A Suazilândia, as virgens, os negócios – todos continuam

Escrevi o texto que está aí embaixo há exatinhos quatro anos, quando assisti à Festa do Caniço da Suazilândia – a tal festa das virgens, quando o rei, anualmente, escolhe a próxima esposa.

A Swazi é do tamanho do Distrito Federal. Em 2011, eu morava no vizinho Moçambique, a menos de 200 quilômetros da capital Mbabane. Várias vezes fomos almoçar lá, nos fins de semana, onde a carne é boa e mais barata que em Maputo.

Lembro da impressão que me causou, logo no posto de fronteira, a foto oficial do rei, na parede. Ao invés de um senhor de gravata ou uma senhora de tailler, um jovem vestido de peles, com uma coroa com três plumas vermelhas (dá pra ver na foto, ai embaixo).

Ao escolher a esposa, o rei pensa no equilíbrio étnico e político do país, como acontece na composição de um ministério. Tem ano que ele não escolhe nenhuma. Tem ano que demora dias pra anunciar a escolhida.

A festa de 2015 começa hoje, dia 31 de agosto. Um reality show demasiadamente reality.

A Suazilândia é a única monarquia absolutista da África. O país é bem pequeno – quem entra nele, de carro, pela fronteira com Moçambique, chega do outro lado, na África do Sul, em apenas três horas.

Um milhão de habitantes dividem o espaço com uma bela paisagem, leões, rinocerontes, macacos, búfalos, enormes plantações de cana de açúcar. E com a família real.

Dividem o espaço, mas não a riqueza. De cada três suazis, dois vivem com menos de um dólar por dia. Dificuldade, é evidente, que não atinge o rei ou seus familiares.

Assim, ser da família real (na Suazilândia e em qualquer outra parte que ainda tenha família real, diga-se), acaba sendo um bom negócio.

Ponto, parágrafo.

Na última semana, milhares de jovens reuniram-se para uma cerimônia que se repete há 25 anos. As meninas do reino suazi dançam e homenageiam a Rainha-Mãe. Trazem para ela caniços (longos bambus) que servirão para adorno e segurança do palácio em que ela vive.

A festa também celebra a unidade nacional e a pureza das jovens – é o que diz o texto que recebemos do Ministério do Turismo.

As garotas – 80 mil, segundo a casa real – vêm de todo reino. Recolhem os caniços em um ponto pré-determinado, carregam os feixes a pé pela estrada, trazem os presentes até o palácio da Rainha e dançam em um estádio montado só parta a ocasião.

Tudo isso leva oito dias (como a Sandra explicou em detalhes aqui, no Mosanblog). O rei participa dos dois últimos, ao assistir às danças e anunciar se, desta vez, escolherá uma das meninas para ser sua próxima esposa.

Ele já fez isso 13 vezes.

Ponto, parágrafo.

Será que é muito diferente que preparar seu menino de nove anos para um empresário levá-lo pra jogar na Europa? Ou a sua garotinha para a agência de modelos, que fará dela uma estrela dos próximos comerciais, do concurso de miss, do programa de humor ou do estábulo do próximo reality?

Sei não.

Ponto final.

O Importante – sempre tão importante

microfone de rádio” – E aí, Fulano: vitória importante…
– Sem dúvida. Foram três pontos importantes, com um gol no momento importante, com a participação importante de todo o grupo, numa competição importante.
– Fale da importância dessa sequência de bons resultados do Clube do Mé Futebol Clube…
– Importantíssimo. Mas só chegamos a isso graças à participação importante do torcedor, apoiando nos momentos importantes, lotando o estádios em rodadas importantes, nos colocando nessa posição importante na tabela do campeonato.
– E quarta-feira tem um jogo importante…
– Por isso é importante a gente descansar bem amanhã, importantíssimo treinar bem na terça, porque é importante chegarmos bem preparados na próxima rodada.
– Tá aí o Lucas Fulano, jogador importantíssimo em mais uma vitória importante do Clube do Mé”.

É assim: em rádio e TV, nada mais – rá! – importante que o tempo. Então, só fale o que for… importante. Se não tiver importância, não diga.
Se você está dizendo aquilo, é importante – porque você não fala bobagem, não perde tempo com besteira, não enche linguiça.

Não precisa contar por ouvinte/telespectador que aquilo é importante. Se precisa explicar que tal coisa é importante, deve ser porque ela não importa pra ninguém nem pra nada.

Ou você troca a palavra por outra, que realmente informe alguma coisa, ou – melhor ainda – não qualifique, não adjetive. Só conte a importantíssima coisa que o David Fulano fez pelo Clube do Mé Futebol Clube.

Falar de improviso é uma coisa importante, meu caro.
Mas é importante treinar muito antes, no chuveiro, segurando o xampu igual microfone.
Importantíssimo.

Voltando…

O ElefanteNews ficou desativado desde 2011, quando voltamos de dois fantásticos anos vivendo em Moçambique. Desativado numas: deixou de ser alimentado, mas nunca saiu do ar.

Nesse tempo todo, uma média de 150, 200 pessoas por dia procurou o seu conteúdo, e teve a chance de conhecer um pouco mais da África no geral e de Moçambique em especial.

Pois o Elefante vai voltar a trombar por aí. Ainda não sei exatamente como, nem com qual frequência, mas decidi fazer com que ele volte a trombar com as notícias – sempre contra a manada.

Juntando um pouco do que tenho visto sobre jornalismo, falando um pouco da minha experiência no rádio e na TV, revisitando os maravilhosos períodos que vivemos em Moçambique, em Washington DC, em São Paulo e em Brasília.

Ou seja: o conteúdo antigo segue inteiramente disponível. E coisas novas vão começar a chegar.

Afinal, ainda há muita história pra contar.

E outras pra recontar. Afinal, como diz o nosso preclaro Ney Hayashi da Cruz (atualmente na Bloomberg de São Paulo, mas que por dez anos foi setorista da Folha no Banco Central): “Furo é tudo aquilo o que o meu editor ainda não sabe”.

Tem gente que acha que o mundo começou no dia em que ele nasceu. Ou, mais ainda: no dia em que ele começou a trabalhar.

Nesta linha, tenho lido que “uma das grandes novidades” na linguagem televisiva é ser “informal”-  usar “tá” no lugar de “está”, por exemplo. Já em termos de passagem de televisão (aquela hora em que o repórter aparece no vídeo), a “última moda” é aparecer com a mão no bolso.

Por isso, resolvi colocar, como foto fixa do Elefante, uma de 2008 – com um repórter conhecido dos senhores, fazendo passagem em Nova Jersey, Estados Unidos. Naquele tempo, o assunto já era crise. E o repórter já metia as mãos no bolso.

Tá?