Agora é a vez da TV Miramar / Record Moçambique

Aqui, um vídeo institucional da TV Miramar, com suas estrelas da programação local.

Estão aí o Fala Moçambique (com a Selma Marivate e o Hermínio José), o Balanço Geral (com o Ernesto Martinho), os repórteres na rua, o Moçambique no Ar, o Contacto Directo…

Estou lá há pouco mais de um mês. Tem sido interessante e enriquecedor demais para mim. Espero que também esteja sendo para os colegas e para o telespectador.

Aprendi muito, e , em breve, vamos trazer novidades em termos de visual e de qualidade.

Mas só com os ajustes que temos feito já tem sido possível ver algumas alterações positivas, tanto no conteúdo quanto na audiência.

Agora é a vez da Miramar.

Família Real britânica é história na TV… fazer o quê?

Li hoje muita gente – mais ranzinza do que eu – reclamar do tamanho da cobertura dada ao casamento do príncipe Willian e da Princesa Lady Kate.

Ei! Esse tipo de transmissão assemelha-se ao carnaval: é altamente visual, entretenimento com um pouco de informação. Por ser longa, precisa de bom inglês e é tudo ao vivo, recorrer-se às figuras do jornalismo.

Mas dá boa televisão. Sempre deu.

A BBC (oh! A BBC, exemplo de tv pública…) foi “batizada” na coroação do Rei George VI. Tinha só seis meses de vida e meteu as câmeras na rua pela primeira vez para o evento. Era 12 de maio de 1937.

Dez mil sujeitos viram isso, que foi a primeira cobertura “de fôlego” da história da TV. Detalhe: a princípio, o rei foi contra a transmissão. Não queria “espetacularizar” a própria vida…

Outra data histórica para a TV mundial foi 2 de junho de 1953, quando a filha de George, Elizabeth, virou rainha do Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Ceilão e Paquistão.

Foi a primeira vez que os norte-americanos fizeram algo que depois se tornaria comum: uma renhida correria entre NBC e CBS nos grandes eventos internacionais. Uma concorrência que impulsionou muito (para o bem e para o mal) o desenho que temos hoje das chamadas “grandes coberturas ao vivo”.

O grande detalhe é que esta, especificamente, não foi ao vivo. Mas foi o que mais perto disso se podia chegar na época, em se tratando de algo passado no outro lado do oceano.

Tanto a NBC quanto a CBS fretaram um avião para, logo depois de gravar a cerimônia, poder mandar a fita sem depender de uma empresa de transporte. A operação de guerra envolveu adaptar o avião com máquinas de escrever e reveladoras de filme.

Pela CBS, a fita foi revelada sobre o Atlântico, e a chegada do avião ao aeroporto de Boston – isso sim – foi mostrada ao vivo. A avioneta tinha até o símbolo da CBS desenhado. O piloto entregou a fita a um funcionário, que saiu correndo para colocá-la na máquina. Dali mesmo, do aeroporto (pra não perder tempo), o filme foi exibido via link para todos os Estados Unidos.

Walter Cronkite foi o apresentador da CBS. Ele já havia ficado famoso ao cobrir a guerra, ficaria muito mais alguns anos depois, na primeira transmissão (aí muito mais séria, trágica e totalmente ao vivo) de um “breaking news” com o formato que vemos hoje: a morte de John Kennedy, em novembro de 1963.

Aqui abaixo, um pouco da gravação da BBC.

Portanto, chatos, aguentem a família real na TV, porque ela é parte da história da TV. Aqui em Moçambique, mostramos tudo ao vivo pela TV Miramar, para todos os PALOPS e falantes da língua portuguesa na África Austral. Ao vivo, com direito a apresentadores vestidos em alta gala no estúdio.

Pelos telefonemas que recebemos, a turma gostou.

Não gosto de monarquia, ficaria possesso se meu imposto pagasse por isso tudo. Acho que a coroa britânica cumpriu hoje sua única função no mundo atual – decorativa.

Fica a novelinha. Com beijinho no final e tudo.

Mas se fosse só o Carlos do Carmo…

Acabo de ver Alejandro Sanz na TV.

Hoje sei bem que ele é.

Mas, há alguns (muitos) anos, ao sair do estúdio da Rádio Bandeirantes, notei uma confusão no fundo do corredor. Era um monte de menina gritando, do lado de lá da porta de vidro.

“É algum cantor popular dando entrevista ali na BAND FM”, pensei eu, indo para o banheiro e me aproximando da muvuca.

Ao chegar mais perto, perguntei para um baixinho de bigode fininho, que estava encostado no vidro do estúdio: “Quem é a estrela que está aí?”

“Julio Iglesias!”, disse o baixinho. Dei uma risada com ele e fui em frente. Julio Iglesias certamente não era, pois a BAND FM tinha um perfil de público mais popular. E – sem ofensas – se fosse Julio, as meninas ali na porta seriam ligeiramente mais velhas.

Na volta do banheiro, entrei na redação e perguntei pra alguém, de novo, quem era a estrela que estava na BAND FM.

“Alejandro Sanz!”, foi a resposta – essa, sim, bem mais possível.

“Ah”, disse eu. “Esse eu só conheço de nome. Cadê ele”?

“É aquele ali”, me disse a colega. Apontando para o baixinho de bigode fininho, encostado no vidro do estúdio.

Ricardo Botas, Carlos do Carmo… pá.

Almoçamos com Ricardo Botas mais um vez.

É sempre divertido. E, como em muitas destas ocasiões, lembramos da época em que nos conhecemos, no longínquo século passado, às vésperas da Copa da França.

Botas era o director (ó pá!) da Rádio Alfa de Paris, emissora que só trasmite em português.

E é a única pessoa que eu conheço que morou em sete países.

Durante o papo, lembrei-me da historieta abaixo, que já contei aqui no ElefanteNews.

Mas como foi muito no começo, talvez você ainda não tenha lido, reproduzo o texto – com os inevitáveis retoques de mais de um ano depois.

Carlos do Carmo é um dos maiores cantores da história do fado. Para muita gente, só fica atrás de Amália Rodrigues. Para outro tanto de gente, é a Amália Rodrigues de calças.

Pois.

Em 1976, ele cantou todas as músicas que concorreram no prestigiado Festival da Canção da RTP. Nunca mais ninguém fez isso. “Os Putos”, “Um Homem na Cidade”, “Canoas do Tejo”, “Lisboa Menina e Moça”, “Duas Lágrimas de Orvalho”, “Bairro Alto” são alguns dos sucessos dele em 47 anos de carreira.

Pois.

Em 1998 eu não sabia nada disso. Mas eu também era um “puto”, pá – tinha 23 anos. E estava na primeira Copa do Mundo, na França, quando cruzei com esse monstro sagrado… e mal percebi.

Foi assim: em 98, a Rádio Bandeirantes fechou um acordo com uma rádio francesa que só falava e cantava em português, a Rádio Alfa. Como Portugal não se classificou, os caras acharam que seria bacana ter a transmissão dos jogos do Brasil. Era bom pra ambos: a Rádio Alfa transmitiria a Copa em português sem gastar um puto (pá) e a Rádio Bandeirantes seria ouvida em Paris e faria um belo marketing (e fez).

Pois.

Também fazia parte do acordo que a Bandeirantes mandaria um de seus profissionais que estavam em Paris pra participar de um programa diário criado para ocasião – o “Xuta, Brasil” (assim mesmo, com “x”). Era às 10 da noite, de segunda a segunda, depois de um dia todo de trabalho, lá do outro lado de Paris. Claro que o escalado era o mais novo – o “puto” aqui, pá. E lá ia eu, de carro, cruzando o Periférico todo, ou pela margem do Sena (variando o caminho porque era longe).

Mas eu curtia. O programa era divertido. Quem fazia comigo era o diretor da rádio, Ricardo Botas, que punha os tugas “na antena” (ao vivo) conosco, passava rápido. Leandro Quesada, hoje primeiro repórter do esporte da Bandeirantes , foi comigo lá algumas vezes.

Pois.

Um mês e tanto de programa (fiquei 66 dias em Paris), e chega a grande festa que a rádio produzia anualmente – a Festa dos Santos Populares (pra brasiléééiros, são as festas juninas). E a grande estrela seria… Carlos do Carmo. Carlos do Carmo vem, Carlos do Carmo vai, Carlos do Carmo, Carlos do Carmo… e eu sem saber direito quem era o sujeito (mal se pode imaginar hoje em dia, mas houve um tempo em que não existia Google).

Pois chega a festa. Chega Carlos do Carmo! O dono da rádio (um português riquíssimo, dono de uma pedreira e uma joalheira em Paris) me leva no camarim de Carlos do Carmo. Eu converso com ele. Mas não pego autógrafo, não saco o gravador do bolso, nem tiro foto. Não sabia que estava na frente de um mito.

Vim saber só de volta ao Brasil. Conversando com meu colega Agostinho Teixeira, filho de portugueses, comento “pois é, eu falei com Carlos do Carmo na festa…” E ele: “você falou com Carlos do Carmo? Você tocou no Carlos do Carmo? Meu Deus, que sensacional”!

Pois eu tinha estado com um monstro sagrado e nem aproveitei! Não curti. Não senti tudo isso que o Agostinho certamente teria sentido… a inguinorânça da mocidade é bruta mesmo.

A semana é santa, mas o estado é laico.

Moro em Moçambique e, por isso, terei expediente normal na próxima sexta-feira, por mais santo que seja o dia.

Eu e todo o país, porque aqui não existe feriado religioso.

Herança do tempo do socialismo. Como também foi feito em Angola, o governo acabou com os feriados religisoso porque – simples assim – o estado é laico.

Aqui, o socialismo deu lugar ao capitalismo agressivo, desigual e injusto – igualzinho a quase todos os lugares. Até pior, porque a pobreza extrema é muito grande, e a desigualdade não dá indício de que vá diminuir. Mas isso, do feriado, ficou (olha aqui a lista dos feriados nacionais moçambicanos).

Não tem crucifixo na repartição – só a foto do presidente Guebuza. Não tem data santa de uma religião em detrimento das outras. Feriado aqui, só cívico.

É verdade que o Natal sobrevive disfarçado: virou “Dia da Família”. Mas, ao menos, não consta do calendário oficial do país como sendo dia de descanso para todos por causa da religião de alguns.

Antes que – rá – alguém me crucifique, quero deixar claro que não sou contra que a pessoa tenha dias para fazer suas reverências religiosas. Só acho que não deva ser feriado para todo mundo – porque a maioria vai pra praia, pro churrascão ou fica dormindo mesmo. Poucos vão pra procissão, missa ou culto.

Deveríamos ter direito, por lei, a dias de folga religiosa. Três por ano, que tal? Era só avisar o patrão com antecedência: “olha, sexta-feira, 22 de abril, não venho. É Sexta-Feira Santa”. Este ano, por acaso, engatado num feriado cívico, o 21 de abril…

De saída, vamos manter o 25 de Dezembro como Dia da Família, OK? Daí dá pra tirar (no caso dos cristãos) a Páscoa e um dos outros – Corpus Christi (que ninguém sabe direito o que é, afora os realmente religiosos), Dia da Padroeira, Finados, Padre Cícero, Santo Daime, Dia de Chico Xavier, Dia do Evangélico, Rosh Hashaná, Dia de Gandhi, Candomblé… cada um com os seus. Mas só com os seus.

E antes que a Associação dos Viajantes Inveterados, Sindicato dos Guias de Turismo e Federação dos Hotéis Religiosos venham fazer passeata na minha porta, passarei a defender que os ateus ou religiosos-mais-ou-menos também tenham direito à mesma folga, por equidade.

Como cada um usaria a folga no dia que quisesse, movimentaria hotéis, aviões (pelo fim do caosaéreo!) bares e restaurantes o ano todo, só que com menos gente de uma única vez.

Mas… e o Carnaval? Que é meio religioso, meio pagão e meio vagabundão (porque segunda-feira não é feriado, mas ninguém – a não ser os músicos de trio elétrico e assemelhados – trabalha nesse dia)?

Minha sugestão – séria, seríssima – é instituir a Terça-Feira Gorda como Dia da Diversidade.

Quero ver quem vota contra.

Pensa, fio. Pensa até doer

Para quem não sabe, detesto chavão.

Frase feita empobrece demais o texto, denota pouca leitura.

Quando um deles escapa, não me contenho. Na redação, era vir o chavão de lá pra eu completar daqui, esbravejando: “Pistas escorregadias é a mãe! “Água mole em pedra dura é o cacete!” “Pelos quatro cantos da Terra? Só se for no mundo dessa besta quadrada dos infernos!”

É o meu jeitinho – a turma já conhece, nem assusta mais.

Nessa linha, várias vezes disse ao repórter para, ao escrever, “levar em conta a burrice do outro lado”. Modo bem gráfico e delicado de alertar o escriba a ser absolutamente claro, não dar margem à dupla interpretação, escolher bem as palavras, e – talvez o mais complexo – pensar bem antes de escrever.

Meu velho chefe Fernandão (Vieira de Mello) dizia: “Pensa, filho. Depois, pensa de novo e mais uma vez. Pensa até doer.”

Escrever para ser ouvido ou visto pela massa é tarefa complexa. Temos que levar em conta que chegamos ao mesmo tempo a todo tipo de gente: velho e jovem, gênio e jênio, doutores e quem não teve a chance de estudar, interior e capital, norte e sul, homem e mulher, crente e ateu, algoz e vítima.

Exemplinho besta: fizemos na TV Miramar uma reportagem sobre como Moçambique está ( ou não está) preparado para detectar e agir em caso de tsunami. Bem feitinha a matéria.

Pois, no dia seguinte, teve rádio dando que havia uma alerta de tsunami “em vigor” para o país. O jênio viu a matéria, entendeu lá do seu jeito e saiu vociferando por aí. Afora o mau jornalismo (os caras nem checaram a informação), serviu de alerta para mim. Mesmo a matéria estando certa, em um país em que nem todos falam bem o português, é preciso ter muito cuidado mesmo.

Se for irônico no texto, que deixe muito claro. Aliás… evite. Nem todos entendem, e, entre os que entendem, nem todos vão gostar – por serem o alvo da ironia. Se não tiver certeza do que vai dizer, não diga. Como o público é grande, sempre alguém lá do outro lado vai ter.

Se for atacar os outros de propósito, saiba que vai ter que sustentar sua tese. Vai ganhar alguns aplausos, mas as vaias podem ser maiores. E, ó: se injuriar, caluniar, difamar alguém, vai dar processo. Aguenta depois. Mimimi é a mãe.

Intenet? Ainda é cara, pra alfabetizados, mas circula muito mais que cartinha pra amigo, comentário na roda de bêbado e até que jornal impresso. Chega “aos quatro cantos da Terra”, como diria um supracitado. Não sabe brincar? Guarda os carrinhos, querido.

Na internet, quem lê algo que gosta, ou não gosta, faz outros saberem daquilo. Sem contar que, por ser uma rede, a coisa circula até quando não se quer. É um blog, que tá pendurado num serviço, que tá conectado num servidor, que junta num outro troço, que está num portal imenso, que dá link prum outro trem. É só dar um tempinho pra roda girar.

E, se você escreveu bobagem – ou não entende como essa roda gira – o trem passa por cima de você.

“Não me julguem por um único texto”, “Não foi isso que quis dizer”, “Meus amigos sabem que não sou racista”, “Não sou homofóbico – até tenho um amigo gay” é o cacete, fio.

Da próxima vez, leve em conta a burrice de quem lê. Mas, por favor, considere a inteligência também.

Post Scriptum (é o que quer dizer PS, seu jênio): A idéia pra este texto aí veio de uma conversa tuítica com a insone Carolina Mendes, do “Carolina, Minha Filha! e outros quatrocentos blogs. Todos interligados.

Sobre as doze crianças

Em cinco minutos, morreram doze crianças!

Dentro da escola, num susto. Por que? Como pode? Queremos justiça!

Doze crianças.

Exatamente o mesmo número de crianças que morrem de fome no mundo em um único minuto. E há muitos anos.

Não causam a mesma indignação. Ninguém clama por justiça ou tenta entender porquê. Não ganham capas de jornal. Não levam especialistas à TV. Nem aí, nem aqui, nem em nenhum lugar do mundo.

Também são doze crianças inocentes mortas – só que a cada minuto. Por hora, são 720. Por dia, 17 mil. Desde quinta-feira, oito da manhã, já são mais de 34 mil.

Com medo de que mais crianças morram, pedimos mais segurança. Detectores de metal. Cercas elétricas. Policiais mais bem armados – e dentro das escolas.

Volto às incômodas comparações: o gasto militar dos EUA para o ano que vem (2012) está orçado U$553 bilhões. Isso porque vai sofrer um corte de cerca de 80 bilhões este ano. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) estima que para acabar com a fome no mundo (incluindo adultos, velhos, recém-nascidos, todos) seriam necessários U$ 30 bilhões.

Será que gastar mais com isso vai mesmo evitar que morram mais crianças inocentes?

Ainda há fome no Brasil (como também há nos Estados Unidos e Europa), mas aqui, na África, ela agride sua passividade com mais frequência. Bate no vidro do seu carro no sinal de trânsito – e não tem sopão de igreja, secretaria de bem estar ou bolsa-família. A esmola, se você der, será em metical, que vale 30 vezes menos que o dólar, 20 menos que o real.

As doze crianças de Realengo me doeram, chocaram e entristeceram. Mas as 12 que morrem de fome por minuto – a maioria absoluta aqui da África, mas muitas, ainda, do Brasil – também deveriam ganhar manchetes, provocar revolta.

Afinal, são doze crianças.

Pra quem não gostou do meu texto, recomendo outro, do coleguinha Flávio Gomes, que fechou a conta e passou a régua no assunto (pra quem não leu, está aqui).

É um outro jeito de dizer a mesma coisa. Só que muito mais bem escrito, claro.

Mateus

Mateus é o zelador da pré-escola (aqui se diz infantário) dos amigos Sandra e Ricardo.

Ele cuida dos cães e da casa. Como praticamente todos os trabalhadores de Maputo, veio “da província” (no Brasil, diríamos “do interior”).

Com uma ferida no pé, foi ao médico, que receitou um antibiótico em cápsulas. Ele não teve dúvida: abriu uma a uma e jogou o pó em cima do dedo. Não sem antes engolir todos os antinflamatórios de uma vez só. “O médico mandou tomar oito, pá!”

Quase morreu de dor de barriga, foi uma correria.

Lá em Nampula, Mateus tinha duas mulheres. Uma, com um filho, ele nem pensou em trazer (está na casa dos pais). A outra, que perdeu o filho, veio com ele. “Pra não ficar ainda mais chateada”.

Chegou, foi trabalhar na escola também, mas já largou do Mateus. Não se falam mais. Chateou-se, mas com ele.

É que o Mateus fala com todo mundo – as vizinhas, inclusive. Talvez o problema tenha sido justamente este.

Resolveu tirar carta de motorista. Passou a manhã toda no Departamento de Trânsito e voltou com o documento. Mas tinha algo a contar antes de retomar o serviço.

“Donana? Senhooooora? (é assim que eles chamam a Sandra, diretora da escola).

“O que é, Mateus?”

“Virá aí a senhora do Departamento de Trânsito.”

“Mas por que, Mateus?”

“Porque, pro documento sair no mesmo dia, prometi a ela uma vaga na escola pra miúda dela de 4 anos…”.

Pontos para Mateus: sincero e pró-ativo. E como.

Como os pais que buscavam as crianças na escolhinha não fechavam o portão de jeito nenhum, resolveu pregar um aviso na grade. Detalhe: colou o papel com um pouco de arroz, que guardou do almoço.

O texto pedia aos “Carros senhores pais” que colaborassem com a segurança das crianças, lembrando de “sempre bater o putão”.

Fantástico, esse Mateus.