Um milhão, dois milhões, três milhões…

Acabo de ler um texto de Homero Fonseca, que conta que, quando dirigia um jornal de Recife, mandou parar de escrever que o Galo da Madrugada tinha “mais de um milhão e meio de foliões.

Ele diz que, em certa ocasião, chamou um engenheiro, que mediu a área que o Galo ocupava e concluiu que, no máximo, ali cabiam 400 mil pessoas (o que já é gente a dar com um pau).

Vejo o Censo 2010 e acho lá que Recife – inteira – tem… 1 milhão, 536 mil habitantes. Tá bom: vem gente do “mundo todo” (ó o exagero aqui de novo), das cidades vizinhas, do país, tal. Mesmo assim, soa algo complicado juntar tanta gente.

Enfim…

Agora vejo que o Galo já a não é mais o “maior bloco do mundo”, porque o Bola Preta, no Rio, juntou “mais de dois milhões de foliões” – segundo a PM. Recorro, de novo, ao Censo 2010. Está lá: Rio de Janeiro – 6 milhões, 323 mil habitantes. Mais uma vez: OK, tem visitantes “do mundo todo”, tal. Mas – olha lá – quer dizer que, de cada três habitantes da cidade (avós de 90 anos, crianças de três, a polícia toda, bombeiros todos, enfermeiros todos, crentes, chatos sem samba no pé, coxos e mancos de todo tipo…. ) uma foi ao Bola Preta.

Enfim…

Tudo para chegar a Angola, onde hoje iria acontecer uma passeata contra o governo, convocada pela internet, sem participação do maior partido da oposição. Ela não saiu porque, na madrugada, vinte pessoas que iriam organizá-la foram presas. Acabaram soltos depois, mas o protesto foi suspenso.

O partido do governo, que dizia não estar preocupado com manifestações, mas sim com “atentados contra a ordem”, convocou uma outra manifestação, em favor da “paz e estabilidade” (não dele, claro), no último sábado. Diz ter juntado quatro milhões de pessoas, em diversas partes do país.

Quatro milhões de pessoas! Vou atrás da população de Angola. Dados de 2009, da Population Division of the Department of Economics and Social Affairs of the United Nations Secretariat (2009): 18 milhões, 498 mil habitantes.

Quatro milhões em um total de 19 milhões. É gente, hein…

Enfim…

Lembra a história da final da Copa de 50, no Maracanã, que o Brasil perdeu do Uruguai. O que eu conheço de gente com o cabelinho mais branco que diz que estava lá! “É…”, diz o sujeito, olhando por alto, com cara de quem força a memória. “Parece que foi ontem… aquele silêncio depois do gol do Giggia… e eu lá, vendo tudo”.

Como diz o muito nosso José Silvério, “o Pai do Gol”: “se todo mundo que diz que estava no Maracanã na final de 50 realmente estivesse lá, o estádio teria que ter uns dois milhões de lugares.”

Mais um passo para a fábrica de antirretrovirais sair

Algo que se arrasta desde 2003 – como você já viu aqui, em outras reportagens minhas, publicadas na Agência Brasil.

Em novembro, Lula esteve onde vai funcionar a fábrica e viu a primeira máquina de embalar comprimidos funcionando, num teste.

Agora, a Vale concordou em pagar a reforma que precisa para a fábrica receber os equipamentos definitivos- que já chegaram ou estão chegando.

Abaixo, outra reportagem da Agência Brasil, assinada do Rio de Janeiro (mas pautada pelo até há pouco correpondente na África, que já estava fora da empresa…)

RIO DE JANEIRO – Será assinado na quarta-feira (2), em Maputo, Moçambique, o acordo que dará início às obras de adequação do prédio onde funcionará a primeira fábrica de antirretrovirais daquele país. O projeto conta com apoio do governo brasileiro, por meio da unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Farmanguinhos, e a mineradora Vale.

O contrato será firmado entre a Vale, o Instituto de Gestão das Participações do Estado, ligado ao governo moçambicano, e a empresa sul africana Pro-Er, vencedora da licitação para adaptação da área, visando à montagem da fábrica.

As obras deverão durar cerca de 12 meses. A expectativa é que a fábrica comece a operar ao fim de 2012, disse nesta terça-feira (1º) à Agência Brasil o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe. Os equipamentos serão doados pelo governo brasileiro, de acordo com compromisso assumido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante sua primeira visita ao país africano, em 2003.

A Fiocruz está comprando os equipamentos em vários países, entre os quais os Estados Unidos e a Itália. “Nós vamos treinar o pessoal, capacitá-los, instalar os equipamentos, fazer a transferência de tecnologia dos nossos produtos para eles e a fábrica começa a operar”.

Até agora, foram gastos na aquisição dos equipamentos cerca de R$ 8 milhões. “Como há a transferência de tecnologia de Farmanguinhos para a fábrica, o que nós estamos fazendo é um espelho, uma imagem especular, da nossa fábrica para eles. O que nós temos aqui, nós estamos comprando igual e instalaremos lá”.

Os investimentos da mineradora Vale, no valor de US$ 4,5 milhões, permitiram resolver o problema de falta de recursos do governo moçambicano, que estava atrasando muito o desenvolvimento do projeto. “A Vale se prontificou [a doar] e está entrando com esses recursos, permitindo que as obras sejam feitas por meio da empresa que venceu a licitação”, disse Hayne Felipe.

A fábrica produzirá inicialmente 21 medicamentos que estão em domínio público. “Nós não podemos reproduzir medicamentos que estão sob patente. Então, você pode dizer, a grosso modo, que nós produziremos genéricos ou similares”. Parte desses remédios está vinculada a antirretrovirais, para tratamento da aids. Moçambique é um dos dez países do mundo mais atingidos pelo vírus da aids.

Hayne Felipe afirmou que a produção de antirretrovirais em Moçambique evitará o problema de interrupção do fornecimento de medicamentos por causa da necessidade externa de financiamento e de importação. “Inclusive, um problema que a gente observou e que já está ocorrendo, que é um certo nível de resistência do vírus, porque você não tem uma sequência de fornecimento para a população”.

Outros medicamentos são destinados ao tratamento de diabete, hipertensão, entre outras doenças, informou Felipe. A estimativa é que serão feitas 300 milhões de unidades farmacêuticas de antirretrovirais e em torno de 150 milhões de unidades de outros medicamentos. “No total, a gente estima que ela [produção] vai estar entre 450 milhões e 500 milhões de unidades farmacêuticas por ano”.

A construção da primeira fábrica de medicamentos de Moçambique vai representar economia de divisas para o país africano, que deixará de importar esses remédios. Antes, só havia uma fábrica de soros no país. “Então, toda a assistência farmacêutica moçambicana é dependente de importação e, principalmente, financiada por programas de governos estrangeiros ou de organismos internacionais”.

Dependendo do volume de produção e da demanda externa, Moçambique poderá se tornar um polo exportador para toda a África, como afirmou em novembro do ano passado o ex-presidente Lula em sua última viagem ao Continente Africano, admitiu o diretor de Farmanguinhos. Ele acentuou que, se Moçambique “conseguir o que o Brasil conseguiu, ou seja, ter um controle efetivo sobre a infestação com o vírus, é possível que a sobra dessa produção possa ser ofertada aos países vizinhos”. Ressaltou, porém, que originalmente, a fábrica objetiva atender à demanda da população moçambicana.