De volta a Moçambique, depois de duas semanas de Cabo Verde – um dos únicos países africanos em que a oposição ganhou no voto, governou, perdeu no voto e saiu. Tudo em 20 anos.
Interessante notar que o comprovadamente democrático Cabo Verde não tem jornal diário. Nem vai ter, pois é cada vez mais conectado. E seu jornal privado mais antigo – chamado “A Semana” e (ahá!!!) semanal – está muito perto de eliminar a edição impressa. E ficar só na internet, mas com atualização diária, saltando direto.
Foi em Cabo Verde que acompanhei os passos dos concorrentes marfinenses, céleres em direção a mais uma guerra civil. Uma África olhando para outra.
Em Moçambique ainda não houve teste para a troca de poder. Mas há eleições democráticas e a imprensa enche o governo de bolacha semanalmente. Aqui ouvi o professor que cito na reportagem abaixo, preocupado com o quadro marfinense.
Se tudo der certo, volto à Praia em fevereiro, para ver a eleição caboverdiana. Com a certeza de que quem ganhar, leva.
20/12/2010
Para professor, decisão de Gbagbo é indício de que cogita manter-se no poder pelas armas
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo (Moçambique) – A decisão do presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, de ordenar a saída das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) do país é um indício de que ele estaria cogitando manter-se no poder pelas armas, se achar preciso. A opinião é do professor do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique, Antonio Gaspar.
“É uma clara evidência de que ele quer usar de força para se impor. E isso é muito mau para ele, para a África e para o mundo inteiro, que quer resolver os assuntos com base no diálogo”.
Em 28 de novembro passado, Gbagbo e o ex-primeiro ministro Alassane Ouattarra concorreram na primeira eleição nacional em dez anos. A oposição foi declarada vencedora pela Comissão Eleitoral. Mas a Corte Suprema do país reviu os números, alegando fraude, e deu a vitória ao então presidente.
No fim de semana, Gbagbo ordenou a saída dos 10 mil soldados da ONU do país, sob acusação de interferência interna. A organização foi o primeiro órgão internacional a acusar o então presidente de subverter a vontade popular ao permanecer no poder. Outros organismos multilaterais e países seguiram a ONU e condenaram a decisão de Gabgbo.
As Nações Unidas decidiram manter as tropas e cumprir o mandato internacional de monitorar o acordo de paz que acabou com a guerra civil de 2002/2003. A ONU também denunciou que mais de 50 pessoas foram mortas no país desde quinta-feira passada (16).
Hoje (20), o Conselho de Segurança trata do tema em uma reunião em Nova YorK.
Apoiadores de Gbagbo alegam que ele foi reeleito legitimamente e que a decisão da Corte foi soberana, independente e de acordo com a Constituição do país. “O país está a mergulhar – mais uma vez – em uma situação de instabilidade. Se calhar, de retorno à guerra civil”, afirma Gaspar. “Para a África, é uma vergonha. Eu penso que é uma nódoa em todo o processo democrático no continente. Mostra que muitos líderes africanos ainda acham que podem viver só dentro do poder.”
Edição: Graça Adjuto
Pensei que as coisas já estavam resolvidas por lá! Mas pelo visto ainda vai render muito essa eleição hein? Abs
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