Cara de 50 mil

Um amigo que anda pela África me contou mais uma (já leu as outras? Clique aqui) que contaram para ele…

O sujeito ganhou uma concorrência pública para montar um sala. Telas de plasma, fones de ouvido para tradução, microfones de mesa – tudo de primeira. Cadeiras estofadas, divisórias anti-ruído, luz dimerizada. Coisa linda mesmo.

Lá pelas tantas, toca o telefone. Era o assessor encarregado. “Amigo”, diz ele. “Precisamos quotar um equipamento tal e tal, para tal e tal coisa. Aquele que você mandou pra lá não serve! É muito pequeno”.

“Pequeno?”, pensou o amigo. Fazia tudo o que eles pediam, do jeito que eles pediram no edital. Já estava até instalado.

“Como assim, pequeno?”

“Pequeno, meu amigo! Venha ver.”

O amigo foi. Viu lá a caixa, instalada no lugar certo, o troço funcionando, luzinhas piscando, tudo. Só que o ocupava menos de um terço do lugar destinado para ele.

“Viu só? Pequeno”.

“Mas, chefe, isso basta para o que precisa aqui”, argumentou o amigo fornecedor.

“Não. Precisa ser grande. Ocupar isso tudo… olha bem: tem cara de 50 mil? Não! Tem cara de 5 mil, no máximo. Tem que ter cara de 50 mil!”

“Entendido”, pensou o amigo. E mandou trazer outro equipamento, que fazia a mesma coisa. Só que, agora, era do tamanho de uma geladeira. Chamou o chefe pra ver.

“Aí sim, amigo! Agora tem cara de 50 mil.”

O primeiro tinha custado mil. O segundo, 12 mil – que foi o efetivamente pago. A nota lá para a contabilidade, claro, sempre foi a mesma – de 50 mil.

Afinal, tava na cara, amigo!

10%. Nem mais, nem menos

Um empresário brasileiro que vive aqui na África me contou que, logo que chegou, ouviu um esclarecedor relato de um colega mais experiente.

Diz que toca o telefone e é o diretor de uma empresa estatal de um dos países com os quais eles têm negócios, para quem eles acabaram de vender um serviço por concorrência pública.

Sem o mínimo constrangimento, o burocrata queria discutir, pelo telefone, a parte dele.

“Ah?”, disse o brasileiro. “Mas nós ganhamos uma concorrência!”

Segundo o interlocutor, isso não fazia diferença. Da próxima vez, ele poderia procurá-lo antes da concorrência, aliás – pra incluir o valor no total da conta.

Pra encurtar, queria 10% do valor. E – honestão – disse que 10% era o praxe. Terminou alertando: “ó, se te pedirem mais que isso, é gente tentando ser esperta. Não caia nessa”.