Costa do Marfim: genocídio a caminho?

É o alerta dos especialistas.

Ainda dá tempo de evitar.

Reportagem da Agência Brasil.


20/01/2011
Especialistas temem genocídio na Costa do Marfim

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Especialistas em diretos humanos ligados às Nações Unidas fizeram um alerta para possibilidade de um genocídio na Costa do Marfim. De acordo com Edward Luck, conselheiro especial da área de proteção, as alegações de que milícias e as próprias forças armadas estariam recrutando grupos étnicos armados é “particularmente perturbador”.

“Há um risco real de que confrontos entre esses grupos espalhem-se pelo país”, diz Luck, citado pela Voz da América. “Se não for visto de perto, isso pode acabar em atrocidades em massa.” Segundo o especialista, os dois lados são responsáveis por conter o discurso “inflamatório”, que incitam o ódio e a violência.

A Costa do Marfim – maior produtor de cacau do mundo – vive um impasse político desde o segundo turno das eleições presidenciais, em 28 de novembro passado. Quatro dias depois da votação, a Comissão Eleitoral anunciou a vitória de Alessane Ouattara, da oposição. Mas a Corte Constitucional anulou os votos de sete regiões no Norte, sob alegação de irregularidades, e declarou o então presidente Laurent Gbagbo como vencedor.

Desde então, a comunidade internacional pressiona Gbagbo a deixar o poder. Com o apoio das Forças Armadas, ele resiste e defende a vitória. Ontem (19), Gabgbo anunciou que não aceita mais o mediador escolhido pela União Africana. Segundo ele, o primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, “não é um negociador neutro”.

Odinga deixou a Costa do Marfim dizendo que “o tempo para uma solução amigável está passando”. De acordo com ele, a possibilidade de anistia para Gbagbo e seus apoiadores diminui à medida que eles continuam “cometendo crimes contra civis e as forças de paz”.

Na quarta-feira (19), o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, por unanimidade, o envio de mais 2 mil soldados para a manutenção da paz na Costa do Marfim, elevando o total para 11 mil militares.

A eleição de novembro foi a primeira na Costa do Marfim em dez anos. Desde 2005, o pleito foi adiado algumas vezes por causa da falta de segurança. Três anos antes, uma tentativa de golpe tentou destituir Gbagbo. Ele manteve o posto, mas perdeu o controle da região norte do país – área que apoiou maciçamente a oposição e o candidato Ouattarra. Uma guerra civil estourou e durou dois anos.

Edição: Talita Cavalcante

Coalisão na Costa do Marfim?

Neste momento já sabemos que Gbagbo não aceitou a proposta. E que cinco pessoas morreram na cidade de Abdjian, em confrontos de grupos rivais.

Está piorando.

11/01/2011
Costa do Marfim: Quattara quer montar governo de unidade nacional

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Mocambique) – O candidato apontado pela comunidade internacional como vencedor das eleições presidenciais na Costa do Marfim, Alassane Ouattara, está disposto a montar um governo de unidade nacional. Porém, segundo o embaixador da Costa do Marfim na Organização das Nações Unidas (ONU), Youssoufou Bamba, o acordo só seria possível se Laurent Gbagbo efetivamente deixasse a presidência do país.

“O Sr. Gbagbo tem apoiadores, gente competente em seu partido. Estamos preparados a trabalhar junto com essas pessoas, em um gabinete de ampla composição”, disse o diplomata no programa de TV Hardtalk, da BBC de Londres. “Ele foi derrotado, tem que admitir isso. O resto é negociável”, acrescentou.

Bamba foi apontado para o posto por Ouattarra que, mesmo sem assumir a chefia do governo, nomeou um ministério logo depois das eleições, em 28 de novembro. De acordo com os resultados anunciados pela Comissão Eleitoral, ele foi o vencedor. Mas o governo contestou, alegando fraude, e a Justiça reverteu o resultado, dando vitória a Gbagbo.

Desde então, órgãos multilaterais como a ONU e a União Africana pressionam Gbgabo a deixar o poder. Ele resiste, alegando que a decisão da Corte Constitucional é soberana e acusando a comunidade internacional de tentar interferir em questões internas da Costa do Marfim. Além da Justiça, Gbagbo tem o apoio das Forças Armadas marfinenses.

Líderes de outros países africanos já visitaram a Costa do Marfim duas vezes, na tentativa de acabar com o impasse político. Na semana passada, a comitiva formada pelos presidentes de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, de Cabo Verde, Pedro Pires, e do Benim, Bon Yayi, além do primeiro-ministro do Quênia, Rayla Odinga, esteve em Abdijan, em reuniões com os dois candidatos. Ao final dos encontros, disseram apenas que “as negociações continuavam”.

De acordo com a ONU, pelo menos 200 pessoas morreram desde o início da crise política. Mais de 20 mil marfinenses fugiram do país temendo nova guerra civil. A eleição, esperança da volta da estabilidade, ocorreu dez anos depois da última escolha direta dos líderes do país.

Gabgbo manteve-se cinco anos no cargo sem mandato efetivo, porque não havia condições de realizar eleições. Em 2000, houve uma tentativa de golpe para derrubá-lo. Dois anos depois, estourou uma guerra civil entre o Sul e o Norte da Costa do Marfim. Diferenças étnicas também acirram os ânimos. Desde então, o governo central não retomou o controle completo sobre o Norte do país.

Nos últimos dias, 33 pessoas morreram e mais de 70 ficaram feridas na área de Duekoue, em um conflito entre tribos Dioula e Guere, de acordo com dados da ONU. Centenas de moradores deixaram suas casas, buscando abrigo nas igrejas da região.

Edição: Graça Adjuto

Coalisão na Costa do Marfim?

Neste momento já sabemos que Gbagbo não aceitou a proposta. E que cinco pessoas morreram na cidade de Abdjian, em confrontos de grupos rivais.

Está piorando.

11/01/2011
Costa do Marfim: Quattara quer montar governo de unidade nacional

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Mocambique) – O candidato apontado pela comunidade internacional como vencedor das eleições presidenciais na Costa do Marfim, Alassane Ouattara, está disposto a montar um governo de unidade nacional. Porém, segundo o embaixador da Costa do Marfim na Organização das Nações Unidas (ONU), Youssoufou Bamba, o acordo só seria possível se Laurent Gbagbo efetivamente deixasse a presidência do país.

“O Sr. Gbagbo tem apoiadores, gente competente em seu partido. Estamos preparados a trabalhar junto com essas pessoas, em um gabinete de ampla composição”, disse o diplomata no programa de TV Hardtalk, da BBC de Londres. “Ele foi derrotado, tem que admitir isso. O resto é negociável”, acrescentou.

Bamba foi apontado para o posto por Ouattarra que, mesmo sem assumir a chefia do governo, nomeou um ministério logo depois das eleições, em 28 de novembro. De acordo com os resultados anunciados pela Comissão Eleitoral, ele foi o vencedor. Mas o governo contestou, alegando fraude, e a Justiça reverteu o resultado, dando vitória a Gbagbo.

Desde então, órgãos multilaterais como a ONU e a União Africana pressionam Gbgabo a deixar o poder. Ele resiste, alegando que a decisão da Corte Constitucional é soberana e acusando a comunidade internacional de tentar interferir em questões internas da Costa do Marfim. Além da Justiça, Gbagbo tem o apoio das Forças Armadas marfinenses.

Líderes de outros países africanos já visitaram a Costa do Marfim duas vezes, na tentativa de acabar com o impasse político. Na semana passada, a comitiva formada pelos presidentes de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, de Cabo Verde, Pedro Pires, e do Benim, Bon Yayi, além do primeiro-ministro do Quênia, Rayla Odinga, esteve em Abdijan, em reuniões com os dois candidatos. Ao final dos encontros, disseram apenas que “as negociações continuavam”.

De acordo com a ONU, pelo menos 200 pessoas morreram desde o início da crise política. Mais de 20 mil marfinenses fugiram do país temendo nova guerra civil. A eleição, esperança da volta da estabilidade, ocorreu dez anos depois da última escolha direta dos líderes do país.

Gabgbo manteve-se cinco anos no cargo sem mandato efetivo, porque não havia condições de realizar eleições. Em 2000, houve uma tentativa de golpe para derrubá-lo. Dois anos depois, estourou uma guerra civil entre o Sul e o Norte da Costa do Marfim. Diferenças étnicas também acirram os ânimos. Desde então, o governo central não retomou o controle completo sobre o Norte do país.

Nos últimos dias, 33 pessoas morreram e mais de 70 ficaram feridas na área de Duekoue, em um conflito entre tribos Dioula e Guere, de acordo com dados da ONU. Centenas de moradores deixaram suas casas, buscando abrigo nas igrejas da região.

Edição: Graça Adjuto

De volta ao blog. De volta à Costa do Marfim

Tenho falado desse assunto aqui (e na Agência Brasil, claro) desde antes do primeiro turno. Estava na cara que poderia dar problema. Está na cara que não vai ser fácil de resolver.

03/01/2011
Países africanos voltam a se reunir para avaliar situação na Costa do Marfim

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, enviado da União Africana, junta-se hoje (3) aos chefes de Estado de Benim, Cabo Verde e Serra Leoa para uma nova rodada de negociações na tentativa de que Laurent Gbagbo deixe pacificamente a presidência da Costa do Marfim.

O grupo representa e reforça a Ecowas – Economic Community of West African States ou Comunidade Econômica da África Ocidental -, criada em 1975 e que reúne o Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, a Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, a Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, o Níger, a Nigéria, o Senegal, Serra Leoa e o Togo.

Em 28 de novembro passado, Gbagbo e o ex-primeiro ministro Alassane Ouattarra concorreram na primeira eleição na Costa do Marfim em dez anos. A oposição foi declarada vencedora pela Comissão Eleitoral. Mas a Corte Suprema do país reviu os números, alegando fraude, e deu a vitória a Gbagbo.

Além de opositores políticos, os dois candidatos são de etnias diferentes.

Gbagbo chegou a ordenar a saída dos 10 mil soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) do país, sob alegação de interferência interna. A ONU foi o primeiro órgão internacional a acusar o então presidente de subverter a vontade popular ao permanecer no poder. Outros organismos multilaterais e países também condenaram a decisão de Gabgbo.

As Nações Unidas mantiveram as tropas para cumprir o mandato internacional de monitorar o acordo de paz, que acabou com a guerra civil de 2002/2003. Os soldados também guardam o hotel onde Ouattara está instalado desde o segundo turno.

Apoiadores de Gbagbo alegam que ele foi legitimamente reeleito e que a decisão da Corte foi soberana, independente e de acordo com a Constituição do país. Na mensagem de Ano-Novo, Gbagbo anunciou que não iria ceder às pressões. Ele controla a rádio e TV estatais e recebe apoio das Forças Armadas marfinenses.

De acordo com a Voz da América, o embaixador Yao Gnamien, conselheiro de Gbagbo, afirmou que os líderes internacionais não chegam para negociar a saída dele do poder, mas sim para “encontrar uma solução pacífica para a crise.”

A Ecowas já alertou que fará “uso legítimo de força” caso Gbagbo se recuse a deixar o cargo. Segundo o embaixador, a comunidade internacional já ouviu as alegações do candidato Ouattara e deveria fazer o mesmo com Gbagbo.

Os presidentes Ernest Bai Koroma (Serra Leoa), Pedro Pires (Cabo Verde) e Bon Yayi (Benim) estiveram em Abdijan na semana do Natal, mas as negociações não tiveram sucesso. Amanhã (4), o grupo se reúne com Goodluck Jonathan, presidente da Nigéria e atual líder da Ecowas, para avaliar a situação.

De acordo com a BBC, grupos de direitos humanos alegam que aliados de Gbagbo sequestraram oponentes políticos. Muitas casas teriam sido marcadas para identificar a origem étnica de seus moradores. Segundo a ONU, o número de mortos desde o início da crise passa de 200.

Edição: Graça Adjuto

Costa do Marfim: já não dizem mais que a oposição ganhou. Agora, ganhou o governo.

Pois é. Era uma coisa. Agora é outra.
Semana que vem vamos publicar – na Agência Brasil e aqui – uma reportagem que estou preparando sobre os golpes de estado, as crises políticas, as implicações econômicas e como a África lida com isso hoje em dia.

Será finalizada em Cabo Verde, para onde viajo amanhã, sábado.

Por enquanto… Costa do Marfim.

03/12/2010
Conselho reverte resultado da eleição na Costa do Marfim e atual presidente é declarado vencedor

Eduardo Castro*
Correspondente da EBC na África

Maputo – O presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, venceu o segundo turno das eleições, realizado no último domingo (28), com mais de 51%, proclamou hoje (3) o Conselho Constitucional marfinense. De acordo com a Agência Lusa, a decisão invalida os resultados provisórios apresentados pela Comissão Eleitoral, que davam a vitória ao ex-primeiro-ministro Alassane Ouattara.

O resultado definitivo foi divulgado pelo presidente do conselho, Paul Yao N”Dré, em declaração à imprensa: Laurent Gbagbo foi reeleito presidente da Costa do Marfim com 51,45% dos votos, contra 48,55 de Quattara.

Segundo o Conselho Constitucional, houve uma série de erros na contagem de votos, conduzida pela Comissão Eleitoral, que deram 54% do total a Ouattara.

De acordo com a BBC, a corte anulou os votos de sete regiões no Norte do país, sob a alegação de irregularidades. É nesta área que a oposição tem mais apoio.

Ontem (2), em meio a muita expectativa, a Comissão Eleitoral havia anunciado a vitória de Ouattara, depois de ultrapassar o prazo legal para a apuração. Pela Constituição marfinense, os votos deveriam estar todos contabilizados até a meia-noite de quarta-feira (1º).

A oposição alega que o atraso se deu por pressão dos partidários do governo, que chegaram a impedir fisicamente a leitura de uma parcial da apuração.

Depois de um primeiro turno relativamente calmo, segundo observadores internacionais, o clima na Costa do Marfim ficou bem mais tenso nas proximidades da segunda votação. Mesmo com os dois candidatos pedindo calma a seus apoiadores, houve cenas de violência e registro de mortes.

Para evitar conflitos durante a apuração, o governo decretou toque de recolher para depois do fechamento das urnas. A medida foi estendida até o próximo domingo (5).

É a primeira eleição presidencial na Costa do Marfim em dez anos. O mandato do atual presidente deveria terminar em 2005, mas as eleições foram adiadas cinco vezes. Em 2002, o governo de Laurent Gbagbo foi alvo de uma tentativa de golpe. Ele manteve-se no poder, mas perdeu o controle da Região Norte. A guerra civil prolongou-se por dois anos.

O conflito armado afugentou investidores, que, na época, procuravam o país – o maior produtor de cacau do mundo. De lá para cá, a economia deteriorou-se.

A rivalidade étnica também tem muito peso no país. Alassane Ouattara e Laurent Gbagbo são de grupos distintos.

*Com informações das agências Lusa e BBC

Edição: Nádia Franco

Eleição na Costa do Marfim: ganhou a oposição. É o que dizem, ao menos

É o tipo de matéria que faço preocupado com o país em questão, mas com alguma satisfação em mostrar como é o mundo a alguns dos nossos compatriotas – aqueles “assustados”.

Aqueles, que arrancam a roupa gritando pela “liberdaaaaaade”, falando em “escalada antidemocrática”, “ditadura”, tal.

Chega a ser ridículo quando espreitamos um pouquinho mais por aí.

02/12/2010
Candidato da oposição vence eleição presidencial marcada pela violência na Costa do Marfim

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O ex-primeiro ministro e candidato da oposição, Alassane Ouattara, foi declarado vencedor do segundo turno da eleição presidencial na Costa do Marfim, ocorrido no último domingo (28). De acordo com a Agência Lusa, de Portugal, ele obteve 54,1% dos votos na disputa com o atual presidente, Laurent Gbagbo. Os números finais foram divulgados pelo chefe da Comissão Eleitoral, Youssouf Bakayoko.

A Corte Constitucional contestou a divulgação. Correligionários do atual presidente alegam ter havido fraude no Norte do país, área controlada por antigos rebeldes e onde Ouattara é mais popular. Ontem (1), pelo menos quatro pessoas morreram quando homens armados dispararam tiros contra as pessoas que estavam em um escritório eleitoral de Gbagbo. De acordo com testemunhas, citadas pela agência norte-americana Voz da América, atiradores mascarados invadiram o comitê, em Abidjan (capital do país), pouco antes da meia-noite.

Praticamente ao mesmo tempo, o chefe da Comissão Eleitoral estava na televisão anunciando que precisava de mais tempo para finalizar a apuração. O prazo previsto na Constituição do país expirou à meia-noite de ontem. Na véspera, durante uma tentativa de anúncio dos resultados parciais, um correligionário do atual presidente arrancou das mãos do porta voz da comissão o papel com os resultados contabilizados até então e rasgou o documento na frente das câmeras de TV, que transmitiam o anúncio.

Depois de um primeiro turno relativamente calmo, de acordo com observadores internacionais, as semanas que precederam a votação decisiva de 28 de novembro foram muito tensas, inclusive com confrontos entre correligionários dos dois candidatos. Mesmo com o toque de recolher, carros foram queimados nas ruas de Abidijan, depois do fechamento das urnas.

Por causa da violência, o governo determinou a extensão, até o próximo domingo (5), do toque de recolher que está em vigor desde domingo passado.

A Costa do Marfim, maior produtor de cacau do mundo, deixou de atrair recursos internacionais depois de uma tentativa de golpe de Estado em 2002, que precedeu uma guerra civil que durou dois anos. A eleição, adiada cinco vezes desde 2005, é aguardada como uma chance de o país se reintegrar à economia mundial e voltar a receber investimentos externos.

Edição: Vinicius Doria