Greve em Maputo: coleguinhas ilhados

Minha solidariedade com os coleguinhas aqui de Maputo que se preparam para passar a segunda noite seguida na redação.

Muitos vão de “chapa” – as vans – e não conseguiram voltar para casa nem ontem nem hoje. Afinal, elas não estão circulando.

Quem tem carro tem receio de passar pelo piquetes, pois vários foram queimados. E os bloqueios surgem muito rápido.

Sem contar que os postos de combustíveis estão fechados há 2 dias – não se pode reabastecer.

Hotéis? Todos lotados por causa da FACIM. Comida? Os restaurantes, bares e supermercados estão fechados porque os funcionários e as mercadorias não conseguem chegar.

Todas as TVs modificaram a programação para abrir espaço para os distúrbios sociais. Neste instante tem um debate ao vivo na TVM. A turma está trabalhando muito, preocupada com a família que ficou em casa.

Nosso carro tem uma imensa marca “TV Brasil”, imantada, em cada porta. Ajudou a nos proteger e, literalmente, quebrou os bloqueios durante os protestos.

Conosco está tudo bem.

Vamos ver como a cidade passa a noite. Vai acalmando de hora a hora. Pelo menos é o que parece.

Greve em Maputo: últimas do 2o dia.

Como publicado pela Agência Brasil, depois da reunião do Conselho de Ministros.

A população queria que o governo recuasse. Poderia avançar, anunciando algo novo. Mas só pediu às pessoas que trabalhem.

02/09/2010
Sobe para sete o número de mortos em Maputo após protestos contra alta de preços

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Subiu para sete o número oficial de mortos desde que começaram a manifestações contra o aumento no custo de vida em Moçambique. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Conselho de Ministros, Alberto Nkutmula, depois de uma reunião extraordinária realizada nesta quinta-feira (2).

Segundo ele, o governo não pretende rever os aumentos de tarifas e preços previstos para este mês. Não houve anúncio de nenhuma nova medida. “Estamos em um barco em que não há passageiros ou comandantes. Se o barco está a afundar, temos todos que retirar água, e não ficar de braços cruzados”, disse o porta-voz. “O trabalho árduo é que vai nos tirar, todos, dessa situação.”

Para tentar evitar a repetição dos protestos que paralisaram a cidade ontem (1°), autoridades da área de segurança ocuparam boa parte da periferia hoje (2) usando carros cheios de policiais, com bombas de efeito moral e armas à mostra. Em grandes avenidas, como a Acordos de Lusaka e a Joaquim Chissano, praticamente só circulavam os carros da tropa de choque.

Tratores limparam as avenidas, retirando os restos de construção, tocos de árvores e pneus queimados que serviram para fazer barricadas no dia anterior. Alguns montes de entulho ainda queimavam.

Mesmo assim, manifestantes voltaram a queimar pneus e tentaram fazer bloqueios em alguns pontos, sem o mesmo efeito do primeiro dia – até porque o movimento nas ruas era muito pequeno. “Pela Constituição, o povo moçambicano tem direito de se manifestar. O que não é livre é o ato de vandalismo e a destruição de bens públicos ou privados”, disse o porta-voz.

Ao circular pelo bairro de Maxaquene, a equipe da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) presenciou a ação da polícia, que dispersou um grupo de pessoas que se aglomerava em uma esquina com disparos de cima do caminhão. Não havia barricadas ou bloqueios por perto nem houve aviso. Ninguém se feriu, mas o susto foi grande.

O número oficial de feridos desde o início dos protestos também subiu, para 288. Pelo levantamento da polícia, foram 12 carros queimados e dois postos de gasolina incendiados.

Pelo segundo dia seguido, o comércio da capital de Moçambique não funcionou, bem como o transporte coletivo de massa, as vans – chamadas de chapa 100. As escolas e os bancos também permaneceram fechados, bem como a Feira Internacional de Moçambique (Facim), que vai até domingo (5). Pelas contas do governo, os prejuízos em moeda nacional (meticais) com os dois dias de feriado forçado chegam a MT 122 milhões (cerca de R$ 5,8 milhões).

Os protestos, sem um comando conhecido, foram convocados por mensagens enviadas para os telefones celulares. Depois do primeiro dia de protestos, algumas pessoas circulavam felicitando a população pela “greve” e informando que ela deve continuar até sexta-feira (3).

Edição: Juliana Andrade

Greve em Maputo – 2o dia, com mais polícia na rua

Acabo de voltar da rua, para mandar meus relatos para Rádio Nacional, TV Brasil e Agência Brasil.

Parte da periferia – aliás nem tão periférica assim – está tomada pela polícia.

Circulei por Maxaquene e na rua não tinha movimento. Só da polícia, de armas na mão.

O clima não é irrespirável, mas há tensão no ar. Os restos dos bloqueios estão nas pistas ainda. A população não se conforma com os aumentos dos preços.

O Conselho de Ministros vai se pronunciar daqui a pouco. Vamos ver.

Aí abaixo, a reportagem que mandei agora de manhã para a Agência Brasil.

02/09/2010
Polícia ocupa parte da periferia de Maputo para tentar conter manifestações

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – A polícia de Moçambique ocupou parte da periferia de Maputo para tentar evitar a repetição das manifestações que paralisaram a cidade ontem (1º). Caminhões com bancos externos carregam policiais armados e bombas de gás lacrimogênio pelas avenidas da região de Maxaquene. Eles também apitam e disparam balas de borracha para dispersar grupos de pessoas que se aglomeram nas vielas e esquinas.

“Não queremos balas, queremos pão”, gritou uma senhora que não quis se identificar, enquanto caminhava pela avenida vazia.

Mesmo com todo o aparato, uma geladeira queimava, soltando fumaça preta, no meio da Avenida Joaquim Chissano. Ela não impedia a passagem dos carros. Havia sido posta ali por manifestantes, que voltaram a reclamar da alta do custo de vida, principalmente da água, luz e pão, cujos novos preços passaram a vigorar em setembro.

Mais uma vez não há transporte público. As vans – conhecidas como chapas 100 – não circularam de manhã. Os ônibus – os maximbombos – são poucos e vários foram danificados durante os protestos de ontem. Não há bloqueios nas pistas.

As escolas suspenderam as aulas mais uma vez. Como ontem, muita gente tenta chegar ao trabalho caminhando longas distâncias. O comércio teve dificuldades de abrir as portas e muitos estabelecimentos seguem fechados. Havia filas nas padarias, pois nem todas estavam abertas.

Fora os da polícia, poucos veículos circulavam pela Avenida Acordos de Lusaka. Nas calçadas, restos de pneus queimados ainda soltavam fumaça. A fuligem e os cacos de vidro estão espalhadas pelo asfalto. Perto dali, uma escavadeira recolhia restos de construção que foram usados ontem para bloquear a pista, durante as manifestações que deixaram quatro mortos, de acordo com a Polícia da República de Moçambique (PRM).

Tiros eram ouvidos agora de manhã e, segundo os moradores, também durante a madrugada. Falando à TV pública local, o porta-voz da PRM, Pedro Cossa, afirmou que foram casos isolados. Cossa também disse que a polícia “agiu com os meios que tem” para desobstruir as ruas. “Não somos a polícia francesa, ou a brasileira”. Ele reiterou que foram usadas balas de borracha.

Nessa quarta-feira (1º), barricadas impossibilitaram a passagem dos carros por várias avenidas de Maputo. Alguns foram incendiados. Lojas e bancos ficaram fechados. Houve saques nos mercados. Nem sequer os voos partiram do aeroporto. A Feira Internacional de Moçambique (Facim) não abriu ontem.

Houve choques com a polícia em muitos bloqueios, que resultaram na prisão de 142 pessoas. Pelas contas da PRM, 27 ficaram feridas. Mas, de acordo com a Cruz Vermelha, pelo menos 46 pessoas deram entrada com ferimentos somente no Hospital Central de Maputo.

Os protestos, sem um comando conhecido, foram convocados por mensagens enviadas para os telefones celulares. Ontem à noite, algumas circulavam felicitando a população pela greve e informando que ela deve seguir até amanhã (3).

Greve de Maputo, segundo dia

Agora, sete da manhã.

No Jardim, gente caminhando pela avenida Joaquim Chissano. Ali, não há transporte de novo. Pontos de chapa estão cheios. Mas não há manifestações. E há muita polícia na rua.

Na Avenida Wladimir Lenin, tranquilidade agora. Segundo moradores, houve alguns disparos à noite. Algumas vias ainda estão bloqueadas na região.

Na Avenida Acordos de Lusaka – ponto dos mais tensos ontem – rua vazia. Só restos dos pneus queimados. Na N1 – Avenida de Moçambique – também.

A STV está ao vivo nas ruas. Vamos acompanhar.

E sair daqui a pouco.

Clique aqui para ver como mostramos as manifestações de ontem (dia 1o) na TV Brasil.