Feijão preto com caldo bem grosso, arroz branquinho, couve fininha, rodelas de laranja, farofa rica. Costela, carne seca e muita carne de porco: torresmo, pé, rabo, orelha, lombo, lingüiça calabresa e paio.
Quem não gosta de feijoada?
Muita gente. Se tem uma coisa com que judeus e muçulmanos tradicionais concordam é em não comer carne de porco, por exemplo. Só aí já é um grupo enorme.
No caso dos muçulmanos, é uma comida considerada “haram”. O contrário de “haram” é “halal”, como explicou a Sandra há alguns dias no Mosanblog, e eu repito aqui embaixo:
“A carne halal é a carne permitida de ser consumida para os muçulmanos. Para ser halal (que significa lícito), é preciso ter uma série de características:
– não pode ser carne de porco, cachorro e semelhantes, animais com presas, pestilentos, pássaros predadores e criaturas repulsivas; - o animal deve estar saudável no ato do abate; - os equipamentos e utensílios devem ser próprios para o abate halal. A faca deve ser bem afiada e permitir uma sangria única, que minimize o sofrimento do animal; - o corte deve atingir a traquéia, o esôfago, as artérias e a veia jugular, para que todo o sangue seja escoado e o animal morra sem sofrimento; - o abate deve ser acompanhado por inspetores muçulmanos e ser executado por muçulmano mentalmente sadio e que entenda, totalmente, o fundamento das regras e das condições relacionadas com o abate de animais no islã;
As comidas que não atendem a todas estas características são consideradas haram (que significa ilícito): carnes de porco ou outros animais proibidos, carnes de animais impropriamente mortos ou mortos em nome de outra divindade que não seja Alá (o deus muçulmano), alimentos que contêm álcool ou sejam intoxicantes, sangue e produtos derivados, comidas contendo gelatina derivada de animais.
E como é que eu sei que a comida de um restaurante ou açougue é Halal? Simples: estabelecimentos que seguem a regra tem um selo na porta. Tipo selo do SIF, do Ministério da Agricultura do Brasil. Quem tem o selo foi certificado – pode comer tranquilo.
Moçambique tem muito muçulmano. Nos quase dois anos em que estamos aqui, já são dois restaurantes que tentaram e desistiram de oferecer feijoada no cardápio.
O Tipalino, na Avenida 25 de Setembro, segue firme com a feijuca do sábado. O cozinheiro era mineiro – foi embora, mas deixou a receita. Um outro restaurante, chamado Rodízio Real também tem– é o grande chamariz da casa, ao lado – claro – do “rodízio à brasileira”. E o famoso Hotel Polana também oferece, mas só no domingo.
E tem um outro restaurante aqui de Maputo que tem feijoada dita completa – nota cinco e meio, inclusive. Mas não vou dizer o nome pra não espantar a freguesia. Além da feijoada, tem, na porta, para a tranquilidade dos consumidores muçulmanos… um enorme selo Halal.
Stanislaw Ponte Preta dizia que “feijoada completa é aquela que tem ambulância parada na porta”. Aqui precisa mais – de um selo Halal também.
PS: pesquisando essa coisa de halal/haram, descobrimos que os frangos brasileiros – largamente exportados para cá – são colocados “sob suspeita” pela Comissão Halal de Moçambique. Alô, Sadia, Perdigão, Frangosul! Leiam aqui, ó: “O Frango Brasileiro é ou não Halal?”
Nossa, essa foto é convidativa hein? … joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão e vamos botar água no feijão! Não sou mulçumana, mas nunca comi feijoada. Estou devendo a experiência pra Sandra! Quem sabe pago essa dívida ao vivo! Abs
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