A história foi ao ar no Repórter Brasil. Você assiste à reportagem clicando aqui.
E clicando aqui você lê como o mesmo assunto foi retratado na Agência Brasil.
A história foi ao ar no Repórter Brasil. Você assiste à reportagem clicando aqui.
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Os especialistas com os quais tenho conversado/lido a respeito simplesmente não acreditam na realização da votação na data marcada.
Mas o posicionamento do líder do sul tem sido firme. Até porque, se não for assim, a tampa da panela voa mesmo.
Vou acompanhar com cuidado.
29/10/2010
Fazer consulta sobre futuro do Sudão no prazo será milagre, diz chefe da comissão
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo – O chefe da comissão que organiza a consulta popular sobre o futuro do Sudão, Mohamed Ibrahim Khalil, disse que realizar o processo no prazo será um “milagre” que, no entanto, ainda pode acontecer.
A votação, marcada para o dia 9 de janeiro do ano que vem, irá definir se o Sudão, país de maior extensão territorial da África, continuará com as mesmas fronteiras. A consulta é uma exigência da Região Sul do país, rica em petróleo, que quer a independência. Faz parte do acordo de paz, fechado em 2005, que pôs fim a uma guerra civil de 23 anos, que matou mais de 1,5 milhão de sudaneses.
Khalil fez a afirmação aos jornalistas em Cartum, capital sudanesa, logo depois de anunciar a nova data para o início do recadastramento eleitoral: 15 de novembro, um dia depois do anteriormente previsto, por causa de um atraso na entrega do material. O registro dos eleitores poderá ser feito durante três semanas. A campanha está marcada para começar em 7 de dezembro.
Segundo o chefe da Comissão Eleitoral, o tempo é muito curto e os obstáculos começam a aumentar por causa da falta de recursos. O grupo espera mais apoio das entidades multilaterais. Até agora, não houve doações significativas. É necessária a contratação de mais de 10 mil pessoas para o registro de eleitores e para o trabalho no dia da votação. O custo total estimado supera os US$ 370 milhões (R$ 630 milhões).
Representantes das correntes políticas do Sul e do Norte voltaram a se reunir para discutir o andamento do processo. O líder sulista Salva Kiir reiterou que não vai abrir mão de fazer a consulta popular no dia marcado, mesmo se houver pedido de outros países.
A pressão no Sul do Sudão é grande, e a violência poderia voltar caso houvesse um adiamento.
Edição: Graça Adjuto
Neste continente de muita fome, muitas riquezas e democracias muito jovens, os focos de tensão – ahá – também são muitos.
No caso aqui, não deve passar disso. Mas convém ficar atento.
Abaixo, reportagem da Agência Brasil
28/10/2010
Projeto de hidrovia é o mais novo foco de tensão entre os vizinhos Moçambique e Malaui
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo (Moçambique) – Personagens de um relacionamento historicamente delicado no Continente Africano, Moçambique e Malaui voltaram a trocar acusações nos últimos dias. O motivo foi a interceptação de um barco carregado com fertilizantes, que era esperado para a inauguração do porto malauiano de Nsanje, no Rio Chire, no último sábado (23). O porto é considerado por Malaui como primeiro passo para criar um corredor fluvial até o Oceano Índico. O país não tem saída para o mar e as mercadorias precisam, necessariamente, passar pelo Rio Zambeze, em território moçambicano.
O barco foi parado no Rio Zambeze, na região de Marromeu. O adido militar do Malaui, que estava a bordo, foi detido por 24 horas. Segundo o governo de Moçambique, o barco não tinha autorização para seguir viagem, pois o trecho ainda não é considerado navegável. Há 50 anos não há transporte comercial por ali. “Compreendemos a impaciência do Malaui, mas não podemos saltar etapas”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Oldemiro Baloi. “Achamos que o projeto não deve ser forçado a avançar sem os devidos estudos de viabilidade”.
Moçambique alega que as obras no Rio Chire podem impactar negativamente a Bacia do Zambeze, razão da necessidade prévia de um detalhado estudo de impacto ambiental, que está em andamento. Balói definiu como “repudiável” o fato de o governo do Malaui inaugurar o porto antes do fim dessa avaliação.
O alto comissário (denominação dos países da Commonwelth para o cargo equivalente ao de embaixador) do Malaui em Moçambique, Martin Kansichi, considerou as palavras de Baloi uma “provocação”. “Existem documentos que comprovam que existe um acordo que prevê a realização de uma viagem experimental”, disse o diplomata. “O processo começou em janeiro e acredito que o Malaui foi suficientemente paciente, além de ter seguido todos os procedimentos e declarações necessárias”. Moçambique confirma ter recebido os pedidos, mas afirma não ter dado a autorização definitiva.
O projeto de navegabilidade dos rios Chire e Zambeze começou a ser discutido em 2005, a partir de sugestão do Malaui. Um estudo de viabilidade foi feito no ano seguinte, mas considerado inconclusivo pelas autoridades moçambicanas. Em 2007, foi criado um comitê técnico entre Malaui, Moçambique e Zâmbia (também beneficiada pelas obras), que abriu, um ano depois, edital internacional para elaboração do estudo, ganho pela única concorrente inscrita. Em outubro de 2009, Moçambique acusou a empresa de não cumprir o contrato, que acabou suspenso.
O episódio do barco de fertilizantes ocorre vinte dias depois de o Malaui ter lançado uma licitação internacional para construção de um oleoduto ligando o distrito de Nsanje ao Porto da Beira, em território moçambicano. De acordo com o ministro de Energia, Salvador Namburete, citado pelo jornal estatal Noticias, Moçambique estava “totalmente aberto” ao projeto, mas, até aquele momento, “não tinha recebido qualquer comunicação oficial sobre o assunto”.
Atualmente, todo petróleo comprado pelo Malaui entra no país de caminhão, a partir dos portos da Beira e de Nacala, em Moçambique, e de Dar-es-Salam, na Tanzânia. Com a via fluvial direta para o mar, o transporte ficará mais barato para Malaui, porque não vai precisar pagar taxas aos portos moçambicanos.
O Malaui, ex-colônia britânica, tem boa parte do território cercada por duas províncias moçambicanas: Tete e Niassa. Também faz fronteira com a Zâmbia e a Tanzânia. Foi o primeiro país a tornar-se independente no Commonwelth, em 1964. Conhecido pelo grande Lago Niassa, o nono maior do mundo, Malaui tem 80% da população vivendo em áreas rurais, sendo 53% abaixo da linha da pobreza, de acordo com dados de 2004.
No poder desde 2004, o presidente Bingu Wa Mutharika luta sem grande vitórias contra a oposição que controla o parlamento malauiano. A economia depende basicamente da exportação de tabaco e de ajudas internacionais. Sofre com falta de energia e água, altos índices de corrupção, pobre infraestrutura de telecomunicações e alto custo dos serviços. As relações entre os vizinhos são cordiais, mas tensas há muito tempo.
“Malaui sempre esteve do lado que Moçambique considera o lado errado das coisas”, analisa o professor Antonio Gaspar, do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique. “Não ajudou na guerra colonial com Portugal e, depois da independência, apoiou a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, grupo guerrilheiro da década de 1980 e hoje o maior partido de oposição ao governo de Armando Guebuza). Um mês antes de morrer [em 1986], o presidente moçambicano Samora Machel chegou a ameaçar instalar mísseis apontados para lá”.
Segundo o especialista, a tensão baixou depois do fim da guerra civil, há 16 anos. Gaspar aposta no “esfriamento” das relações bilaterais. “Esfriamento significa que o relacionamento fica, sim, afetado. Mas acredito que a maturidade diplomática dos dois lados vai trazer os pontos divergentes para a mesa, para negociar e ver onde está mal. Afinal, um precisa do outro”.
Edição: Vinicius Doria
Demorou. Mas veio.
27/10/2010
Chega a Moçambique máquina brasileira da primeira fábrica de remédios contra Aids do país
Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África
Maputo (Moçambique) – Depois de quase sete anos de expectativa, chegou hoje (27) a Moçambique a primeira máquina da fábrica de remédios de combate à aids do país, que está sendo montada com auxílio do Brasil. O equipamento, uma emblistadeira, foi trazido do Rio de Janeiro para Maputo em um avião Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB).
A máquina serve para moldar e embalar comprimidos. Foi levada para o local definitivo, um galpão na cidade vizinha da Matola, onde hoje já opera uma fábrica de soro fisiológico e glicose do governo moçambicano.
“Os técnicos começam o treinamento já nos próximos dias. Eles vão aprender a montar um equipamento deste porte, bem como utilizar o maquinário depois”, disse a coordenadora do projeto, a brasileira Lícia de Oliveira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela acompanhou a chegada da máquina na pista do aeroporto, junto com representantes da embaixada brasileira, três técnicos e o futuro diretor da fábrica, o também brasileiro Roberto Castrignani.
A Fiocruz será responsável pela gestão técnica da planta, a primeira pública a produzir antirretrovirais na África. Laboratórios privados produzem remédios anti-aids em pequena escala em Uganda, no Quênia e na África do Sul.
Além da emblistadeira, outras máquinas virão do Brasil. “Essa foi emprestada pela Fiocruz. As definitivas já foram compradas e chegam a partir de março do ano que vem”, explicou Lícia. Também foram encomendados diversos equipamentos para fabricação, controle de qualidade e armazenamento de remédios.
A fábrica de antirretrovirais é um desejo antigo de Moçambique. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, em 2003, a intenção de ajudar o projeto, durante a primeira visita dele a Moçambique. O Congresso brasileiro liberou a verba em dezembro do ano passado (R$ 13,6 milhões). Na nova visita que fará a Moçambique no mês que vem, entre os dias 9 e 10, o presidente Lula deve visitar o local onde a fábrica vai funcionar.
Moçambique é um dos dez países mais afetados pela aids no mundo, com índice de prevalência de 11,5% (no Brasil, por exemplo, é de 0,5%). Tem 1,5 milhão de infectados em uma população de 22 milhões de pessoas. Diariamente, 85 crianças nascem com o vírus HIV no país. Segundo o escritório local do Programa das Nações Unidas para HIV-aids (Unaids), 200 mil moçambicanos são tratados com antirretrovirais. Bem mais que os 6 mil registrados em 2005, mas longe do necessário.
Em setembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros informou, em reunião das Nações Unidas sobre as Metas do Milênio, que, mesmo com o avanço, o país não conseguirá atingir seu objetivo no combate ao HIV. “Menos custo vai significar mais gente sendo atendida, porque teremos verba para comprar mais medicamentos, pagar mais médicos. É um ganho imenso”, relativizou o porta-voz do Ministério da Saúde moçambicano, Leonardo Chavane.
Além de antirretrovirais, a fábrica vai produzir medicamentos para combater a tuberculose e a malária. O prazo para o início das atividades depende, além da chegada dos equipamentos, do fim das obras de adequação do prédio.
Edição: Vinicius Doria
Duas reportagens da Agência Brasil. Uma daqui, sobre particularidades africanas. Abaixo, outra pra ajudá-lo, caso você tenha dúvida sobre o segundo turno.
26/10/2010
Distância das sessões eleitorais atrapalha o eleitor que vive no exterior
Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África
Maputo (Moçambique) – Como no primeiro turno, milhares de brasileiros que vivem no exterior preparam-se para votar e centenas para auxiliar no segundo turno das eleições presidenciais, no próximo dia 31. “Como o processo é o mesmo, é mais fácil: instalação das urnas no sábado, trabalho no domingo”, disse Irene de Souza, que preside a mesa eleitoral em Maputo, capital moçambicana.
Mas ela crê que o trabalho será maior dessa vez. “Espero por uma maior procura”. Irene de Souza lembra que, no primeiro turno, a segunda-feira imediatamente posterior foi feriado prolongado em Moçambique (Dia da Paz, que marca o fim da guerra civil em 1992). Além disso, acredita, o segundo turno chama mais atenção. “É mais decisivo. A gente sente que faz mais diferença quando se diminui o escopo da escolha”.
Mais da metade dos brasileiros aptos a votar abstiveram-se no primeiro turno. De 200.043 inscritos em seções eleitorais do exterior, 88.977 compareceram e 111.066 não votaram. Em países de grande extensão territorial – caso de Moçambique – a distância pode ser um grande obstáculo para o eleitor. Mesas eleitorais só são abertas onde há uma concentração mínima de inscritos. Quem mora longe de Maputo e realmente quiser votar, precisará viajar à capital.
O país tem 463 eleitores brasileiros cadastrados, segundo maior contingente na África, atrás apenas da África do Sul, com 476. No primeiro turno, 251 não votaram. Muitos moram no interior, em missões religiosas ou em grandes projetos, como a mina de carvão da Vale, que está sendo montada pela também brasileira Odebrecht na província de Tete, a mais de 1,5 mil quilômetros de Maputo. A capital moçambicana é uma das 126 cidades fora do Brasil onde serão instaladas as 94 sessões de votação para residentes no exterior.
O eleitor que não votou no primeiro turno pode votar normalmente no segundo. Já quem não votar no domingo, ou não tiver votado no dia 3 de outubro, precisa justificar a ausência à Justiça Eleitoral. Deve procurar as representações diplomáticas brasileiras ou, no caso de quem não transferiu o título para o exterior, ir ao cartório eleitoral ao voltar para o Brasil.
26/10/2010
Eleitores que não votaram no primeiro turno podem votar no próximo domingo
Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Todos os eleitores, mesmo os que não votaram no primeiro turno, podem votar no próximo domingo (31). A regra vale inclusive para quem não justificou a ausência no dia 3 de outubro, pois o prazo para apresentar os motivos para a Justiça Eleitoral é até dia 3 de dezembro.
No primeiro turno, 24,6 milhões de pessoas não votaram e devem justificar o não comparecimento nas urnas. A ausência em cada turno da eleição deve ser justificada individualmente e a pessoa que não votar em três eleições consecutivas, não justificar a ausência e não quitar a multa devida terá sua inscrição cancelada e poderá ser excluída do cadastro de eleitores.
O eleitor que não estiver com a sua situação regularizada na Justiça Eleitoral não pode obter passaporte ou carteira de identidade; receber vencimentos, caso seja servidor público; inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública; e renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo.
Só poderão votar em trânsito no segundo turno os eleitores que fizeram registro na Justiça Eleitoral entre os dias 15 de julho e 15 de agosto. O voto em trânsito só pode ser feito nas 26 capitais e no Distrito Federal e para o cargo de presidente.
É um assunto inescapável. Infelizmente vou voltar muitas vezes a ele.
25/10/2010
Retirada de minas terrestres viabiliza investimentos em infraestrutura na África
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo (Moçambique) – A retirada das minas terrestres de uma área de 15 mil hectares (ha), próxima à fronteira da Namíbia com Angola vai tornar possível uma nova ligação elétrica entre os dois países. A instalação da rede de transmissão entre Onuno, na Namíbia, e Ondjiva, em Angola, depende agora da expedição de um certificado que ateste que a área está livre de minas.
Segundo a Empresa Nacional de Eletricidade, de Angola, resta apenas sair o aval para uso de um trecho de dez quilômetros, em território angolano, entre Namacunde e Santa Clara. De acordo com a agência Angoop, o documento deve ser expedido em 15 dias, pela Comissão Nacional Inter-Sectorial de Desminagem e Assistência Humanitária. A fiscalização já foi concluída.
As várias guerras civis no continente deixaram como herança milhares minas terrestres em muitos países africanos. As bombas continuam sendo uma ameaça, mesmo anos depois da chegada da paz. Só no lado angolano da fronteira com a Namíbia, 815 artefatos explosivos foram localizados e desarmados entre janeiro e setembro. No começo de outubro, mais de 500 explosivos não detonados foram destruídos na região sul da província de Cunene.
Na Argélia, no Norte da África, mais de 10 mil minas do período colonial foram encontradas em setembro. Um campo minado foi localizado à volta de uma velha linha de transmissão de energia que unia o país à Tunísia, nas proximidades da cidade de Bir El-Ater. Desde a independência da França, em 1962, a Argélia já desarmou e destruiu mais de 500 mil minas só do tipo antipessoais.
Em Moçambique, oito pessoas morreram em explosões de minas no primeiro semestre deste ano. A desminagem começou um ano depois do fim da guerra civil, em 1992 e, segundo o Departamento de Estudos e Planificação do Instituto Nacional de Desminagem, deve estar concluída em 2014. Nos primeiros anos do processo, os acidentes chegavam a 300 por ano. Hoje, não chegam a 20.
A Agência Brasil acompanhou a desminagem de uma área no sul de Moçambique em agosto deste ano (clique aqui, para rever e reler as reportagens).
A desminagem é naturalmente lenta. O processo começa com a captação de informações nas comunidades, para delimitação do espaço a ser limpo. As áreas indicadas pela população são cercadas e limitadas por estacas. Metro a metro, desminadores vasculham o chão, munidos de sapadores (uma espécie de detector de metais), equipamento de proteção pessoal e muita paciência. O país ainda tem que desminar praticamente toda a fronteira Oeste, na divisa com o Zimbábue, de cerca de 2 mil quilômetros de extensão.
Pra mim, tão difícil de entender quanto grego. Na hora de falar, tem sons sibilantes (quase uns assobios) que não costumamos usar no português.
Mas chego lá. Já sei ser educado – agradecer, dizer bom dia-boa tarde-boa noite e até logo.
Como é muito parecido com o ronga, considero que já domino princípios de civilidade em dois dos idiomas moçambicanos.
Faltam só 20 e poucos.
Veja aqui a reportagem na TV Brasil.
E aqui, texto de um tempo atrás sobre a dicionarização do xangana.
Reportagem da Agência Brasil.
Aliás… sabia que a Etiópia – aquela da fome – é considerada uma das cinco maiores economias africanas?
25/10/2010
África Subsaariana resiste à crise internacional e deve crescer 5% este ano, prevê FMI
Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África
Maputo (Moçambique) – A economia da África Subsaariana deve crescer 5% este ano e 5,5% no ano que vem. A previsão consta do documento 2010 Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, divulgado hoje (25) pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). No início do ano, a estimativa era que o crescimento em 2011 pudesse alcançar 5,9%.
Mesmo assim, o resultado foi comemorado pela diretora do Departamento de África do FMI, Antoinette Monsio Sayeh, ex-ministra das Finanças da Libéria. “A superação regional deve muito às políticas econômicas sólidas implementadas antes e durante a crise global. Permitiram que as autoridades usassem mecanismos fiscais e monetários para minimizar os efeitos adversos da mudança brusca no comércio internacional, preços e fluxos financeiros”, disse ela.
Antes da crise, a região mais pobre do mundo vinha crescendo entre 6% e 6,5% ao ano. No ano passado, a taxa não passou de 2,5%. A África Subsariana tem cerca de 500 milhões habitantes (10% da população do planeta), que vivem nos 47 países ao sul do Deserto do Saara.
De acordo com a diretora do FMI, a demanda doméstica da África Subsaariana deve continuar firme este ano e no próximo. E as exportações devem se beneficiar do crescimento dos negócios com a Ásia. Sayeh ressalvou que a crise deixou um “legado de desemprego elevado”, além da deterioração do equilíbrio fiscal, especialmente nos países exportadores de petróleo. “Por causa da natureza frágil da recuperação global, os riscos seguem pesados”.
Ela recomenda que políticas fiscais expansionistas sejam temperadas para assegurar que as finanças públicas voltem ao caminho sustentável, com dívidas manejáveis. Para combater a crise, alguns países cortaram as taxas de juros e elevaram o gasto público.
As cinco maiores economias africanas – África do Sul, Nigéria, Angola, Etiópia e Quênia – devem crescer dentro da média esperada para o subcontinente este ano. A maior, a sul-africana, foi uma das que mais sentiram os efeitos da crise mundial. Perdeu cerca de 1 milhão de empregos em 2009 e entrou em recessão. Angola desacelerou de 13% de crescimento em 2008 para menos de 1% no ano passado.
Mas o FMI projeta para este ano crescimento acima da média em alguns países: Congo (10,6%), Botsuana (8,4%), Etiópia, (8%), Nigéria (7,4%), Zâmbia (6,6%), Tanzânia (6,5%) Libéria (6,3%), Moçambique (6,5%), Malaui (6%), Angola (5,9%), Zimbábue (5,9%), Uganda (5,8%), Lesoto (5,6%), Ruanda (5,4%), Congo (5,4%) e Mali (5,1%).
Para os demais países lusófonos, o FMI antecipa ganhos na massa da economia para São Tomé e Príncipe (4,5%), Cabo Verde (4,1%) e Guiné Bissau (3,5%).
Já o Norte da África, região chamada de Magreb (Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia), que cresceu 2,4% em 2009, deve encerrar 2010 com ganhos de 5% no produto.
Edição: Vinicius Doria
Em agosto, funcionários públicos da África do Sul pararam por quase três semanas. Agora, os da Namíbia ameaçam fazer o mesmo. Mas, como diz o líder sindical, do “seu jeito”.
Afinal, cada um tem o seu.
25/10/2010
Funcionários públicos da Namíbia pressionam governo a investigar perdas de fundo de pensão
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo – Funcionários públicos da Namíbia decidiram fazer protestos pouco menos de um mês antes das eleições regionais e locais, marcadas para o dia 26 de novembro.
O objetivo é pressionar o governo a investigar as perdas milionárias registradas por um fundo de pensão. Na última assembleia, parte da categoria pressionou por uma greve geral nos moldes da que ocorreu em agosto na África do Sul. Mais de 1 milhão de funcionários paralisaram seus trabalhos em protesto contra uma proposta do governo de manter os atuais administradores do Instituto Governamental de Fundo de Pensão (Gipf, na sigla em inglês) enquanto é realizada uma auditoria.
As perdas no fundo de pensão, segundo a imprensa, são de mais de US$ 650 milhões (dólares do país) – R$ 150 milhões – entre 1999 e 2007. A maior parte foi investida em projetos privados, sem o devido controle.
A Namíbia é um país de grande território na África Austral, mas que tem pouco mais de 2 milhões de habitantes. Somente tornou-se independente (da África do Sul) em 1990, mas segue muito atrelado a ela economicamente. Rico em minérios, é o quinto maior exportador de urânio do mundo. Também tem reservas de diamantes, zinco, prata e tungstênio. Seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita é bem maior que o de boa parte dos países do continente (US$ 6,6 mil em 2009).
A mineração, porém, emprega somente 4% da força de trabalho. Quase a metade dos habitantes depende da agricultura de subsistência e o percentual de analfabetismo ultrapassava os 85% no começo do século. O índice de desemprego superava 51% em 2008. Dez por cento dos moradores mais ricos detinham mais de 53% das riquezas nacionais. Os dez por cento mais pobres tinham apenas 1,1%.
Pelos parâmetros do Índice de Gini ( medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini), a Namíbia é o país mais desigual do mundo (70,7 em 2003).
Duas reportagens publicadas na Agência Brasil.
24/10/2010
África se firma como prioridade nas relações comerciais do Brasil
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo – A África foi uma das regiões escolhidas pelo governo brasileiro para diversificar laços comerciais e de relacionamento diplomático. Desde que assumiu o poder, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já esteve em 27 países do continente.
A última visita antes de deixar o cargo será a Moçambique, entre os dias 9 e 10 de novembro, a caminho do encontro dos líderes do G20 (grupo das maiores economias mundiais, incluindo países emergentes) em Seul, capital da Coreia do Sul.
Em Maputo, Lula vai conhecer o local onde será instalada uma fábrica de medicamentos antirretrovirais, para tratamento da aids, a ser gerida pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). A planta será instalada em um galpão ao lado do local onde hoje já funciona uma fábrica de soros do governo moçambicano.
Será a primeira fábrica pública de medicamentos contra a aids na África. Até agora, o continente abriga apenas pequenas plantas privadas na África do Sul, no Quênia e em Uganda. O presidente também dará uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, que está prestes a se tornar a primeira instituição estrangeira a integrar a Universidade Aberta do Brasil, que forma e qualifica educadores por meio do ensino a distância.
Esses são dois exemplos dos mais de 30 projetos de cooperação que o Brasil mantém ou auxilia no país. “É uma responsabilidade que está no contracheque dos países que abraçam grandes causas no cenário internacional”, disse o embaixador brasileiro em Moçambique, Antônio Souza e Silva. “São os encargos de quem tem a posição que o Brasil tem hoje em dia, de líder no G20 financeiro, de participante ativo das discussões da OMC [Organização Mundial do Comércio] e de aspirante a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas”.
Instituições públicas brasileiras também ajudam Moçambique a implementar uma série de projetos, entre eles o curso de formação profissional no setor manufatureiro, com o apoio do Serviço Nacional da Indústria (Senai); o mestrado para ciências da saúde, com o apoio da Fiocruz; e a informatização da Previdência Social do país, com acompanhamento da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev).
Entre os projetos, estão ainda o de melhoramento agrícola, com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) nas áreas de reflorestamento de Machipanda, na fronteira com o Zimbábue, e o de desenvolvimento do Pró-Savana, programa nos moldes da parceria com o Japão que viabilizou uma série de culturas no cerrado brasileiro.
Também é da Embrapa um dos projetos mais ousados em andamento na África para melhoria de culturas agrícolas: o desenvolvimento de tecnologia de aperfeiçoamento do algodão em países pobres como o Benin, Burkina Fasso, o Chade e Mali. Em toda a África, são mais 150 projetos de cooperação. Segundo a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), os programas movimentam recursos da ordem de US$ 40 milhões.
Além da atuação diplomática, o Brasil também passou a disputar espaço no crescente mercado africano, como já fazem os emergentes Índia e China. De acordo com o Panorama Econômico Africano 2010, elaborado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, o crescimento econômico médio do continente, entre 2006 e 2008, estava na casa dos 6% ao ano. Caiu para 2,5% no ano passado como consequência da crise mundial.
Entre 2002 e 2008, as exportações brasileiras para a África aumentaram 340%, três quartos de itens manufaturados. Antes da crise, o volume total de negócios bateu a casa dos US$ 26 bilhões em 2008. No ano passado, a corrente comercial foi de US$ 17,2 bilhões, sendo US$ 8,7 bilhões em exportações e US$ 8,5 bilhões em importações. Em 2002, não passava de US$ 5 bilhões.
Os principais grupos de produtos exportados para a África são açúcar e confeitarias; veículos e peças sobressalentes; carnes; óleo refinado de petróleo; máquinas e similares; minérios; óleos; cereais; materiais elétricos e eletrônicos; e produtos de ferro e aço.
Angola é o principal parceiro comercial brasileiro no continente e um dos maiores destinos de exportações brasileiras em geral, à frente do Canadá, dos Emirados Árabes Unidos, da Austrália e Índia. Também são parceiros no continente a África do Sul, Nigéria e o Egito, entre outros.
Empresas brasileiras de grande porte já atuam na região, como Marcopolo, Camargo Corrêa, Votorantim, Embraer, Petrobras, Odebrecht, WEG e Vale, que recentemente lançou a pedra fundamental de uma mina de cobre na Zâmbia. A empresa também vai começar a exportar, em meados do ano que vem, carvão mineral da região moçambicana de Moatize, na Província de Tete.
24/10/2010
Empresa brasileira de papel e celulose quer montar fábrica em Moçambique
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo – A empresa brasileira Suzano quer produzir papel e celulose em Moçambique. Representantes da empresa estiveram no país no início do mês, visitando pontos onde o empreendimento poderá ser montado. “Nós sentimos que eles [Suzano] estão cada vez mais interessados em se estabelecer aqui”, disse o diretor nacional da Indústria de Moçambique, Sidone dos Santos.
A comitiva da empresa brasileira visitou áreas nas províncias da Zambézia, de Nampula e de Cabo Delgado, no Centro-Norte do país, que já estuda investimentos de infraestrutura na região, por causa de outros projetos em implantação. Um dos principais é o de exploração de minérios pela brasileira Vale e pela australiana Riversdale, na vizinha Província de Tete. A demanda é por melhores condições de transporte para escoar a produção pelos portos da Beira ou de Nacala.
A Suzano ainda não apresentou formalmente o projeto de investimento. As autoridades moçambicanas esperam que ele envolva toda a cadeia produtiva, do plantio do eucalipto até o processamento final do papel e da celulose. “Temos grande necessidade de uma fábrica dessas aqui, mas que venda para nós também. Gastamos demasiadamente com importação”, disse Santos. Moçambique importa praticamente todo papel que consome, de embalagens a papel higiênico, papel de jornal, cartões e outros derivados da celulose.
Por haver a possibilidade de envolver a plantação de eucaliptos e pinus, matéria-prima da celulose, o projeto também precisará da aprovação do Ministério da Agricultura, que vai analisar o impacto ambiental da iniciativa.
Procurada pela Agência Brasil, a Suzano preferiu não fazer comentários a respeito do projeto, o segundo envolvendo o setor de papel e celulose trazido para apreciação do governo moçambicano este ano. Em março, a portuguesa Portucel divulgou que pretende investir US$ 2,3 bilhões no país até 2025. A planta, ainda em processo de aprovação, irá servir ao mercado asiático e deve produzir 1 milhão de toneladas por ano.
A Suzano Papel e Celulose tem cinco fábricas, todas no Brasil, mas atua fortemente no exterior. No ano passado, a Ásia foi o principal destino de suas vendas, com 44,9% de participação. O segundo maior mercado foi o europeu, com 32,9%. Na sequência vêm América do Norte (6,7%) e América do Sul (0,9%).
As vendas para o mercado brasileiro absorveram 14,7% da produção da Suzano. A companhia produziu 1,6 milhão de toneladas em 2009, ano de recuperação da demanda por celulose no mercado internacional, sendo que 1,5 milhão foi vendida fora do Brasil. A empresa tem investimentos programados da ordem de US$ 6 bilhões para a construção de novas plantas no Maranhão e no Piauí.
Edição: Vinicius Doria