O país em que não se podia dançar

Sábado falei de Samora aqui, sobre a força que o nome dele mantém.

Herói revolucionário e primeiro presidente do país, era uma espécie de Lula para os moçambicanos: o cara que veio do povo (era enfermeiro), virou líder durante a guerra revolucionária, foi presidente, mobilizava as massas, fazia discursos memoráveis. E morreu no poder, o que mitifica ainda mais o ídolo (veja aqui uma reportagem que fiz quando do aniversário da morte dele).

Hoje em dia, todas as notas de metical (o dinheiro moçambicano) têm a efígie de Samora (“efígie” – não “esfinge”, pelamordedeus).

Samora não era uma unanimidade, tanto que houve uma guerra civil no país. Mas da parte “difícil” da postura dele – como, por exemplo, ter criado “campos de reeducação” para alguns que não pensavam como o governo – pouco se fala.

Justamente esse lado duro (de certo modo, inevitável, quando visto pelo prisma das circunstâncias do momento) gerou histórias como a que a Sandra colocou hoje no Mosanblog – sobre a proibição para… dançar.

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Coisa de gente que quer ser autoritária, mas não tem coragem. Ou de chefetes, que fazem o que fazem achando que aquilo vai ser uma sensacional puxada no saco do chefe.

Nem sempre funciona.

Lembro, em um dos lugares em que trabalhei, que existia um mal estar com um sujeito lá, porque, alegadamente, “o patrão não gostava dele”. O cara só dava entrevista quando não tinha jeito de evitar – era um proeminente nome da República de então.

Pois, durante uma viagem, tive a chance de almoçar com o patrão. No outro lado do salão, o referido sujeito comia sozinho. O patrão levantou, pegou o cara pelo braço e trouxe o nego pra almoçar na nossa mesa.

O papo foi animadíssimo. E eu ali, com aquela cara de besta, sem entender.

De birra, passei a entrevistar o cara sempre que pude. Ninguém falou nada, nunca.