Gás metano, cobre, Vale

É… dá sim. No lixo, no centro da terra, no esterco.

E vamos parar por aqui.

14/10/2010
Vale estuda usar gás metano de mina de carvão para gerar energia em Moçambique

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – O governo de Moçambique e a mineradora brasileira Vale estudam a possibilidade de utilizar gás metano na geração de energia elétrica. A ideia é aproveitar o gás que é liberado durante o processo de extração de carvão mineral. A Vale deve começar a explorar comercialmente uma mina instalada na província de Tete a partir do ano que vem.

A informação foi confirmada pelo vice-ministro moçambicano de Recursos Minerais, Adbul Razak. “Não se sabe ainda se essa energia será usada para a rede pública nacional ou se vai ser para o consumo interno da própria mineradora”, disse ele ao jornal público Notícias. O estudo de viabilidade deve ser feito com ajuda de parceiros indianos.

A Vale já investiu mais de U$ 720 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) na montagem da Mina de Moatize, que começará a exportar carvão metalúrgico e térmico em junho do ano que vem. O total estimado de exportações é da ordem de 1,2 milhão de toneladas só em 2011. As reservas são projetadas em 870 milhões de toneladas.

A Vale começou a operar em Moatize em 2004, quando ganhou a concorrência para fazer estudos de viabilidade no local, que fica a mais de 1,7 mil quilômetros (km) ao norte da capital moçambicana Maputo. Em 2007, recebeu a autorização de mineração e iniciou as obras de implantação da mina no ano seguinte.

A brasileira Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a primeira em exploração de minério de ferro.

Nesta quinta-feira (14), a Vale lançou a pedra fundamental de mais um projeto na África: a Mina de Cobre Konkola North, na Zâmbia. Trata-se de uma joint venture de cerca de U$ 400 milhões (R$ 660 milhões, aproximadamente) com a African Rainbow Minerals (ARM). Os investimentos podem chegar a US$ 1 bilhão (R$ 1,65 bilhão) em cinco anos. Localizado no distrito de Chililabombwe, o projeto deve começar a produzir em 2013. Com vida útil estimada em 28 anos, a mina deve produzir mais de 45 mil toneladas métricas anuais de minério, chegando ao volume máximo de 100 mil em 2 anos.

Na cerimônia, o presidente da Zâmbia, Rupiah Banda, comemorou a abertura do empreendimento, que pode gerar até 3 mil empregos, dizendo que demostra o sucesso da política do governo de atrair investidores e privatizar o setor de mineração, 12 anos atrás.

Durante as tratativas para a instalação da mina, o sindicato dos mineiros profissionais daquele país se opôs à entrada da Vale. A indústria da exploração de cobre é a maior empregadora da Zâmbia. O setor tem mais de 12 milhões de assalariados.

Edição: Vinicius Doria

O Brasil quer a África. E a África quer o Brasil

A conversa com o sr. Raj (veja aqui) rendeu mais que uma xícara (ou chávena, como dizem os patrícios lusos) de chá.

Conforme publicado na Agência Brasil.

11/10/2010
Ilha de estabilidade na África, Maurício quer estreitar relações com o Brasil

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Ilhas Maurício, considerado o país mais bem governado da África, quer estreitar os laços comerciais com a América Latina. E o local favorito para abrir a primeira embaixada no continente é o Brasil. “Somos uma história de sucesso no Continente Africano, e agora achamos que é possível buscar novos mercados”, disse o ministro de Negócios Estrangeiros, Integração Regional e Comércio Internacional, Arvin Boolell, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo o ministro, o país busca espaço nos mercados emergentes. “Queremos ser uma plataforma para Índia e China. Estamos bem localizados e temos instituições consolidadas”. Pelo terceiro ano seguido, Ilhas Maurício apareceu em primeiro lugar no Índice de Governação da Fundação Mo Ibrahim, que mede a distribuição de bens e serviços públicos dos países africanos. O índice dá notas a indicadores tão variados quanto fornecimento de energia elétrica e água potável, gestão pública, acesso à educação, segurança jurídica e pessoal e respeito aos direitos humanos. A média africana foi de 49 pontos. Maurício obteve 82.

Além de Maurício, somente Líbia e Ilhas Seychelles têm Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto em toda a África. “É algo que muito nos orgulha”, disse o ministro Boolell. “O resultado se deve ao respeito às leis e aos direitos humanos. Nossas instituições democráticas e políticas macroeconômicas são muito sólidas”.

O arquipélago foi descoberto pelos portugueses em 1505, colonizado por holandeses (que batizaram o lugar em homenagem ao príncipe Maurício de Nassau), controlado por franceses e, depois, por britânicos. A eles se misturaram indianos, africanos do continente e malgaxes (originários da Ilha de Madagascar). Hoje, 70% da população de 1,2 milhão de habitantes descendem de indianos e metade professa o hinduísmo. Cerca de 35% são cristãos e 15%, muçulmanos.

A independência da Inglaterra veio em 1968, mas o país tornou-se república somente em 1992. Desde então, as eleições são regulares, o governo é estável e os direitos humanos respeitados. A estabilidade atraiu grande volume de investimento estrangeiro, gerando a maior renda per capita da África (U$ 12,1 mil em 2008).

Primeira zona franca do Oceano Índico, o país saiu da base agrícola para a diversificação na indústria e nos serviços. Durante muitos anos, o crescimento anual não foi menor que 5%. São mais de 32 mil empresas offshore, a maioria voltada para o comércio com a Índia, África do Sul e China. Somente o setor bancário responde por mais de U$ 1 bilhão (R$ 1,66 bilhão) do produto do país. Mesmo assim, os percentuais de pobreza rondavam os 35% em 2008. Segundo o governo, a estimativa é fechar 2010 com menos de 30% e chegar a 2015 em 25%.

As ilhas também são um destino turístico conceituado na África. O arquipélago é famoso pelas praias de mar azul claro e areais brancas. “O turismo é um setor consolidado. E agora partimos para o chamado turismo médico, no qual os visitantes aproveitam para fazer uso de nosso parque clínico”, afirmou o ministro de Negócios Estrangeiros.

Com uma área agricultável naturalmente limitada, Maurício busca terras fora do próprio território para plantar. No ano passado, passou a administrar mais de 20 mil hectares em Moçambique para plantar arroz, em parceira com uma empresa de Cingapura. A ideia, explicou o ministro, é buscar “sinergia para produzir o que comemos e comer o que produzimos”. Híbridos de arroz também devem ser desenvolvidos para fazer negócios no mercado global.

O país já foi o terceiro maior produtor de açúcar do mundo. Mas, ainda hoje, mantem forte participação no setor. Mais de 90% das terras cultivadas nas ilhas são ocupadas pela cana-de-açúcar. “O Brasil veio estudar o uso de energias alternativas aqui, logo depois da Segunda Grande Guerra”, lembrou o ministro. “Agora, somos nós que devemos aprender mais com o Brasil, uma força nesse campo”, afirmando que a destinação da cana para produção de biodiesel também pode crescer. “Precisamos ver como podemos juntar forças para desenvolver esse potencial que há no Continente Africano”.

A abertura de uma embaixada no Brasil também ajudaria outro projeto das ilhas: fazer parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a CPLP. Desde 2006, Ilhas Maurício já são observadores associados, como Guiné Equatorial e Senegal. “Estamos estudando como promover a língua portuguesa e encorajar o aprendizado da cultura lusófona.”

Com 70% da população de origem indiana, o inglês é um dos idiomas oficiais. Outro é o francês. A língua de comunicação habitual é o marisyen, uma língua crioula. Muitos dos imigrantes indianos e chineses ainda falam os idiomas de origem. Mas as novelas brasileiras fazem muito sucesso na televisão de Maurício. Todas traduzidas para o francês.

Edição: Vinicius Doria

A África progride. Mas não em tudo.

Reportagem publicada na Agência Brasil.

Repare no começo: Ilhas Maurício (o feíssimo lugar na foto aí ao lado) lideram o índice. Em breve, se tudo der certo, você saberá muito mais sobre este país que – já adianto – é um voraz consumidor de novelas brasileiras, mesmo sem falar português.

Repare lá no meio: a África, economicamente, cresce quatro vezes mais rápido que a Europa. É claro que a base de comparação é baixa. Mas está crescendo.

Na versão que ainda ficará pronta para a TV, vou avançar na análise. E não será com economistas.

05/10/2010
Fundação divulga índice sobre distribuição de bens e serviços públicos em 53 países africanos

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – A África melhora na economia e no tratamento de saúde, mas ainda derrapa na defesa dos direitos políticos e na estabilidade legal. A conclusão está na versão 2010 do Índice da Fundação Mo Ibrahim, divulgado simultaneamente em Acra (Gana), no Cairo (Egito), em Dakar (Senegal), Joanesburgo (África do Sul) e Nairobi (Quênia).

As Ilhas Maurício, Ilhas Seychelles, Botsuana, Cabo Verde e a África do Sul são os países mais bem posicionados no ranking. O Chade, a República Democrática do Congo e a Somália estão nos últimos lugares. Angola, a Libéria e o Togo foram os que mais subiram com relação à medição do ano passado. A Eritreia e Madagascar, os que mais caíram.

Criado em 2007, o Índice de Governação da Fundação Mo Ibrahim mede a distribuição de bens e serviços públicos aos cidadãos dos 53 países africanos, levando em conta 88 indicadores, como a corrupção, o fornecimento de energia elétrica e água potável, a gestão pública, paridade de gênero, o acesso à educação, a segurança jurídica e pessoal e o respeito aos direitos humanos. Os indicadores recebem notas de 1 a 100. A média determina a posição dos 53 países no ranking do continente.

O índice médio do continente permanece em 49 pontos, como nos anos anteriores. O primeiro colocado, as Ilhas Maurício, tem 82. O último, a Somália, somou apenas 8.

“O quadro é misto”, diz o idealizador do índice, o empresário sudanês Mo Ibrahim, em um comunicado. “Enquanto muitos cidadãos estão mais saudáveis e com melhor nível de educação, com maior acesso a oportunidades econômicas do que cinco anos atrás, há muitos que se encontram menos seguros do ponto de vista físico e menos independentes politicamente.”

Segundo Ibrahim, a velocidade de mudança na África em termos econômicos é quatro vezes maior que na Europa. Um exemplo, lembra ele, é o crescimento exponencial no acesso à telefonia celular. Mas, acrescenta o empresário, muitos países ainda vivem guerras civis, “um problema que a África precisa deixar para trás”.

Os critérios são agrupados em quatro categorias (oportunidades econômicas sustentadas, desenvolvimento humano, segurança e Estado de Direito, participação e direitos humanos). Nas duas primeiras, houve melhora no índice geral, sem que fossem verificadas quedas significativas de nenhuma país: 41 nações registram melhorias econômicas, sendo dez significativamente. Mas nos dois últimos grupos, ligados aos direitos individuais e coletivos, viu-se um declínio de 35 países – cinco, de forma mais visível.

“As discrepâncias entre a governação política e a gestão econômica são insustentáveis a longo prazo”, afirma Salim Ahmed Salim, do conselho da fundação e ex-secretário-geral da Organização da Unidade Africana. “Se a África quer continuar a progredir, precisamos prestar atenção urgentemente aos direitos e à segurança do nosso povo”, afirmou no comunicado.

A Fundação Mo Ibrahim também costuma entregar anualmente um prêmio de reconhecimento a líderes africanos democraticamente eleitos. Em 2010 não houve vencedor, porque o júri considerou que ninguém fazia jus. O primeiro a receber a condecoração foi o ex-presidente de Moçambique Joaquim Chissano, em 2007.

Moçambique ficou na 20ª posição do índice este ano, com 53 pontos – acima da média continental (49), mas ligeiramente abaixo dos demais da Região Sul (57).

Patrono da instituição, Mo Ibrahim foi estudar engenharia elétrica no Reino Unido em 1974. Dez anos depois, era diretor técnico da empresa de celular BT Cell Net, mas sentia-se desmotivado.

Retornou ao Sudão, onde nasceu, e criou a própria empresa de telefonia na sala de jantar de sua casa. Fez fortuna vendendo serviços móveis na África, onde as grandes empresas relutavam em entrar, alegadamente por causa do mercado pouco atrativo e da corrupção. Ele defende que “conectar” o continente é uma grande arma contra corruptos. Hoje, Mo tem um patrimônio avaliado em US$ 2,5 bilhões.

Edição: Graça Adjuto

Procura-se parceiro… para negócios

Estava apurando outra história, assunto totalmente diferente, quando surgiu essa notícia aqui. Complementei com detalhes que já estavam circulando por aí.

Jornalismo é assim, às vezes: o sujeito mira no urubu, mas acerta na carniça.

28/09/2010
Governo moçambicano busca parceiros para revitalizar empresas públicas

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O governo de Moçambique procura parceiros para revitalizar várias empresas públicas que faliram ou funcionam sem dar lucro. Uma das primeiras a serem oferecidas ao mercado é a indústria têxtil Riopele, instalada em Marraquene, perto da capital Maputo.

A Riopele Têxteis é uma das várias fábricas de tecidos que fecharam as portas nos últimos anos. Investidores chineses já demonstraram interesse em revitalizar o setor em Moçambique.

Segundo Gonzaga Santos Jeque, administrador do instituto que gerencia as empresas do estado (Igepe), a ideia é recuperar o patrimônio. Mas já se sabe que, em vários casos, o caminho será a privatização ou até a liquidação. “Há circunstâncias em que ninguém está interessado. Então precisamos procurar um parceiro”, diz Jeque.

Segundo o plano estratégico da instituição, somente 32% das empresas funcionam de forma eficiente, e apenas 7,6% dão lucro.

Socialista entre a independência, em 1975, e os anos 90, Moçambique controla ou participa de mais de 130 empresas, de diversos ramos de atividade. Um plano de privatizações foi desenhado em 1997, logo depois da abertura do mercado. Em 2001, foram definidas as áreas estratégicas em que o Estado deveria atuar.

De acordo com o plano do Igepe, o governo deve concentrar os esforços em 46 empresas, consideradas estratégicas ou rentáveis. Com isso, mais de 90 companhias devem ser vendidas, dissolvidas ou liquidadas até 2014. A maioria não atua mais.

A lei moçambicana permite que o Igepe faça negociações particulares ou públicas, ou ainda promova leilões para vender o patrimônio do Estado. A fábrica de pneus Mabor, por exemplo, será vendida por licitação internacional (em Moçambique chamada de concurso público). A Mabor está fechada desde a década de 90.

Há quase um mês, manifestações contra o aumento do custo de vida paralisaram Maputo e deixaram 13 mortos nos choques com a polícia. Uma semana depois dos primeiros protestos, o governo congelou os aumentos e anunciou medidas de austeridade.

Edição: Juliana Andrade

Celulares africanos na TV Brasil

Alô? É da África de novo, agora no Repórter Brasil.

Eles estão em toda parte.

Clique aqui pra ver.

Leia também a reportagem da Agência Brasil sobre o assunto, clicando aqui.

Alô? Aqui é da África!

Reportagem da Agência Brasil.

Já tem gente estudando o efeito disso tudo no psicológico dos africanos, na economia dos africanos, no social dos africanos.

Certamente voltarei ao assunto muitas vezes.

21/09/2010
Moçambique terá mais uma operadora de telefonia móvel

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – Moçambique terá uma terceira operadora de serviços de telefonia móvel a partir do ano que vem. Segundo o ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, o nome da nova empresa a entrar no mercado será conhecido no final de outubro.

Três propostas estão sendo avaliadas pelos técnicos da pasta. Decidido o vencedor, ele passará pelo Conselho Consultivo do ministério antes de ser apreciado pelo Conselho de Ministros, e só então será oficialmente anunciado.

Concorrem os consórcios TMM (formado pela Portugal Telecom e Visabeira), Movitel (da moçambicana SPI e a vietnamita Movitel) e Unitelecominicações (da angolana Unitel e da moçambicana Insitec).

O número de usuários da telefonia celular no Continente Africano está a caminho dos 300 milhões, bem acima da quantidade de pessoas com computador ou até mesmo com acesso à energia elétrica. Nos últimos anos, a África consolidou-se como o maior mercado em expansão para a telefonia móvel no mundo. O Gabão, por exemplo, já tem quatro operadoras e lança, na semana que vem, a concorrência para operação em tecnologia 3G.

O preço é muito mais baixo que o dos computadores. “Muita gente desfavorecida do ponto de vista socioeconômico hoje tem acesso ao telefone a custos muito mais baixos” diz o sociólogo Book Sambo, da Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique. “Há cinco, seis anos, não era assim, porque só se tinha serviço por contrato (pós-pago). É uma revolução, uma transformação social”.

Hoje em dia, a larga maioria dos usuários opta pelo sistema pré-pago. A tarifa é acessível mesmo aos mais pobres das zonas urbanas. Na capital moçambicana, Maputo, os vendedores de crédito já viraram parte da paisagem, com suas batas amarelas ou azuis – das duas operadoras hoje existentes – Mcel e Vodacom. Também eles beneficiam-se da expansão do serviço, ganhando a vida em uma atividade que não existia há pouco tempo.

O uso “africano” do telefone móvel não se restringe a mandar recados ou a matar saudades. Em Gana, agricultores vendem seus produtos por meio de leilões realizados por torpedos. No Congo e em Uganda, refugiados da guerra civil cadastram-se por SMS para serem mais facilmente localizados pelas famílias. Médicos enviam mensagens para lembrar a seus pacientes com HIV que é preciso tomar a medicação.

Outra utilização corrente é a transferência de dinheiro pelo celular. Começou informalmente, quando as pessoas passaram a enviar créditos umas para as outras, que eram revendidos pelos destinatários. Hoje em dia, operadoras como a Safaricom, do Quênia, oficializaram o método. Graças a isso, em apenas três anos atraiu 7 milhões de clientes e já movimenta algo em torno de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

No começo do mês, uma grande mobilização social em Moçambique foi coordenada por telefone móvel. Durante os protestos dos dias 1o e 2 de setembro contra o aumento no custo de vida, a população foi convocada, avisada e tranquilizada por torpedos. Foram dois dias de bloqueios nas vias, barricadas, saques e choques com a polícia, que acabaram na morte de 13 pessoas.

Uma semana depois das manifestações, o governo anunciou o congelamento de preços, no feriado de 7 de Setembro, dia dos Acordos de Lusaka, que puseram fim à guerra colonial e culminaram na independência de Portugal, em 1975. Na noite do dia 6, as trocas de mensagens ficaram parcialmente interrompidas.

Segundo a imprensa moçambicana, tratou-se de uma ordem da agência reguladora, o Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM), para evitar novas manifestações. O governo negou qualquer interferência, atribuindo o fato a problemas técnicos.

Na semana passada, o INCM solicitou ao Conselho de Ministros a criação de um cadastro nacional dos usuários de aparelhos móveis. Em entrevista ao jornal O País, o ministro da Comunicações e Transportes, Paulo Zucula, disse que a medida, comum em outros países, vai possibilitar o uso do celular para transações bancárias e localizar criminosos que usam o telefone para fazer ameaças.

Edição: Graça Adjuto

Angola, Brasil, petróleo

Estão à procura aqui em Moçambique, estão à procura em Angola, estão à procura no Brasil. E cada vez precisam ir mais fundo para encontrar.

No caso do petróleo, encontram.

Já os patrulheiros vão continuar cavando, cavando. Gente que se julga especialista em águas profundas. Mas quando não acha nada, espalha lama.

Abaixo, reportagem da Agência Brasil.

20/09/2010
Angola quer ajuda da Petrobras para mapear o pré-sal africano

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África*

Maputo (Moçambique) e Brasília – O Ministério da Defesa de Angola quer o apoio do Brasil para mapear a plataforma continental daquele país. “Estamos à espera de receber nos próximos dias uma delegação brasileira, com quem vamos entabular conversações com vista à organização desse programa”, afirmou o ministro Cândido Pereira Van-Dúnem à agência portuguesa de notícias Lusa.

A chamada plataforma continental começa na linha da costa e vai até a profundidade média de 200 metros. Tem entre 70 e 80 quilômetros de largura. Grande parte do petróleo explorado no mar se localiza nela.

A possibilidade de haver mais petróleo na camada pré-sal angolana levou as autoridades a apostar no levantamento. Tanto o ministro da Defesa quanto a titular da pasta da Justiça, Guilhermina Prata, estiveram no Brasil em agosto para tratar do tema. A região é uma das áreas de interesse da Petrobras no exterior, juntamente com a América Latina e o Golfo do México.

De acordo com a estatal brasileira, há similaridades em termos de bacias sedimentares entre a Costa Oeste da África e o litoral do Brasil. No entanto, a Petrobras reitera que, antes de qualquer conclusão sobre haver ou não petróleo na camada do pré-sal angolano, ainda são necessários muitos estudos sobre a região.

A Petrobras já atua na exploração de petróleo e gás natural em cinco países do continente: Angola, Líbia, Namíbia, Nigéria e Tanzânia, mas produz apenas em Angola e na Nigéria. Entre as parceiras estão estatais como a Sonangol (Angola), NOC (Líbia) e Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC), da Nigéria.

Por meio de parceiras com a Sonangol, a Petrobras explora três blocos na costa brasileira – dois na Bacia de Campos e um na Bacia de Santos. Em Angola, as duas empresas anunciaram a descoberta do Poço Cabaça, em junho deste ano. Na semana passada, o presidente da Sonangol confirmou que a empresa já se preparara para o desafio de explorar a camada do pré-sal. “Vamos procurar”, garantiu Cândido Cardoso.

Durante visita ao Rio de Janeiro, para a Rio Oil & Gas 2010, o maior evento de petróleo e gás da América Latina, Cardoso afirmou que a troca de experiências com a Petrobras é importante para os dois países. “Tanto o Brasil como Angola, do ponto de vista técnico, têm coisas a ganhar”, disse o executivo angolano à agência Lusa.

*Colaborou Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Edição: Vinicius Doria

Moçambique, FMI, Bolsa Família

Reportagem da Agência Brasil. O FMI recomenda a Moçambique que implemente projetos de proteção social aliados a políticas macroeconômicas prudentes.

E ainda tem quem insista em achar que é esmola.

08/09/2010
Moçambique estuda importar modelo do Bolsa Família para reduzir pobreza extrema

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Depois de tentar reajustar preços de tarifas públicas por duas vezes em dois anos e ter que voltar atrás após manifestações populares, o governo de Moçambique está sendo encorajado pela comunidade internacional a tentar um novo caminho: implementar as chamadas “medidas de proteção social” em grande escala. Os doadores estrangeiros – que respondem por quase metade do Orçamento do país – defendem que criar ou manter subsídios para não aumentar preços pode sair “caro demais no futuro”.

Um dos projetos que já foi estudado é o Bolsa Família, do Brasil. “Vamos aproveitar as experiências que deram certo. Não é preciso inventar nada”, disse o ministro moçambicano da Pesca, Victor Manuel Borges. “Já seguimos neste caminho como parte da nossa luta contra a pobreza, ao implementar o Papa [Plano de Ação para Produção de Alimentos]. Mas é preciso ir adiante”, afirmou nesta quarta-feira (8), durante o coquetel em comemoração à independência do Brasil.

A ideia de implementar o Bolsa Família em Moçambique é recorrente. Nos últimos anos os diplomatas brasileiros vem sendo consultados sobre o projeto. As maiores dificuldades, apontam os especialistas, são a logística e a fiscalização, consideradas complexas e caras.

Instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial são a favor do fortalecimento dos programas sociais em Moçambique. A primeira vez que o tema surgiu foi em um relatório do FMI de 2008, logo depois de o governo recuar no reajuste dos preços do transporte coletivo. Há dois anos e meio, o anúncio do aumento da tarifa do transporte por vans, conhecidas como “chapa 100″, provocou uma greve de motoristas e protestos nas ruas – nos mesmos moldes das manifestações da semana passada. Na época, a revolta conseguiu evitar que a tarifa pulasse de R$ 0,25 para R$ 0,37.

Para o FMI, manter tarifas públicas subsidiadas significa retirar dinheiro de outros setores prioritários em um país saído há apenas 16 anos de uma guerra civil, como obras públicas e educação.

Moçambique é muito dependente da ajuda externa. Cerca de 40% do Orçamento vêm diretamente do apoio internacional. “A dependência dos doadores vai continuar durante vários anos, porque o governo basicamente não tem recursos ou especialidades necessárias para investir”, afirmou Edward George, economista chefe do departamento de África da Economist Intelligence Unit, em entrevista à Agência Lusa, de Portugal. As doações são empregadas nos mais variados setores, como educação, saúde e infraestrutura.

Socialista desde a independência em 1975 e arrasado por uma guerra civil que durou até 1992, Moçambique optou por abrir a economia na década de 1990. Para conseguir auxílio externo, seguiu o caminho percorrido por outros países, privatizando parte dos bens do Estado e abrindo o mercado para investidores estrangeiros. Indústria, energia, hotelaria e turismo, agricultura e construção foram os setores que mais receberam recursos no ano passado, bem como a exploração de produtos naturais, como o carvão, setor no qual atua a empresa brasileira Vale.

Internamente, o governo intensificou o combate à pobreza extrema e iniciou o processo que chamou de “revolução verde”, para fortalecer a produção de alimentos. Desde que foi reeleito, no ano passado, o presidente Armando Guebuza reforça a luta contra a pobreza com fundos de iniciativas locais e com a convocação de jovens para auxiliar na tarefa, chamados de “geração da viragem”.

Nos últimos cinco anos, o aumento médio do Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique foi de 7,8%. Mesmo com o crescimento expressivo da economia e a queda do número de habitantes na pobreza absoluta (de 69% em 1997 para 54% em 2003), Moçambique segue entre os países mais pobres do mundo. De um total de 133 nações, é o 129° no índice de competitividade do Fórum Econômico Mundial e o 172° lugar (entre 182) no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. O salário mínimo não passa de R$ 125. Mas grande parte dos trabalhadores da agricultura e mesmo dos centros urbanos não recebe sequer este valor. O número de trabalhadores informais entre os 22 milhões de habitantes do país é enorme. Vendedores ambulantes lotam as calçadas de Maputo vendendo de cintos a roupas arrecadadas em campanhas internacionais de doação.

Sem petróleo ou grandes indústrias e com limitada capacidade de produção de alimentos, o país depende das importações. E fica exposto à variação dos preços internacionais. Mais de 70% das exportações moçambicanas são de alumínio, mas a Mozal, empresa nacional do setor, fica com apenas 5% da renda gerada pelo negócio anualmente. Por causa da crise mundial, as exportações moçambicanas caíram 10% em 2008.

Segundo o representante do FMI no país à época, Felix Fischer, “Moçambique está mais bem posicionado que muitos países africanos para suportar os efeitos da crise” graças às reservas internacionais equivalentes a oito meses de importações e à enxurrada de investimentos externos.

Mas, com a elevação dos preços dos combustíveis, a queda nas vendas externas de seus poucos recursos exportáveis e a diminuição da ajuda internacional, veio a pressão no câmbio, que levou a uma abrupta desvalorização do metical (moeda local) ante o dólar e ao rand sul-africano no primeiro semestre deste ano. Mas os ganhos da população não acompanharam o salto dos preços.

Em 1º de setembro, dia programado para entrar em vigor o aumento das tarifas de água (11%) e energia elétrica (13%), assim como do preço do pão (17%), manifestantes saíram às ruas para protestar, bloqueando vias e ateando fogo em pneus. Comércio, bancos e escolas fecharam. O governo reagiu chamando os manifestantes de vândalos. Os bloqueios foram dispersados com bombas de gás e tiros. Segundo a polícia local, só foram usadas balas de borracha. Em três dias de conflitos, 13 pessoas morreram. Os aumentos foram congelados.

Greve em Maputo – últimas do 3o dia

Reportagem publicada há pouco na Agência Brasil.

Espero que seja a última da semana sobre o tema. E que os ânimos se acalmem.

03/09/2010
A vida em Moçambique começa a voltar ao normal depois de dois dias de protestos contra carestia

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Depois de dois dias de manifestações contra o aumento do custo de vida e confrontos com a polícia, a sexta-feira foi de relativa calma na capital de Moçambique, Maputo. Os poucos focos de manifestações não voltaram a interromper a rotina da cidade, que vai sendo retomada aos poucos. O transporte coletivo está funcionando parcialmente. Pela manhã, os ônibus, chamados de “maximbombos”, circulavam com regularidade. Mas a grande maioria da população utiliza as vans, conhecidas como “chapa 100”. Estas demoraram mais para reaparecer.

Os bancos reabriram depois de praticamente 48 horas fechados. O comércio e os restaurantes também levantaram as portas, muito embora com falta de pessoal. Na região conhecida como Baixa (centro de Maputo), várias lojas fecharam logo depois do almoço porque mensagens de SMS (Short Message Service) circulavam pelos telefones celulares avisando que a greve seria retomada à tarde.

Com menos gente nas ruas do que o habitual, os carros circularam com facilidade durante todo o dia. Na estrada que liga Maputo à vizinha Matola, policiais armados faziam a vigilância do posto de pedágio e ocupavam vários pontos do acostamento. Diferentemente dos dois últimos dias, hoje não houve bloqueios na pista. Restos de pneus queimados deixavam o asfalto mais escuro em vários trechos.

Na cidade de Chimoio, no centro do país, houve bloqueios em algumas avenidas e enfrentamento entre manifestantes e a polícia. De acordo com a agência Lusa, de Portugal, seis pessoas foram hospitalizados.

A Feira Internacional de Moçambique (Facim) também reabriu para o público hoje (3). Por causa da paralisação de dois dias, a feira foi estendida até terça-feira (7). O movimento era pequeno nos corredores no início da tarde, mas cresceu no fim do dia. “Nem tudo está perdido”, diz o organizador do espaço brasileiro na Facim, Marco Audrá. “Os expositores brasileiros estão acostumados a feiras de apenas três dias. Ainda dá para recuperar terreno”.

Segundo ele, algumas das 60 empresas brasileiras que estão aqui chegaram a fazer negócios mesmo com a exposição fechada, porque os entendimentos começaram antes da feira. No almoço organizado para empresários brasileiros e moçambicanos, ontem, somente nove dos 80 lugares ficaram vazios. “Tive que remarcar uma reunião que deveria ter sido na quarta-feira, mas acho que vai dar certo”, torcia Mauro Fernandes, representante da KJR, empresa paulista que produz ferramentas e conectores elétricos.

Mas nem todos estavam animados. “Para nós foi ruim mesmo. Esperávamos compradores que viriam da Beira [cidade no centro de Moçambique], mas eles não conseguiram chegar”, reclamou João Faro, da fábrica de móveis para cozinha Poquema, de Arapongas (PR). “Os distúrbios atrapalharam muito os meus negócios”.

Edição: Vinicius Doria

Negócios em Maputo

O mundo é muito grande e só agora boa parte dos empresários brasileiros descobriu isso.

Topei com vários hoje na FACIM – Feira Internacional de Moçambique.

Como está aí na matéria da Agência Brasil, gente que nunca tinha pensado em vender pra África e agora vem aqui pra expor de sêmen de boi a catraca eletrônica.

Vender pra Moçambique? Facim, facim.

0/08/2010
Maior feira de negócios de Moçambique atrai 60 empresas brasileiras que miram o mercado africano

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Empresas brasileiras interessadas em abrir mercado na África trouxeram para a 46ª Feira Internacional de Moçambique (Facim) produtos que variam de xampus e sabonetes a catracas eletrônicas. Aberta nesta segunda-feira (30) pelo presidente moçambicano Armando Guebuza, a Facim é a mais importante feira de negócios do país. Este ano, a feira atraiu a atenção de 488 empresas, sendo 60 do Brasil. “O interesse em expôr aqui tem aumentado de ano para ano”, afirmou o organizador do espaço brasileiro na feira, Marco Audrá.

“Essa é a maneira mais segura de entrar em um mercado tão particular”, disse ele. O número de empresas brasileiras na Facim este ano é 40% maior que em 2009. São empresas que atuam em ramos muito diversos, como cosméticos, melhoramento genético de bovinos, higiene e limpeza, mobiliário para escolas, colheitadeiras e até sincronizadores de semáforos.

Segundo Audrá, o mercado moçambicano é menor que o de países como África do Sul e Angola, mas as perspectivas são muito boas. “Aqui há uma facilidade maior de infraestrutura e a economia do país está crescendo muito”. A grande maioria dos expositores brasileiros teve apoio do Sebrae ou do Ministério de Relações Exteriores para alugar espaço na feira e divulgar produtos.

Rodrigo Silva veio “experimentar” a feira de Moçambique. Ele é representante da Digicom, líder do mercado brasileiro de catracas eletrônicas e que também desenvolve sincronizadores de semáforos. Depois de instalar as catracas no metrô do Rio de Janeiro e no sistema paulista do Bilhete Único, a empresa sediada em Gravataí (RS) decidiu expandir os horizontes. Já fez contatos no Marrocos, em Angola e no Egito e, agora, chega a Moçambique. “Viemos nos colocar como alternativa para o mercado, que está se abrindo agora”.

A KJR, empresa paulista que produz ferramentas e conectores elétricos, também veio “testar a aceitação” de seus produtos e achar um representante local. “Como aqui a empresa de energia é estatal, precisamos conhecer bem as regras e os métodos”, disse Mauro Fernandes, representante de Exportações da companhia, que já vende para Cuba e outros países latino-americanos, como Colômbia, Chile e Peru. Mas é a primeira vez que tenta fazer negócios na África.

Mais experiente no continente, a fábrica de móveis para cozinha Poquema, de Arapongas (PR), chegou à Facim com um objetivo traçado. “Quero vender dois contêineres, cerca de U$ 70 mil dólares em mercadorias (R$ 130 mil)”, afirmou o gerente de exportações João Faro, que já tem experiência de fazer negócios na vizinha África do Sul. O mercado moçambicano, disse ele, é promissor. “Aqui estão subindo muitos prédios e o poder aquisitivo da população também cresce.”

Pelos dados oficiais do governo, a economia de Moçambique cresceu 9,5% nos três primeiros meses deste ano. Os empresários não comentam abertamente, mas consideram Moçambique um país onde a corrupção não prejudica tanto os negócios, como ocorre em outros países africanos, onde é “mais frequente e mais cara”, segundo um executivo de uma das empresas brasileiras.

Além de Moçambique e Brasil, empresas de mais 12 países estão representadas na Facim: Portugal, África do Sul, Indonésia, Malaui, Zâmbia, Tanzânia, Espanha, China, Suazilândia, Quênia, Botsuana e Itália.

Edição: Vinicius Doria