Greve em Maputo: amanhã de novo?

Acabo de ver SMS (Short Message Service – aha!) convocando paralisação/ protestos de novo para amanhã e sexta-feira aqui em Maputo.

É preciso ver se a) são das mesmas pessoas que convocaram a manifestação de hoje; e b) se o povo vai seguir de novo.

Como já disse mais cedo, noutro post, o que me impressionou foi o fato da greve não ter comando central conhecido. “Quem” convocou a greve foi o telefone celular.

Os dois moçambicanos que trabalham comigo moram na periferia e não conseguiram chegar em casa. Ficaram pelo centro da cidade.

Enquanto não começa o Repórter Brasil, veja aí embaixo um pouco das imagens da STV, aqui de Maputo, sobre o dia de hoje. Post da Dona Isaura Macedo Pinto, que gravou o que via na TV com a própria câmera.

Amanhã começamos cedo de novo. Boa noite.

Mais da greve em Maputo

Aprendi a usar o Twitter ( e descobri o quanto ele é poderoso como ferramenta informativa) há exatamente um ano. Estava na casa da minha mãe, em São Paulo, recém-operado.

Foi quando explodiu aquele quarteirão inteiro no ABC paulista, num incêndio que começou num depósito de fogos.

Sentado no computador, de pijama, tomando chá de doente, vi a primeira notícia… pus no Tuíte. Liguei o rádio, ouvi algo mais… pus no Tuíte.

E foi assim a tarde toda, disseminando informação e vendo o número de seguidores subir.

No princípio, os plantões da TV eram só locais pra São Paulo. A turma dos outros lugares não via nada e me mandava mensagem: “conta mais”. E eu fui contando -pra desespero da minha mãe e da minha mulher, que queriam me ver de repouso.

Tudo isso pra dizer que teria adorado ter passado o dia aqui, tuitando ou postando notícias sobre a greve e as manifestações que vi hoje aqui em Maputo.

Vi o interesse que isso despertou ao notar que minha mensagem inicial sobre o assunto teve quase mil acessos. Demais pra um blog que tem entre 100 e 200 leitores por dia (leia aqui e aqui).

Mas… eu precisava ir pra rua, ver de perto e depois contar pros leitores da Agência Brasil, ouvintes da Rádio Nacional e telespectadores da TV Brasil. Por mais que a turma queira nos depreciar, eles se contam em milhões…

É. Dessa vez eles ganharam de vocês. Aliás… por que você também não se junta a eles e acompanha meu trabalho nas emissoras públicas?

Por mais que digam que o dono delas é um só, o dono delas todas é você.

Abaixo, a atualização sobre a greve. A polícia confirmou o número de mortos.
À noite, no Repórter Brasil, você vê a reportagem na TV. Ela também vai estar aqui amanhã.

01/09/2010
Protestos em Moçambique contra alta de preços deixam quatro mortos e dezenas de feridos

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – A Polícia da República de Moçambique (PRM) confirmou que quatro pessoas morreram durante as manifestações desta quarta-feira (1º) em Maputo. A capital moçambicana praticamente parou por causa de uma série de protestos contra os aumentos dos preços do pão, da energia elétrica e da água.

Manifestantes fecharam o trânsito em várias regiões da cidade logo cedo. O transporte coletivo por vans – os chamados “chapa 100” – não funcionou. Milhares de pessoas tiveram que andar para tentar chegar ao trabalho, formando enormes filas ao longo das estradas onde poucos carros trafegavam. À tarde, o centro da cidade ficou deserto. Lojas e bancos fechados, ruas vazias, poucos carros, nenhum ônibus. As escolas mandaram as crianças de volta para casa. Segundo levantamento do jornal A Verdade, houve protestos em mais de 50 pontos da capital moçambicana.

A Embaixada do Brasil em Maputo suspendeu o expediente. E mandou uma mensagem aos brasileiros cadastrados recomendando “à comunidade brasileira evitar deslocamentos e circular pela cidade”. Também deixou um telefone de plantão (00 XX 258 82-283 53 30). Até agora não há informações de brasileiros feridos durante as manifestações.

Houve choque com a polícia em muitos dos bloqueios feitos nas avenidas da capital. Foram presas 142 pessoas. Pelas contas da PRM, 27 ficaram feridas. Mas, de acordo com a Cruz Vermelha, pelo menos 46 pessoas deram entrada com ferimentos somente no Hospital Central de Maputo. Dois são policiais.

Pelo menos oito veículos foram queimados, sendo três ônibus. Alguns carros que tentaram furar os bloqueios foram parados e incendiados pelos manifestantes. Um vagão de trem carregado de milho e 32 lojas foram saqueados. No Xiquelene, um dos maiores mercados populares da cidade, várias pessoas saíram carregando sacos amarelos de arroz e outras mercadorias. Na região do Triunfo, moradores fecharam a principal avenida do bairro com pedaços de cimento, troncos, cacos de vidro e pneus em chamas. Mesmo com muitas crianças nas pistas, a polícia tentou reprimir os protestos com bombas de gás lacrimogênio e tiros para o alto.

Segundo o porta-voz da PRM, Pedro Cossa, a polícia agiu com a firmeza que o momento pedia e usou somente balas de borracha. Mas várias pessoas deram entrada nos hospitais apresentando ferimentos que alegavam ser resultantes de disparos.

A Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM) descartou qualquer envolvimento na organização dos protestos. Desde domingo, mensagens circulam nos telefones celulares convocando os moçambicanos para as paralisações. “Prepara-te para a greve geral”, diz o texto, que não tem assinatura e reclama do “preço do pão, da água e da luz”. E termina com um comando: “Desperte”.

O salário mínimo moçambicano é de cerca de R$ 120. Mas um grande número de jovens sobrevive na informalidade. Os ambulantes lotam as calçadas de Maputo, vendendo de chinelos e adaptadores de tomadas a artesanato e créditos de telefone celular.

O presidente de Moçambique, Armando Guebuza, fez um pronunciamento na televisão no início da noite. Lamentou as mortes e as depredações, que chamou de “vandalismo e destruição”. “Nossos compatriotas que são usados nesta agitação estão a contribuir para trazer luto e agravar as condições de vida dos nossos concidadãos”.

Guebuza disse que fatores externos pressionam a economia do país, mas que foram tomadas medidas para combatê-los, como os subsídios ao combustíveis e ao trigo. Afirmou que governo está implementando o plano para aumentar a produção de alimentos e intensificar a luta contra pobreza que, segundo ele, já trouxe progressos. “É participando na implementação deste programa, e não se opondo ou destruindo seu resultado, que melhoraremos nossas condições de vida”, afirmou o presidente, que encerrou o pronunciamento com um pedido à população para que tenha calma, além de “dissuadir os ingênuos, manter a vigilância e alertar as autoridades contra o que pode vir a atentar a ordem.”

Edição: Vinicius Doria

Greve em Maputo. E violência na rua

Saí para gravar sobre as manifestações. Encontrei vários bloqueios, mas as pessoas sempre nos deixaram passar por ser da imprensa.

Mas soube de carros que tentaram furar os bloqueios e foram queimados.

Estava no bairro do Triunfo e vi a polícia dispersar os manifestantes com bombas de gás e tiros para o alto. A pista estava bloqueada com paus, pedras e pneus em chamas. Ali não houve feridos.

Também vi gente saindo de Xiquelene, um mercado muito popular e muito famoso, carrengando sacos de arroz e outros produtos saqueados.

O que mais chama atenção (minha, que fique claro) é o fato da manifestação ter sido organizada por SMS. E rápido – as mensagens circularam por dois dias.

Vi algumas. Não há remetente.

Mas as rádios falam em violência. E mortes. A polícia não confirmou oficialmente nada.

Há pouco, entrei na Rádio Nacional e TV Brasil por telefone. E a Agência Brasil publicou uma reportagem, que está aí embaixo.

01/09/2010
Maputo decreta feriado por causa de protestos contra aumento de preços

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – A capital moçambicana vive um feriado forçado hoje (1º) por causa de uma série de protestos contra os aumentos nos preços do pão, da energia elétrica e da água.

Manifestantes fecharam o trânsito em várias regiões da cidade nesta manhã. Alguns carros que tentaram ultrapassar os bloqueios foram queimados. O transporte coletivo por vans – o chamado chapa 100 – não funcionou desde cedo. Milhares de pessoas deslocavam-se a pé para tentar chegar ao trabalho.

Houve saques em lojas no centro da cidade e em mercados na periferia. No Xiquelene, um dos maiores mercados populares da cidade, várias pessoas saíram carregando sacos de arroz ou outras mercadorias saqueadas.

As escolas suspenderam aulas e as autoridades pediram à população que voltasse para casa.

Na região do Triunfo, moradores fecharam a principal avenida do bairro com pedaços de cimento, troncos, cacos de vidro e pneus queimados. Mesmo com muitas crianças na pista, a polícia reprimiu o protesto com bombas de gás lacrimogênio e tiros para o alto.

A mobilização foi convocada por mensagens enviadas por telefone celular. Segundo a polícia, não havia registro de oficial de realização de manifestação popular ou greve para hoje.

Greve em Maputo?

Ouvi na Antena Nacional e li nO País (primeiro pública, segundo privado) que a polícia não “recebeu nenhum pedido de manifestação popular” para hoje aqui em Maputo.

Mas a cidade está visivelmente mais policiada. E já teve bloqueio em Benfica, Xiquelene e Chopal.

Tem pouco chapa (vans) circulando por Mahotas. Já recebi telefonema de gente que voltou pra casa depois de esperar por transporte desde cedo, sem sucesso.

A preocupação é que se reedite 2008: os chapas fizeram uma manifestação que convulsionou a cidade.

Na manchete dO País, o motivo da agitação: Água e luz com novos preços a partir de hoje em todo país”.

Enquanto isso, no vizinho África do Sul, a greve dos servidores públicos pode terminar hoje, depois de 3 semanas.

A marcha dos curandeiros

Reportagem da TV Brasil. Veja clicando aqui.

Caso você queria mais detalhes (o horário eleitoral comeu um tempão do telejornal…), leia também a versão que saiu na Agência Brasil, clicando aqui.