Na Record Moçambique/ TV Miramar

Menos um desempregado no mundo: comecei hoje a colaborar com a Record Moçambique, que aqui assina como TV Miramar.

Numa só tacada, mato duas grandes vontades profissionais: ver de perto como é a TV aqui em Moçambique – e como se dá essa relação entre lusófonos e Brasil; e também trabalhar para a mais antiga emissora brasileira em atividade.

Fato que não vou, a princípio, fazer nada para a Record do Brasil. É uma consultoria no jornalismo local. Desafio interessante, porque muitos jornalistas que fazem TV hoje, em Moçambique, nasceram num tempo em que não havia TV no país. Ou, se tanto, havia uma única emissora – a TV do estado, numa época de partido único ou de guerra civil.

A ideia não é impôr o “estilo brasileiro” de fazer TV ou jornalismo. Mas sim colocar à disposição dos colegas daqui uma fórmula testada, que tem falhas detectadas (no formato menos; no conteúdo muito mais), mas que é bem diferente das referências portuguesas ou de jornal impresso que também acabaram marcando o mercado local. Vamos ver.

Record é uma marca histórica. Tantos foram os colegas mais velhos que muito me influenciaram na Bandeirantes e na Trianon que tinham passado por ela e pela Jovem Pan (que eram do mesmo grupo). Tantos outros colegas, mais novos, que começaram comigo na Bandeirantes ou Trianon que hoje estão na Record. Sem contar que Bandeirantes e Record, um dia, foram uma coisa só.

A TV Record nasceu em 27 de setembro de 1953. A primeira imagem a aparecer foi a de uma escada; por ela desceu a maior estrela da Rádio Record na época, Blota Junior, que apresentou a nova emissora: “Boa noite. Está no ar a TV Record, canal 7 de São Paulo.”

Anos depois, na sala da casa dele, junto com minha futura esposa Sandra e futura madrinha de casamento (a neta dele, Sonia, hoje repórter da BAND), ouvi Blota dizer que gostava do nome com o qual eu tinha assinado minha primeira reportagem, naquela mesma semana (uma greve de professores em São Paulo): “Curto, forte e sonoro”.

“Talvez pudesse usar algo mais jovem, como ‘Edu Castro Macedo”, disse ele. “Mas, não”. Sentenciou: “Eduardo Castro vai dar certo.”

Fora o saudoso Gerson de Abreu, falecido, do “X Tudo”, da TV Cultura, que me chamava de “Duda Castrão” na Rádio Trianon (e meu padrinho André Porto Alegre lembra e adora até hoje) – nunca mais ninguém me chamou no ar por outro nome.

Sábio Blota. Já pensou se tivesse vingado o “Edu”? Depois de ouvir, na TV Brasil, que tinha me “aboletado numa boquinha”, agora ia ter jênio (com “j” mesmo, pra enfatizar a genialidade) dizendo que só arrumei o novo emprego porque “sou” da família.

60 anos de TV no Brasil

Pra lembrar, um dos maiores nomes dela em todo esse tempo, que passou nela a maior parte desse tempo.

Blota Junior foi a primeira pessoa a aparecer na mais antiga emissora em atividade no Brasil, a Record. Em 27 de setembro de 1953, a TV entrou no ar com ele descendo uma escada e anunciando “boa noite. Está no ar a TV Record, canal 7 de São Paulo”.

Teve que aprender a fazer TV fazendo, e, ao longo da vida, ensinou muita gente a fazer também. Orgulhosamente, fui um deles.

Convivemos na Bandeirantes e na casa dele – era avô da minha madrinha de casamento, Sonia, repórter da Band.

Me ajudou até a escolher o nome. Aliás, se não fosse “Eduardo Castro” seria “Edu Castro Macedo”. Segundo ele, os dois funcionariam no ar.

Ele morreu um pouquinho depois do meu casamento, no final de 1999. Numa deferência que não me esqueço, a família ligou pra me avisar durante uma edição do Jornal da Bandeirantes Gente. Dei a informação com um aperto no peito.

Aqui embaixo, Blota Junior fazendo o que mais sabia: TV, e de improviso. Apresentando o prêmio Roquete Pinto de 1970. Ele inventou o prêmio, e ganhou tantos que virou hors concours. Ao seu lado – como sempre – a esposa Sonia Ribeiro.

Um desses tantos troféus em formato de papagaio, o de “melhor apresentador de 1962”, está conosco. Presente da Sonia (a neta). Uma inspiração e tanto.

Senhoras e senhores: com vocês, Blota Junior e Sonia Ribeiro….

Em tempo: 18 de setembro é aniversário da TV no Brasil porque marca a primeira transmissão oficial do veículo e a inauguração da primeira estação, a TV Tupi de São Paulo. Ela foi fechada em 1980, depois de ter a concessão cassada pela ditadura militar.