disco”. Fiquei assim.

E eu, fiquei assim:

NdlopfuNews

Ronga é uma das línguas locais mais faladas aqui no sul de Moçambique.

Ndlopfu é elefante em ronga. É… também enrolei a língua. Só que diferentemente de vocês, estava na frente de falantes do idioma, que riram muito do meu esforço.

Ndlopfu (pode falar só dôpfu, que já funciona) é elefante. Mbzana é cachorro. Mbuti é cabrito. Nguluve é porco. Huku é galinha. Homu é vaca.

Ronga é bem parecido com xangana (ou changana). Os nomes dos bichos, por exemplo, são iguais.

Aprendi tudo na escola. Uma das únicas do país que ensina em ronga. Ou em qualquer uma das 23 línguas faladas aqui além de português. Fica em Boane, caminho para a Suazilândia.

Para virar reportagem ainda falta finalizar a pesquisa. Por isso, ainda vai demorar alguns dias para minhas aulas de ronga irem parar na TV Brasil, na Agência Brasil e aqui.

E já que estamos falando tanto de petróleo…

Na Agência Brasil:

24/08/2010
Mais uma empresa recebe autorização para procurar petróleo em Moçambique

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – A empresa sul-africana Sasol vai pesquisar a possibilidade de extrair petróleo na Península de Sofala, em Moçambique. A autorização foi concedida nesta terça-feira (25), na reunião semanal do Conselho de Ministros do país. A concessão para pesquisa e prospecção vale por oito anos. Caso a Sasol a comprove a existência de petróleo, poderá explorá-lo por 30 anos. A companhia deve investir cerca de U$ 25 milhões nesta fase inicial de estudos.

A autorização foi concedida oito dias depois de outra empresa estrangeira, a norte-americana Anadarko Petroleum Corporation, anunciar a descoberta de petróleo na Bacia do Rio Rovuma, no Norte de Moçambique. O óleo está a mais de 5 mil metros de profundidade, o equivalente à camada pré-sal da costa brasileira.

Segundo a ministra de Recursos Minerais, Esperança Bias, ainda não foi confirmada a viabilidade comercial da descoberta. A expectativa é que os estudos complementares fiquem prontos ainda este ano. Mais três companhias fazem pesquisas petrolíferas em Moçambique: ENI de Itália, Petronas da Malásia e Statoil da Noruega.

Moçambique espera pelo petróleo

E então? Tem ou não tem petróleo? Foi o tema da semana por aqui.

Que tem, tem. A dúvida é se dá pra tirar do fundo do mar. A África do Sul já se decepcionou uma vez…

O assunto virou uma reportagem na TV Brasil, que você vê clicando aqui .

E uma outra na Agência Brasil, que você lê aí embaixo.

23/08/2010
Descoberta de petróleo em Moçambique enche o país de esperança e preocupação

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Uma semana depois do anúncio da descoberta de petróleo na costa de Moçambique, técnicos, economistas e pesquisadores aguardam mais informações para avaliar melhor o impacto que a notícia pode trazer ao país. O Ministério dos Recursos Minerais confirmou no último dia 17 que a empresa norte-americana Anadarko Petroleum Corporation detectou a existência de hidrocarbonetos na Bacia do Rio Rovuma. Segundo a ministra Esperança Bias, ainda não foi apurado se a descoberta tem viabilidade comercial. A expectativa é que os estudos complementares fiquem prontos ainda neste ano.

O engenheiro petroquímico moçambicano Inácio Bento ficará surpreso se a reserva não for comercialmente viável. Há alguns anos já se tem a informação da presença de gás na região. Se os estudos continuaram, diz ele, é porque a probabilidade de extração comercial de petróleo é grande. Mas ele lembra que a vizinha África do Sul já passou pela decepção de encontrar petróleo e não conseguir explorá-lo. “Levar esse petróleo do mar para a terra requer investimentos extraordinários. Se o petróleo for pouco, não vale a pena”, explicou o engenheiro.

O óleo está a mais de 5 mil metros de profundidade, equivalente à da camada do pré-sal na costa brasileira. Foi localizado a 30 quilômetros (km) da costa do Oceano Índico, na província de Cabo Delgado, que faz fronteira com a Tanzânia. A descoberta ocorreu na terceira perfuração feita pela empresa. No primeiro furo foi detectada, em maio, a presença de gás natural. Mais seis perfurações ainda devem ser feitas. A Anadarko Petroleum Corporation atua em Moçambique desde 2006 e já investiu US$ 300 milhões nas operações de prospecção.

Para o economista Carlos Nuno Castel-Branco, a estimativa é que as reservas, se comerciais, podem gerar entre U$ 300 e 360 bilhões. Em entrevista ao jornal O País, indagou quanto aos custos de prospecção, exploração e recuperação do meio ambiente. Sem esses levantamentos, disse ele, pouco se pode avaliar sobre os impactos na economia.

Impactos que não se restringem aos campos econômico e ecológico. “Em Angola, foi quase que devastador” lembrou a chefe do Departamento de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, a brasileira Nair Teles. Segundo ela, as consequências sociais e econômicas da descoberta de grandes reservas no início deste século em Angola foram “muito violentas”.

Angola hoje só perde para a Nigéria em produção de petróleo na África. O óleo responde por 90% das receitas de exportação. Mas a indústria petrolífera emprega somente 1% da mão de obra do país. Cerca de 60% da população ainda dependem da agricultura de subsistência.

Os ganhos do petróleo atraíram investidores, mas transformaram Luanda, capital angolana, em uma das cidades mais caras do mundo. Como a guerra civil acabou há menos de dez anos, as ofertas habitacionais e a infraestrutura ainda são restritas, o que eleva demais os custos de aluguel no centro e nos bairros próximos. Para reduzir o déficit habitacional, o governo de Angola lançou no ano passado um projeto para construir um milhão de casas até 2012.

Um termômetro do interesse crescente na região é o fluxo de imigrantes portugueses. Colônia lusitana até 1975, Angola sempre exportou mão de obra para Lisboa. Há três anos, o fluxo se inverteu. Já há quase três vezes mais portugueses vivendo em Angola (100 mil oficialmente) do que angolanos morando legalmente em Portugal (34 mil).

Nair Teles diz que Moçambique é diferente de Angola, mas os efeitos vividos lá servem de parâmetro para os problemas que podem surgir no país dela. “Acredito ser importante que, desde já, se pense em que tipo de desenvolvimento esse petróleo vai trazer e a quem vai beneficiar”. Ela sugeriu que a sociedade seja envolvida nas discussões sobre o dinheiro do petróleo. “É preciso esclarecer que o país não vai ficar rico no dia seguinte, nem que o nível econômico e social vai mudar de uma hora para outra.”

Edição: Vinicius Doria

Minas terrestres na TV Brasil

Clique aqui para ver como ficou na TV Brasil a reportagem sobre minas terrestres em Moçambique.

Ela foi ao ar neste sábado, 21 de agosto.

E clicando aqui você relê como o assunto foi publicado na Agência Brasil. Uma complementa bem a outra.

Nos ajuda a pensar um pouquinho antes de repetirmos coisas do tipo “vivemos uma guerra civil no Brasil, por causa da violência urbana”.

Não vivemos não. Um coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.

Ambos são graves. Matam gente. Mas são diferentes.