De volta ao blog. De volta à Costa do Marfim

Tenho falado desse assunto aqui (e na Agência Brasil, claro) desde antes do primeiro turno. Estava na cara que poderia dar problema. Está na cara que não vai ser fácil de resolver.

03/01/2011
Países africanos voltam a se reunir para avaliar situação na Costa do Marfim

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, enviado da União Africana, junta-se hoje (3) aos chefes de Estado de Benim, Cabo Verde e Serra Leoa para uma nova rodada de negociações na tentativa de que Laurent Gbagbo deixe pacificamente a presidência da Costa do Marfim.

O grupo representa e reforça a Ecowas – Economic Community of West African States ou Comunidade Econômica da África Ocidental -, criada em 1975 e que reúne o Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, a Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, a Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, o Níger, a Nigéria, o Senegal, Serra Leoa e o Togo.

Em 28 de novembro passado, Gbagbo e o ex-primeiro ministro Alassane Ouattarra concorreram na primeira eleição na Costa do Marfim em dez anos. A oposição foi declarada vencedora pela Comissão Eleitoral. Mas a Corte Suprema do país reviu os números, alegando fraude, e deu a vitória a Gbagbo.

Além de opositores políticos, os dois candidatos são de etnias diferentes.

Gbagbo chegou a ordenar a saída dos 10 mil soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) do país, sob alegação de interferência interna. A ONU foi o primeiro órgão internacional a acusar o então presidente de subverter a vontade popular ao permanecer no poder. Outros organismos multilaterais e países também condenaram a decisão de Gabgbo.

As Nações Unidas mantiveram as tropas para cumprir o mandato internacional de monitorar o acordo de paz, que acabou com a guerra civil de 2002/2003. Os soldados também guardam o hotel onde Ouattara está instalado desde o segundo turno.

Apoiadores de Gbagbo alegam que ele foi legitimamente reeleito e que a decisão da Corte foi soberana, independente e de acordo com a Constituição do país. Na mensagem de Ano-Novo, Gbagbo anunciou que não iria ceder às pressões. Ele controla a rádio e TV estatais e recebe apoio das Forças Armadas marfinenses.

De acordo com a Voz da América, o embaixador Yao Gnamien, conselheiro de Gbagbo, afirmou que os líderes internacionais não chegam para negociar a saída dele do poder, mas sim para “encontrar uma solução pacífica para a crise.”

A Ecowas já alertou que fará “uso legítimo de força” caso Gbagbo se recuse a deixar o cargo. Segundo o embaixador, a comunidade internacional já ouviu as alegações do candidato Ouattara e deveria fazer o mesmo com Gbagbo.

Os presidentes Ernest Bai Koroma (Serra Leoa), Pedro Pires (Cabo Verde) e Bon Yayi (Benim) estiveram em Abdijan na semana do Natal, mas as negociações não tiveram sucesso. Amanhã (4), o grupo se reúne com Goodluck Jonathan, presidente da Nigéria e atual líder da Ecowas, para avaliar a situação.

De acordo com a BBC, grupos de direitos humanos alegam que aliados de Gbagbo sequestraram oponentes políticos. Muitas casas teriam sido marcadas para identificar a origem étnica de seus moradores. Segundo a ONU, o número de mortos desde o início da crise passa de 200.

Edição: Graça Adjuto

Costa do Marfim: já não dizem mais que a oposição ganhou. Agora, ganhou o governo.

Pois é. Era uma coisa. Agora é outra.
Semana que vem vamos publicar – na Agência Brasil e aqui – uma reportagem que estou preparando sobre os golpes de estado, as crises políticas, as implicações econômicas e como a África lida com isso hoje em dia.

Será finalizada em Cabo Verde, para onde viajo amanhã, sábado.

Por enquanto… Costa do Marfim.

03/12/2010
Conselho reverte resultado da eleição na Costa do Marfim e atual presidente é declarado vencedor

Eduardo Castro*
Correspondente da EBC na África

Maputo – O presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, venceu o segundo turno das eleições, realizado no último domingo (28), com mais de 51%, proclamou hoje (3) o Conselho Constitucional marfinense. De acordo com a Agência Lusa, a decisão invalida os resultados provisórios apresentados pela Comissão Eleitoral, que davam a vitória ao ex-primeiro-ministro Alassane Ouattara.

O resultado definitivo foi divulgado pelo presidente do conselho, Paul Yao N”Dré, em declaração à imprensa: Laurent Gbagbo foi reeleito presidente da Costa do Marfim com 51,45% dos votos, contra 48,55 de Quattara.

Segundo o Conselho Constitucional, houve uma série de erros na contagem de votos, conduzida pela Comissão Eleitoral, que deram 54% do total a Ouattara.

De acordo com a BBC, a corte anulou os votos de sete regiões no Norte do país, sob a alegação de irregularidades. É nesta área que a oposição tem mais apoio.

Ontem (2), em meio a muita expectativa, a Comissão Eleitoral havia anunciado a vitória de Ouattara, depois de ultrapassar o prazo legal para a apuração. Pela Constituição marfinense, os votos deveriam estar todos contabilizados até a meia-noite de quarta-feira (1º).

A oposição alega que o atraso se deu por pressão dos partidários do governo, que chegaram a impedir fisicamente a leitura de uma parcial da apuração.

Depois de um primeiro turno relativamente calmo, segundo observadores internacionais, o clima na Costa do Marfim ficou bem mais tenso nas proximidades da segunda votação. Mesmo com os dois candidatos pedindo calma a seus apoiadores, houve cenas de violência e registro de mortes.

Para evitar conflitos durante a apuração, o governo decretou toque de recolher para depois do fechamento das urnas. A medida foi estendida até o próximo domingo (5).

É a primeira eleição presidencial na Costa do Marfim em dez anos. O mandato do atual presidente deveria terminar em 2005, mas as eleições foram adiadas cinco vezes. Em 2002, o governo de Laurent Gbagbo foi alvo de uma tentativa de golpe. Ele manteve-se no poder, mas perdeu o controle da Região Norte. A guerra civil prolongou-se por dois anos.

O conflito armado afugentou investidores, que, na época, procuravam o país – o maior produtor de cacau do mundo. De lá para cá, a economia deteriorou-se.

A rivalidade étnica também tem muito peso no país. Alassane Ouattara e Laurent Gbagbo são de grupos distintos.

*Com informações das agências Lusa e BBC

Edição: Nádia Franco

Eleição na Costa do Marfim: ganhou a oposição. É o que dizem, ao menos

É o tipo de matéria que faço preocupado com o país em questão, mas com alguma satisfação em mostrar como é o mundo a alguns dos nossos compatriotas – aqueles “assustados”.

Aqueles, que arrancam a roupa gritando pela “liberdaaaaaade”, falando em “escalada antidemocrática”, “ditadura”, tal.

Chega a ser ridículo quando espreitamos um pouquinho mais por aí.

02/12/2010
Candidato da oposição vence eleição presidencial marcada pela violência na Costa do Marfim

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O ex-primeiro ministro e candidato da oposição, Alassane Ouattara, foi declarado vencedor do segundo turno da eleição presidencial na Costa do Marfim, ocorrido no último domingo (28). De acordo com a Agência Lusa, de Portugal, ele obteve 54,1% dos votos na disputa com o atual presidente, Laurent Gbagbo. Os números finais foram divulgados pelo chefe da Comissão Eleitoral, Youssouf Bakayoko.

A Corte Constitucional contestou a divulgação. Correligionários do atual presidente alegam ter havido fraude no Norte do país, área controlada por antigos rebeldes e onde Ouattara é mais popular. Ontem (1), pelo menos quatro pessoas morreram quando homens armados dispararam tiros contra as pessoas que estavam em um escritório eleitoral de Gbagbo. De acordo com testemunhas, citadas pela agência norte-americana Voz da América, atiradores mascarados invadiram o comitê, em Abidjan (capital do país), pouco antes da meia-noite.

Praticamente ao mesmo tempo, o chefe da Comissão Eleitoral estava na televisão anunciando que precisava de mais tempo para finalizar a apuração. O prazo previsto na Constituição do país expirou à meia-noite de ontem. Na véspera, durante uma tentativa de anúncio dos resultados parciais, um correligionário do atual presidente arrancou das mãos do porta voz da comissão o papel com os resultados contabilizados até então e rasgou o documento na frente das câmeras de TV, que transmitiam o anúncio.

Depois de um primeiro turno relativamente calmo, de acordo com observadores internacionais, as semanas que precederam a votação decisiva de 28 de novembro foram muito tensas, inclusive com confrontos entre correligionários dos dois candidatos. Mesmo com o toque de recolher, carros foram queimados nas ruas de Abidijan, depois do fechamento das urnas.

Por causa da violência, o governo determinou a extensão, até o próximo domingo (5), do toque de recolher que está em vigor desde domingo passado.

A Costa do Marfim, maior produtor de cacau do mundo, deixou de atrair recursos internacionais depois de uma tentativa de golpe de Estado em 2002, que precedeu uma guerra civil que durou dois anos. A eleição, adiada cinco vezes desde 2005, é aguardada como uma chance de o país se reintegrar à economia mundial e voltar a receber investimentos externos.

Edição: Vinicius Doria

Costa do Marfim: depois das eleições, toque de recolher

Diga aí, de cabeça, qual é a capital da Costa do Marfim…
Não lembrou? Role a página pra baixo e olhe no mapa.

26/11/2010
Costa do Marfim terá toque de recolher depois do segundo turno das eleiçõe
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Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – O governo da Costa do Marfim vai decretar toque de recolher no domingo (28) à noite, depois do segundo turno das eleições presidenciais. A polícia vai patrulhar as ruas a partir das 22h, quando começa a contagem dos votos.

Depois de dez anos sem eleições, 14 candidatos concorreram no primeiro turno, em 31 de outubro. O atual presidente Laurent Gbagbo e o ex-primeiro ministro Alassane Dramane Ouattara foram os mais votados e voltam a se enfrentar nas urnas neste domingo.

Para observadores da União Europeia, o primeiro turno foi “relativamente pacífico.” Líderes religiosos, representantes das Nações Unidas e de governos estrangeiros têm expressado, no entanto, preocupação com a reação dos perdedores. Ontem (25), os dois candidatos pediram calma aos eleitores em debate na televisão, o primeiro da história do país.

“As eleições devem ser pacíficas”, afirmou Ouattara. “Quero vencer porque creio ter algo a oferecer ao meu país. Mas, se perder, não é um problema. Bastam os 11 anos de turbulência. É hora de acabar com isso”, disse o atual presidente.

A campanha ganhou tons mais pesados no segundo turno, mas, no debate, os candidatos mantiveram a calma. Economista, Ouattara prometeu trazer investidores de volta à Costa do Marfim. Gbagbo reforçou que, para promover as mudanças necessárias, o país precisa de um líder com capacidade comprovada.

Nas ruas, apoiadores dos dois lados entraram em choque. Pelo menos uma pessoa morreu, esfaqueada, na localidade de Bayota. Na semana passada, também houve confronto. As Nações Unidas decidiram enviar mais 500 soldados e dois helicópteros militares ao país, deslocados da Libéria, para ajudar na manutenção da ordem.

As eleições presidenciais na Costa do Marfim foram adiadas seis vezes desde 2005, quando terminaria o mandato de Laurent Gbagbo. Uma guerra civil estourou em 2002, quando rebeldes no Norte tentaram derrubar o atual presidente. O golpe foi controlado apenas na parte Sul. Graças à instabilidade, o país vive um embargo para a compra de armas desde 2004.

Independente da França há 50 anos, a Costa do Marfim é o maior produtor de cacau do mundo. O país virou polo de atração para muitos estrangeiros no período do chamado “milagre econômico”, nas décadas de 70 e 80, quando a economia crescia a uma média anual de 7%.

Com a guerra civil, os investidores foram embora, deixando mais de 4 milhões de desempregados no país, de 21 milhões de habitantes. Quase 70% dependem da agricultura para sobreviver. Desde 2006, o peso da produção de petróleo e gás supera os ganhos com o cacau.

A Costa do Marfim exporta energia para vizinhos como Gana, o Togo, Benin, Mali e Burkina Faso. O crescimento econômico foi de cerca de 2% em 2008 e de 4% no ano passado. Mas os ganhos per capita caíram 15% desde 1999.

Edição: Graça Adjuto

Eleitos em Cabo Verde

Estou na expectativa de ir para lá, trocar experiências sobre cobertura de eleições. Será uma bela oportunidade.

Postarei fotos. Do workshop e da praia, claro.

Por ora, notícia…

23/11/2010
Novo Parlamento de Cabo Verde será eleito em 6 de fevereiro

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – As eleições para o novo Parlamento de Cabo Verde estão marcadas para o dia 6 de fevereiro do ano que vem e as eleições presidenciais devem ocorrer seis meses depois. O anúncio foi feito pelo presidente Pedro Pires, depois de ouvir todos os partidos políticos e reunir-se com o Conselho da República.

Pires disse que não seria bom que a campanha fosse muito longa, gerando “maiores ansiedades”. Segundo o presidente, país pequeno e de economia aberta ao exterior, Cabo Verde tem “a obrigação de garantir a confiança” das instituições, dos parceiros e investidores externos.

A marcação da data das eleições cabo-verdianas, como em vários outros países africanos, cabe ao presidente da República. As últimas eleições foram realizadas em janeiro de 2006. No Brasil, por exemplo, ela é estipulada na Constituição Federal (no primeiro domingo de outubro, a cada quatro anos).

Alguns partidos, como a União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (Ucid), queria que as eleições ocorressem em 27 de março, depois do carnaval (8 de março). O partido do presidente – Partido Africano da Independência de Cabo Verde (Paicv) – não anunciou a preferência. O Movimento para a Democracia (MpD) preferia o pleito no fim de fevereiro, para que o recenseamento no exterior pudesse durar mais tempo.

País formado por pequenas ilhas no Oceano Atlântico, Cabo Verde tem mais da metade de seus cidadãos morando no exterior, principalmente nos Estados Unidos, em Portugal, na Holanda, em Angola, no Senegal e Brasil. Estima-se que, hoje em dia, sejam 500 mil cabo-verdianos morando no país e um número ainda maior vivendo fora. O recenseamento eleitoral já começou em vários países. Em alguns, como Bélgica, está atrasado.

No ano passado, o fenômeno inverso também foi marcante: a chegada de novos habitantes estrangeiros ao país cresceu 20%, totalizando 12 mil pessoas, a maioria procedente da Guiné-Bissau.

Sem recursos minerais ou grandes terras para a agricultura, Cabo Verde depende muito do turismo. No ano passado, uma crise no setor trouxe fortes impactos. Também houve queda significativa no investimento estrangeiro direto.

Neste ano, as receitas fiscais também devem ser menores do que em 2008. O governo cortou 18 milhões de euros nas despesas. Na semana passada, a União Europeia aprovou um financiamento de metade desse valor.

Eleição aqui na África

A EBC montou uma página especial para a apuração.

Se você acompanhou conosco as eleições municipais de 2008, vai se lembrar que era a contagem com números oficiais mais rápida que havia.

Do site, seguia direto para a TV Brasil. Os outros estavam levando o milho e a gente já estava voltando com a broa.

O esquema agora é o mesmo.

Você chega lá clicando AQUI, em http://apuracao.ebc.com.br/

Abaixo, as eleições rolando na África. Reportagem da Agência Brasil.

03/10/2010
Brasileiros em Moçambique começaram a votar às 3h da manhã

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – Os 463 eleitores brasileiros cadastrados em Moçambique começaram a votar às 8h, o que correspondia às 3h no horário de Brasília, nas duas seções montadas no país. Moçambique tem o segundo maior contingente de eleitores na África, ficando atrás apenas de Pretória (Africa do Sul), com 476.

A capital moçambicana é uma das 126 cidades fora do Brasil onde estão instaladas 94 seções de votação em outros países. Há quem venha de muito longe para exercer a cidadania.

“São mais ou menos 1.800 quilômetros de onde eu moro para cá”, dizia João Luis de Castro, natural de Caratinga (MG), logo depois de votar. Há cinco anos em Moçambique, ele vive em Angonia, província de Tete, em uma missão religiosa jesuíta. “Vim só para votar. Acho que é um direito do qual não podemos abrir mão. É o jeito que temos de mostrar nossa satisfação ou descontentamento.”

João saiu da fazenda em que mora em um caminhão, indo até a cidade de Beira. De lá, percorreu mais 1000 quilômetros de ônibus até Maputo.

O fato de segunda-feira (4) ser feriado local (que comemora o fim de 16 anos de guerra civil, em 1992) não alterou os planos do casal Renata Morais, nascida em Salvador (BA) e Juscelino Mota, de São Paulo (SP). “Não fui para a praia no feriado prolongado, para cumprir com o dever cívico” diz ele. Para Renata, valeu sacrificar o dia de muito sol. “É importante sentir-se participando, mesmo longe”, opina.

A presidente da mesa de votação de Maputo nunca teve a chance de votar no Brasil. Ela encara o trabalho no domingo com prazer. “Eu saí do Brasil no auge do regime militar, em 1978, com 23 anos. Tinha um título velho, mas nunca tinha tido a chance de votar”, lembra Irene Rosa de Souza, natural do Rio de Janeiro (RJ). “Aqui participo com muito orgulho. Acho que o processo democrático não tem preço. E acredito que as pessoas não deveriam desperdiçar a oportunidade de votar.”

Pelos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 200.392 brasileiros estão aptos a votar no exterior. Quem, mesmo vivendo fora do país, mantiver o título cadastrado no Brasil e não for votar, precisa justificar a ausência.

Edição: Graça Adjuto

Eleições aqui fora

A EBC montou uma página que reúne a cobertura eleitoral de todos os veículos dela — TV, rádio e agência de notícias. Passando por lá, você vê, ouve e lê tudo o que temos produzido sobre a eleição de hoje.

É aqui, ó: http://agenciabrasil.ebc.com.br/eleicoes2010/

Ao longo de todo dia ela será alimentada com informações.

Dê uma olhada no todo. Depois disso, você está apto a dizer se houve partidarismo, se defendeu candidato do governo, tal. Se você esperava por isso, lamento decepcioná-lo.

Abaixo, uma das reportagens deste sábado.

02/10/2010
No exterior votam 200 mil, mas há países com número insuficiente de eleitores para montar seções

Eduardo Castro
Correspondente da Agência Brasil na África

Maputo – Duzentos mil brasileiros estão aptos a votar este ano no exterior, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram montadas 94 seções em vários países. Mas nem todos os países onde há brasileiros terão eleição pois, de acordo com o Código Eleitoral, é obrigatório montar mesa apenas onde há mais de 30 eleitores inscritos.

Não é o caso, por exemplo, da Tanzânia, na África. Toda a comunidade brasileira no país soma menos de 60 pessoas. São principalmente funcionários da Petrobras e missionários religiosos.

“Não há muita procura”, diz o encarregado temporário de negócios da Embaixada do Brasil na Tanzânia, Nei Bittencourt. “Aqui não há muitos brasileiros; o que justifica nossa presença são os interesses do país”.

A embaixada na Tanzânia foi reaberta em 2005, principalmente por causa de prospecções da Petrobras, que montou um escritório para acompanhar de perto o movimento de muitas petroleiras na costa. Recentemente, o vizinho Moçambique anunciou a descoberta de petróleo. Outro ponto que gera interesse na companhia é a fronteira entre a Tanzânia, Uganda e o Quênia nas proximidades do Lago Vitória.

Em Moçambique, 463 brasileiros estão inscritos para votar nas duas seções que serão instaladas no Centro Cultural Brasil-Moçambique, no centro da capital, Maputo.

A advogada Karen Dias, que vive na África há seis anos, diz que estar fora do Brasil não atrapalha na hora de escolher o candidato. “Eu leio muito na internet e compro revistas semanalmente, além de ver televisão brasileira, que tem aqui. Procuro todas fontes”, afirma. As TVs Brasil, Globo e Record mantém canais internacionais, que reproduzem os noticiários passados no Brasil em tempo real.

Já a secretária Solange Pereira optou por adiantar uma viagem de férias ao Brasil para votar no seu estado natal, São Paulo. Pensando nisso, sequer transferiu o título para o exterior. “Quero votar para todos os cargos, principalmente governo do estado. Por isso, prefiro votar no Brasil”, diz. No exterior só se vota para presidente da República.

Solange reclama por ter conseguido pouca informação sobre os candidatos a cargos legislativos. “Para deputado estadual, federal e senador, vou ter que dar uma estudadinha ali para ver o fazer.”

Paula Carolina é um dos 3 milhões de brasileiros que moram no exterior e não estão aptos a votar fora do país. “Eu acabei perdendo o prazo para transferir o titulo”, lamenta a estudante de 19 anos. “Queria muito votar, seria a primeira vez na vida. Mas espero pela próxima.”

Quem não transferiu o título e estiver fora do país no domingo terá de justificar a ausência à Justiça Eleitoral.

Edição: Nádia Franco

Eleições brasileiras – lá e cá

Eu aqui na África, Lucas Rodrigues no Brasil, falando dos brasileiros que votam de longe.

Assista à reportagem clicando aqui.

E, abaixo, o mesmo assunto, só que publicado pela Agência Brasil.

18/09/2010
Em Moçambique, brasileiros receberão treinamento para as eleições de 3 de outubro

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Os brasileiros convocados para trabalhar nas eleições presidenciais do próximo dia 3 de outubro passarão por um treinamento na semana que vem. Mesários, presidentes de seção e secretários vão conhecer o sistema eletrônico de votação e aprender a trabalhar com a urna.

“Já recebemos o material impresso, nos pediram para estudar as instruções na página do Tribunal Eleitoral na internet, e agora vamos passar por um treinamento prático no dia 23”, diz Margareth Aragão, que vai trabalhar em Maputo, capital de Moçambique.

“Fomos abordados pela embaixada antes da convocação, e todos aceitaram de bom grado”, diz Margareth, que será primeira-secretária. Ela já trabalhou em eleições como apuradora de votos, ainda quando morava no Brasil, há mais de 20 anos. “Mesmo estando longe é muito importante participar. Do contrário, seria uma omissão.”

O engenheiro Pedro Chaves dos Santos também foi chamado. Ele vive em Moçambique há 32 anos e saiu do Brasil por causa da repressão política. Por isso, não deixa de participar, mesmo vivendo longe.“Temos que aproveitar esses momentos privilegiados, de exercer nosso direito de voto”, diz ele. “É uma questão de cidadania e de consciência política. Eu sempre participei da política brasileira mesmo estando no exterior. E o voto é muito importante”, afirma.

Em Moçambique, os diplomatas estimam que cerca de 300 dos 463 inscritos em Maputo votem. Muitos não conseguem ir aos locais de votação, por causa da distância. Boa parte da comunidade brasileira vive no Norte do país, como missionários religiosos ou funcionários da mineradora Vale, instalada em Tete, província a mais de 1,5 mil quilômetros da capital.

Maputo tem o segundo maior contingente de eleitores inscritos para votar na África, ficando atrás apenas de Pretória (Africa do Sul), com 476. A capital moçambicana é uma das 126 cidades fora do Brasil onde serão instaladas seções de votação no próximo dia 3 de outubro, em um total de 94.

Pelos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 200.392 brasileiros estão aptos a votar no exterior. É mais do que o dobro do que havia no pleito de 2006, quando 86 mil eleitores inscreveram-se. Mas ainda é pouco comparado com o total de brasileiros que vivem no exterior, estimado em 3 milhões pelo Ministério das Relações Exteriores.

Todo brasileiro, mesmo vivendo no exterior, é obrigado a se alistar e votar para presidente da República se tiver entre 18 e 70 anos. As exceções são as mesmas aplicadas para residentes no Brasil (analfabetos e portadores de deficiência física ou mental que “impossibilite ou torne extremamente oneroso” o cumprimento das obrigações).

Quem, mesmo vivendo fora do país, mantiver o título cadastrado no Brasil e não for votar precisa justificar a ausência. A votação fora do Brasil é de responsabilidade do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, com o apoio dos consulados ou missões diplomáticas.

Edição: Juliana Andrade

Ruanda na TV

Mais uma reportagem feita aqui, sobre a eleição que – oh! – foi ganha pelo atual presidente.

Clique aqui pra ver como ela foi ao ar no Repórter Brasil.

Aliás, até agora, a única palavra que aprendi em kinyarwnada é do “dicionário eleitoral”: “tora”, que quer dizer “vote”. E que, sempre que a vi, veio acompanhada do nome do presidente: “Tora Kagame”!

Desnecessário dizer que a língua nativa deles aqui é tão complicada que nem o nome dela eu consigo falar.

Em Ruanda, na agência e na TV

Tem matéria no ar daqui de Kigali.

Na TV foi assim, segunda de manhã. Ó aqui, ó.

E na agência foi como repito aí embaixo.

08/08/2010
Eleições em Ruanda devem ter primeiros resultados ainda na segunda

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Kigali (Ruanda) – A população de Ruanda vai às urnas amanhã (9), pela segunda vez, para escolher seu presidente, desde o massacre étnico ocorrido em 1994. Paul Kagame, que chegou ao poder depois do genocídio que matou 800 mil integrantes das etnias Tutsi e Hutu, concorre ao seu terceiro mandato. Os locais de votação estão abertos entre as 6h e as 15h locais – entre a meia-noite de hoje (8) e as 10h de amanhã, horário de Brasília.

Os observadores internacionais esperam que os primeiros resultados saiam poucas horas depois do fechamento das urnas, devido à liderança que Kagame teve nas últimas pesquisas, algo entre 75% e 85% da expectativa de votos. Além disso, Ruanda tem pequenas dimensões. São 26 mil quilômetros quadrados, área pouco maior que o menor estado brasileiro em extensão, Sergipe, e uma população de apenas 10 milhões de habitantes. Os resultados serão oficializados até o dia 17.

À Agência Brasil, o chefe da missão de observadores da União Africana, Anil Gayan, disse acreditar que as eleições serão tranquilas. Ex-ministro do Negócios Estrangeiros das Ilhas Maurício, Gaian disse que “há muita calma no país, não há incidentes ou violência. O processo eleitoral foi tranquilo e esta segunda-feira deve ser um dia de tranquilidade e de vitória da democracia em Ruanda”, afirmou.

O governo enfrenta acusações de grupos de direitos humanos de tentar de calar a oposição. Jornais deixaram de circular em abril e um jornalista que criticava o governo, Jean Léonard Rugambage, foi baleado na cabeça.

O vice-presidente do Partido Democrático Verde, André Kagwa Rwisereka, foi encontrado morto no Sul do país. Os dois crimes estão sob investigação. Dois outros opositores foram presos, acusados de incitar as diferenças étnicas que causaram o genocídio de 1994. Eles não obtiveram registro para concorrer.

O atual presidente nega qualquer pressão. Falando aos repórteres que estão em Kigali, capital de Ruanda, na véspera da eleição, Kagame disse que a perspectiva de vitória é resultado do trabalho do governo e do partido RPF (Rwandan Patriotic Front – Frente Patriótica de Ruanda). O partido, segundo ele, está “bem preparado, organizado e apresentando alternativas para resolver os problemas das pessoas”.

Em seu favor, Kagame fala do crescimento econômico de 6% ao ano. Os ganhos médios da população triplicaram. O combate à corrupção recebe elogios internacionais, as mulheres têm grande espaço na vida pública. E os investimentos para tornar Ruanda um polo de serviços na África não param de chegar.

Na primeira vez que concorreu à reeleição, em 2003, Kagame recebeu mais de 90% dos votos. Seus dois adversários mais fortes fizeram parte do governo e não são vistos como alternativa de poder. Nas ruas de Kigali, a propaganda desapareceu. Cartazes e fotografias foram retiradas no fim de semana. Os poucos que sobraram são de Kagame, que também aparece nas camisetas usadas por vários eleitores neste domingo.

Segundo o site oficial do governo ruandês, Paul Kagame foi eleito em 2000 pela Assembleia Nacional de Transição. Depois do massacre de 1994, ele foi eleito presidente do RPF, que instituiu o Governo de Unidade Nacional com outros quatro partidos: o Partido Liberal, o Partido Social Democrata, o Partido Democrata Cristão e o Movimento Democrático Republicano.