Sudão pode mesmo virar dois

Um dos maiores territórios africanos – o do Sudão – pode se dividir depois de janeiro. Reportagem da Agência Brasil.

06/10/2010
Sudão anuncia calendário para realização de referendo sobre futuro do Sul do país

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – O governo do Sudão anunciou o calendário para a realização do referendo sobre o futuro da parte Sul do país. A consulta popular foi um dos itens do acordo de paz fechado em 2005, que colocou fim à guerra civil de cerca de 20 anos, que matou 1,5 milhão de pessoas.

De acordo com o calendário, o registro dos eleitores será feito entre os dias 14 de novembro e 4 de dezembro. A votação está marcada para 9 de janeiro de 2011. A Organização das Nações Unidas (ONU) vai auxiliar no caso de haver dúvida sobre quem deve estar cadastrado para participar da votação.

O anúncio da Comissão de Referendo ocorre durante uma visita de representantes do Conselho de Segurança da ONU. A delegação também visita Darfur, onde, em 2003, grupos étnicos se rebelaram, acusando o governo sudanês de discriminação e negligência. A resposta foi forte e, segundo a ONU, deixou 300 mil mortos e ocasionou a fuga de quase 3 milhões de pessoas.

Devido ao ocorrido em Darfur, o presidente sudanês Omar Al-Bashir é acusado de crime de guerra e genocídio, com ordem internacional de prisão em vigor, expedida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Bashir nega as acusações. Líderes africanos já solicitaram a suspensão da determinação, alegando que ela poderia causar tensão ainda maior no continente.

Em abril, Bashir ganhou as primeiras eleições no Sudão em 24 anos, com quase 70% dos votos.

Movimentos separatistas querem a independência da parte Sul do Sudão, rica em petróleo, cuja capital é a cidade de Juba. Também estará sendo votado o futuro da região de Abiey.

No mês passado, um grupo de organizações não governamentais e agências humanitárias divulgou uma carta aberta em Nova Iorque (EUA) solicitando dos líderes internacionais medidas que assegurem a realização pacífica do referendo.

“Apesar da iminência do referendo, muitas questões essenciais permanecem sem resposta, incluindo a demarcação da fronteira Norte-Sul, a inscrição nas listas eleitorais e a partilha dos rendimentos do petróleo”, dizia o texto.

Líderes internacionais temiam que a não realização da votação pudesse causar a ruptura unilateral por parte dos moradores do Sul, dando início a nova guerra civil. O Sudão foi tema de uma reunião na sede da ONU no fim do mês passado, durante a Assembléia Geral.

Edição: Graça Adjuto