BioÁfrica

Biocombustíveis na África podem mudar a cara do continente.

Baixar gastos com petróleo – muita grana, que pode ir pra outras coisas.

Poluir muito menos. Gerar emprego.

Isso, se for com cuidado e responsabilidade.

Se trouxer emprego decente e deixar a tecnologia aqui.

Se ajudar na educação profissional. Se levar infraestrutura para onde não tem.

Se não encher o país só de cana, porque aqui precisa de muito mais comida.

Se bem que, pelo que compreendi, o problema da fome não é, propriamente, só produção. Mas distribuição principalmente.

Em suma: a culpa, mesmo, é do busínes.

25/02/2011
Brasil vai ajudar Moçambique em estudo para produção de biocombustíveis

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Brasil, União Europeia e Moçambique anunciaram hoje (25) o início de estudos conjuntos para determinar o potencial do território moçambicano para produzir biocombustíveis. Será o primeiro país africano a se beneficiar da cooperação, que pretende auxiliar na implementação de projetos nesse setor em várias partes do continente.

“Esperamos que esse projeto contribua para criar um mercado mundial de biocombustíveis”, disse o embaixador André Amado, subsecretário de Energia e Alta Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, durante a cerimônia de lançamento, em Maputo. “Biocombustíveis são uma benção”, afirmou.

O trabalho será conduzido por técnicos da Fundação Getulio Vargas e financiado pela mineradora Vale, ambas brasileiras. O projeto estava previsto desde a assinatura de um uma declaração conjunta, em julho do ano passado.

Moçambique estuda como produzir e usar biocombustíveis em larga escala desde 2007. Dois anos depois, o país aprovou a Estratégia Nacional para o setor, que será majoritariamente explorado por investidores privados.

Segundo o ministro de energia de Moçambique, ainda este ano deve ser aprovada a lei que obriga a misturar álcool à gasolina e biodiesel ao óleo diesel. “Será uma forma de criar o mercado”, afirmou Salvador Namburete. De acordo com o ministro, a regra vai determinar um prazo para a adoção da mistura. Também vai estipular que, caso ainda não haja produção nacional suficiente, Moçambique deverá importar biocombustível para completar a porcentagem. “Acredito ser possível comprarmos viaturas [automóveis] com motor flexível, produzidos no Brasil, por exemplo.”

Para Namburete, “o biocombustível é o caminho”, ainda mais agora, com a nova escalada nos preços do petróleo, por causa da crise política nos países produtores, como a Líbia. “Algumas projeções falam em fecharmos o ano com barril custando acima de U$ 220. Em 2008, quando houve uma queda de preços, houve quem acreditasse que o problema tinha acabado. Agora, estamos algumas estacas à frente”.

O passo inicial da cooperação é fazer o levantamento completo das condições de relevo, clima, solo, sociais, ambientais, de mercado, de infraestrutura e de marco legal do país. Tudo o que pode impactar na sustentabilidade e viabilidade da produção da bioenergia. Moçambique já tem parte do trabalho feito, o que deve abreviar a primeira etapa, prevista para terminar em setembro.

Identificadas as áreas adequadas para o cultivo, o estudo recomendará modelos de negócio e projetos, que poderão envolver etanol, bioeletricidade, biodiesel, biomassa sólida, ou ainda uma combinação entre elas, ou com a produção de alimentos. A expectativa é que os primeiros resultados surjam em cerca de três anos.

“Moçambique tem tudo para ser um dos líderes africanos na produção de biocombustíveis”, afirmou César Campos, da Fundação Getulio Vargas. “[O país] está entre o Trópico de Capricórnio e a [a linha do] Equador, e no meio do caminho entre a Europa e a Ásia”, disse.

O projeto, segundo ele, está preocupado em integrar a comunidade nas ações e nos resultados, gerando empregos de forma sustentável. “A ideia é sempre aproveitar áreas já degradadas e incluir as comunidades e também a produção de alimentos”, declarou Campos. “Experiências anteriores, como culturas de algodão, só perpetuaram a pobreza aqui, e não nos interessa repetir o modelo”, disse o ministro Namburete.

O ministro diz ser algo equacionável plantar para produzir combustível em um país que ainda tem parte da sua população passando fome. “Temos consciência dos desafios quanto ao uso da terra, e vamos trabalhar para que haja o equilíbrio com a produção alimentar. Está provado que o futuro será a coexistência, e não o conflito”, afirmou. “Esse problema não se põe aqui.”

O representante do governo brasileiro reforçou que “o biocombustível não compete com a produção de alimentos, porque sua produtividade é muito alta”. “Mas é preciso ser responsável na aplicação, levando em conta as particularidades locais, sem simplesmente repetir o que funcionou em um país no outro”, disse André Amado. “Não é a panaceia para todos os problemas. Mas, certamente, tem seu lugar no desenvolvimento da África.”

O embaixador afirmou ainda que o projeto envolve transferência de conhecimento e tecnologia. “Não interessa nem ao investidor que, caso quebre uma máquina, ele tenha que fazer manutenção no país vizinho”, disse.

Edição: Talita Cavalcante

Lula chegou… e já deu entrevista

Na TV Brasil, mostramos assim, como você vê clicando aqui.

Na Agência Brasil, os seis primeiros minutos de convívio aqui (o tempo da entrevista) rendeu a reportagem que vai aí embaixo.

08/11/2010
Lula chega a Maputo e comenta apoio dos EUA à Índia para o Conselho de Segurança da ONU

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, desembarcou hoje (8) à noite em Maputo para sua última visita à África no exercício do cargo. O avião presidencial, procedente de Brasília, pousou na Base Aérea de Malavane às 23h30 – hora local (19h30 em Brasília).

Ao chegar na capital de Moçambique para uma visita de dois dias, Lula comentou o apoio dos Estados Unidos à entrada da Índia no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Para o presidente, a decisão americana não é uma ameaça às pretensões brasileiras de ter um assento permanente no órgão.

“Pelo contrário”, disse. “O Brasil defende a participação da Índia. E a Índia faz parte do G4 (Brasil, Índia, Alemanha e Japão). Eu só espero que o presidente Obama [Barack Obama, presidente dos Estados Unidos] faça agora desse compromisso, dele com a Índia, uma profissão de fé e consiga efetivamente abrir o Conselho de Segurança para que outros países possam participar”, afirmou.

Lula também falou sobre os problemas envolvendo as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicadas nesse fim de semana e que foram suspensas pela Justiça Federal no Ceará. “É muito difícil lidar com seriedade quando se tem pessoas que não agem com seriedade”, afirmou o presidente. De acordo com ele, o Enem foi um “sucesso extraordinário, com mais de 3 milhões de participantes. “Não vai ser um ou outro caso que vai impedir o sucesso do Enem”, disse.

A agenda do presidente Lula em Maputo contempla as iniciativas de cooperação, diplomáticas e comerciais. Ela começa amanhã (9), às 11h da manhã (8 horas em Brasília), com uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, que se torna a primeira instituição estrangeira a fazer parte da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que capacita professores por meio do ensino a distância. A Universidade Eduardo Mondlane também participa do projeto.

O acordo prevê, ao fim de quatro anos, a participação de mais de 7 mil estudantes em quatro cursos – gestão pública, pedagogia, matemática e biologia. Mais de 90 universidades brasileiras estão envolvidas na UAB. Os estudantes farão jus à dupla diplomação (os diplomas serão reconhecidos nos dois países) e os cursos terão metade do currículo desenvolvido em cada país.

A aula inaugural será transmitida simultaneamente plea internet para dois polos instalados em Moçambique, além da capital Maputo: Lichinga e Beira. Um total de 620 estudantes vai acompanhar a palestra.

À tarde, o presidente Lula irá receber um grupo de empresários brasileiros e moçambicanos para um encontro no Hotel Serena Polana. Ele terá uma reunião fechada com representantes de empresas brasileiras já instaladas em Moçambique, como a Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Vale, Queiroz Gavão e outras.

No fim do dia, o presidente irá a um jantar na residência oficial da Ponta Vermelha, sendo recebido pelo colega moçambicano Armando Emílio Guebuza. Na ocasião, serão assinados atos de cooperação. Dois deles na área de saúde maternoinfantil: um ajuda na criação de um banco de leite materno e outro no desenvolvimento de uma biblioteca de saúde.

A agenda termina na quarta-feira (10), de manhã, com a visita à futura fábrica de medicamentos antirretrovirais construída com apoio do Brasil. Um projeto que nasceu há sete anos, quando da primeira visita de Lula ao país. O presidente brasileiro irá ao local onde ela será instalada – um galpão de 2 mil metros quadrados ao lado de uma fábrica de soros do governo moçambicano, na cidade da Matola, vizinha a Maputo.

O Brasil também irá doar 21 dossiês de medicamentos a serem produzidos em Moçambique, sem a necessidade de pagamento de direitos ou royalties. Cada documento, no mercado, poderia custar entre U$ 30 e 80 mil.

Hoje, técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – que fará a gestão técnica da fábrica – terminavam a instalação da primeira máquina da linha de produção, que terá a função de moldar e embalar comprimidos. Ela ficará em Moçambique até a chegada do conjunto completo de novos equipamentos adquiridos nos Estados Unidos. A peça, emprestada, foi trazida da Fiocruz há dez dias, em um avião da Força Aérea Brasileira.

A coordenadora do projeto, Lícia de Oliveira disse que há necessidade de uma obra de adequação do prédio, que deve começar ainda no mês que vem. “A previsão é que, entre março e abril, chegue o conjunto completo de equipamentos, que será instalado paralelamente à obra”. Depois de terminada a readequação técnica do prédio, a fábrica precisa receber a validação
e passa pela fiscalização para funcionamento.

“A primeira fase se dará pelo processo de capacitação para a feitura de embalagem e técnicas de controle de qualidade, até chegar à fabricação propriamente dita. Mas no fim do processo, aqui haverá uma fábrica completa”, explicou diz Hayne Felipe, diretor de Farmanguinhos, unidade tecnicocientífica da Fiocruz. Segundo ele, a previsão “otimista” é que isso ocorra até 2012.

“É extremamente gratificante e importante ajudar a capacitar este país tecnologicamente e, ao mesmo tempo, dar a ele condição de enfrentar este quadro trágico que é a epidemia de HIV/aids”, disse Hayne. “Nos traz uma lembrança de quando tivemos que enfrentar situação semelhante na década de 1970, no Brasil, com relação à produção de imunobiológicos”.

Moçambique está entre os dez países mais atingidos pelo vírus da aids no mundo, com índice de prevalência de 15% entre os adultos. Ao todo, o país tem cerca de 1,7 milhão de infectados em uma população de cerca de 22 milhões de habitantes.

Edição: Aécio Amado