Goreé, Marcelle e os presidentes

Marcelle é garçonete em um bar na histórica ilha de Goreé, que era entreposto de escravos. Lá fica na tristemente famosa “porta da viagem sem volta”: quando a pessoa passava por ela, era pra sair dentro do navio negreiro. Não voltava nunca mais.

O bar em que Marcelle trabalha é na mesma viela (na ilha só há vielas – não passam carros) em que fica o hoje Museu da Escravidão, o antigo prédio onde os escravos ficavam esperando pela chegada dos navios.

Quando sentamos para um café, reclamei do preço (mil francos – 2 dólares) muito mais caro que os outros que tomei. Marcelle viu a bandeira brasileira na câmera do Róbson e disse “Lula fez muito por vocês lá, mas aqui, o nosso presidente não fez não”.

Perguntei a Marcella como ela sabia que o Lula “tinha feito muito por vocês lá”. “Vejo na TV5, na TF1 e no Canal Plus”, disse a moça, que tem 22 anos, terminou o segundo grau e quer fazer faculdade de comunicação. São canais franceses, que pegam aqui no Senegal.

Não foi a primeira pessoa que diz algo assim pra mim ou pros coleguinhas. Um – de jornalão – ouviu de uma motorista de taxi que Lula era ótimo. “Ele é negro?”, perguntou a taxista. “Você nunca o viu?” “Não, mas gosto dele mesmo assim”.

Essa imprensa francesa…

Um comentário em “Goreé, Marcelle e os presidentes

  1. Muito fofa essa Marcella: maneira gentil de tentar te convencer a aceitar o preço do café. Engraçado eles curtirem saber tudo do Brasil nesses canais de televisão por aí… Cara você está hiper bronzeado hein? Cruzes, eu não entraria nessa “porta da viagem sem volta”, nem amarrada rsss. Abraços

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