Greve em Maputo – últimas do 3o dia

Reportagem publicada há pouco na Agência Brasil.

Espero que seja a última da semana sobre o tema. E que os ânimos se acalmem.

03/09/2010
A vida em Moçambique começa a voltar ao normal depois de dois dias de protestos contra carestia

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Depois de dois dias de manifestações contra o aumento do custo de vida e confrontos com a polícia, a sexta-feira foi de relativa calma na capital de Moçambique, Maputo. Os poucos focos de manifestações não voltaram a interromper a rotina da cidade, que vai sendo retomada aos poucos. O transporte coletivo está funcionando parcialmente. Pela manhã, os ônibus, chamados de “maximbombos”, circulavam com regularidade. Mas a grande maioria da população utiliza as vans, conhecidas como “chapa 100”. Estas demoraram mais para reaparecer.

Os bancos reabriram depois de praticamente 48 horas fechados. O comércio e os restaurantes também levantaram as portas, muito embora com falta de pessoal. Na região conhecida como Baixa (centro de Maputo), várias lojas fecharam logo depois do almoço porque mensagens de SMS (Short Message Service) circulavam pelos telefones celulares avisando que a greve seria retomada à tarde.

Com menos gente nas ruas do que o habitual, os carros circularam com facilidade durante todo o dia. Na estrada que liga Maputo à vizinha Matola, policiais armados faziam a vigilância do posto de pedágio e ocupavam vários pontos do acostamento. Diferentemente dos dois últimos dias, hoje não houve bloqueios na pista. Restos de pneus queimados deixavam o asfalto mais escuro em vários trechos.

Na cidade de Chimoio, no centro do país, houve bloqueios em algumas avenidas e enfrentamento entre manifestantes e a polícia. De acordo com a agência Lusa, de Portugal, seis pessoas foram hospitalizados.

A Feira Internacional de Moçambique (Facim) também reabriu para o público hoje (3). Por causa da paralisação de dois dias, a feira foi estendida até terça-feira (7). O movimento era pequeno nos corredores no início da tarde, mas cresceu no fim do dia. “Nem tudo está perdido”, diz o organizador do espaço brasileiro na Facim, Marco Audrá. “Os expositores brasileiros estão acostumados a feiras de apenas três dias. Ainda dá para recuperar terreno”.

Segundo ele, algumas das 60 empresas brasileiras que estão aqui chegaram a fazer negócios mesmo com a exposição fechada, porque os entendimentos começaram antes da feira. No almoço organizado para empresários brasileiros e moçambicanos, ontem, somente nove dos 80 lugares ficaram vazios. “Tive que remarcar uma reunião que deveria ter sido na quarta-feira, mas acho que vai dar certo”, torcia Mauro Fernandes, representante da KJR, empresa paulista que produz ferramentas e conectores elétricos.

Mas nem todos estavam animados. “Para nós foi ruim mesmo. Esperávamos compradores que viriam da Beira [cidade no centro de Moçambique], mas eles não conseguiram chegar”, reclamou João Faro, da fábrica de móveis para cozinha Poquema, de Arapongas (PR). “Os distúrbios atrapalharam muito os meus negócios”.

Edição: Vinicius Doria

Greve em Maputo – fim da tarde do 3o dia

São 18 horas e acabo de voltar da rua com tranquilidade. Fui até a Matola. Muita polícia na estrada e no pedágio – aqui chamado de portagem.

Havia restos de bloqueios – pneus queimados principalmente – em todo o trajeto. Mas pareciam ser de ontem.

Parte do comércio abriu de manhã e não trabalhou depois do almoço. Chapas (as vans) estavam na rua em número menor que o habitual. Mas, ao menos, algumas estavam por aí.

Conheço gente – vários – que finalmente acham que vão pra casa hoje, depois de três dias e duas noites sem ver os filhos ou dormir na própria cama.

Gente que, aliás, ouviu no chapa quem colocasse em dúvida a validade da greve. Houve bate-boca quando o assunto surgiu, porque também tinha quem achasse que devia era continuar.

A FRELIMO faria uma marcha para limpar as ruas de Hulene, mas acabou não precisando.

O partido do governo reuniu cabeças coroadas hoje.

Vamos ver.

Greve em Maputo: chapas voltam aos poucos

Alguns já circulam. Bem menos que o habitual, é verdade. Mas começam a voltar

“Chapas 100” são as vans de Maputo. Único jeito de chegar ao trabalho para imensa maioria.

Recebem o interessantísimo nome oficial de “semi-coletivos”.

Acabo de saber que a FRELIMO, partido do governo, organiza uma marcha para hoje. Também vai promover a limpeza das ruas.

Vamos acompanhar.

Detalhes mais tarde – aqui, na Rádio Nacional, TV Brasil, e Agência Brasil.

Segundo dia de greve em Maputo na TV Brasil

Reportagem que foi ao ar no Repóter Brasil da quinta-feira, segundo dia de manifestações.

Clique aqui para ver.

Repare como, no meio da reportagem, a polícia dispara e a turma que estava comigo se assusta.

Os tiros, aparentemente de balas de borracha, foram para dispersar um outro grupo que estava na esquina, metros atrás, próximo à delegacia.

Mas as imagens também mostram armas de grosso calibre na mão da polícia.

Segundo o porta-voz, só as de borracha estão sendo usadas nas manifestações.

Greve em Maputo: 3o dia

SMS que circulou de madrugada pedia às pessoas para trabalhar hoje de manhã e voltar a parar à tarde.

Como muitos dos manifestantes são comerciantes informais, eles próprios acabam sofrendo se a vida parar por muito tempo. A féria de um dia pode ser a diferença entre comer ou não.

No Jardim, não há manifestações ou bloqueios. No mercado de Malanga, o comércio reabriu. Em João Mateus, na Matola, também.

Mas os “chapas” – as vans – não voltaram. Tem ônibus (“maximbombos”) circulando, mas eles são poucos. Quem quer trabalhar vai a pé.