Mais um passo para a fábrica de antirretrovirais sair

Algo que se arrasta desde 2003 – como você já viu aqui, em outras reportagens minhas, publicadas na Agência Brasil.

Em novembro, Lula esteve onde vai funcionar a fábrica e viu a primeira máquina de embalar comprimidos funcionando, num teste.

Agora, a Vale concordou em pagar a reforma que precisa para a fábrica receber os equipamentos definitivos- que já chegaram ou estão chegando.

Abaixo, outra reportagem da Agência Brasil, assinada do Rio de Janeiro (mas pautada pelo até há pouco correpondente na África, que já estava fora da empresa…)

RIO DE JANEIRO – Será assinado na quarta-feira (2), em Maputo, Moçambique, o acordo que dará início às obras de adequação do prédio onde funcionará a primeira fábrica de antirretrovirais daquele país. O projeto conta com apoio do governo brasileiro, por meio da unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Farmanguinhos, e a mineradora Vale.

O contrato será firmado entre a Vale, o Instituto de Gestão das Participações do Estado, ligado ao governo moçambicano, e a empresa sul africana Pro-Er, vencedora da licitação para adaptação da área, visando à montagem da fábrica.

As obras deverão durar cerca de 12 meses. A expectativa é que a fábrica comece a operar ao fim de 2012, disse nesta terça-feira (1º) à Agência Brasil o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe. Os equipamentos serão doados pelo governo brasileiro, de acordo com compromisso assumido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante sua primeira visita ao país africano, em 2003.

A Fiocruz está comprando os equipamentos em vários países, entre os quais os Estados Unidos e a Itália. “Nós vamos treinar o pessoal, capacitá-los, instalar os equipamentos, fazer a transferência de tecnologia dos nossos produtos para eles e a fábrica começa a operar”.

Até agora, foram gastos na aquisição dos equipamentos cerca de R$ 8 milhões. “Como há a transferência de tecnologia de Farmanguinhos para a fábrica, o que nós estamos fazendo é um espelho, uma imagem especular, da nossa fábrica para eles. O que nós temos aqui, nós estamos comprando igual e instalaremos lá”.

Os investimentos da mineradora Vale, no valor de US$ 4,5 milhões, permitiram resolver o problema de falta de recursos do governo moçambicano, que estava atrasando muito o desenvolvimento do projeto. “A Vale se prontificou [a doar] e está entrando com esses recursos, permitindo que as obras sejam feitas por meio da empresa que venceu a licitação”, disse Hayne Felipe.

A fábrica produzirá inicialmente 21 medicamentos que estão em domínio público. “Nós não podemos reproduzir medicamentos que estão sob patente. Então, você pode dizer, a grosso modo, que nós produziremos genéricos ou similares”. Parte desses remédios está vinculada a antirretrovirais, para tratamento da aids. Moçambique é um dos dez países do mundo mais atingidos pelo vírus da aids.

Hayne Felipe afirmou que a produção de antirretrovirais em Moçambique evitará o problema de interrupção do fornecimento de medicamentos por causa da necessidade externa de financiamento e de importação. “Inclusive, um problema que a gente observou e que já está ocorrendo, que é um certo nível de resistência do vírus, porque você não tem uma sequência de fornecimento para a população”.

Outros medicamentos são destinados ao tratamento de diabete, hipertensão, entre outras doenças, informou Felipe. A estimativa é que serão feitas 300 milhões de unidades farmacêuticas de antirretrovirais e em torno de 150 milhões de unidades de outros medicamentos. “No total, a gente estima que ela [produção] vai estar entre 450 milhões e 500 milhões de unidades farmacêuticas por ano”.

A construção da primeira fábrica de medicamentos de Moçambique vai representar economia de divisas para o país africano, que deixará de importar esses remédios. Antes, só havia uma fábrica de soros no país. “Então, toda a assistência farmacêutica moçambicana é dependente de importação e, principalmente, financiada por programas de governos estrangeiros ou de organismos internacionais”.

Dependendo do volume de produção e da demanda externa, Moçambique poderá se tornar um polo exportador para toda a África, como afirmou em novembro do ano passado o ex-presidente Lula em sua última viagem ao Continente Africano, admitiu o diretor de Farmanguinhos. Ele acentuou que, se Moçambique “conseguir o que o Brasil conseguiu, ou seja, ter um controle efetivo sobre a infestação com o vírus, é possível que a sobra dessa produção possa ser ofertada aos países vizinhos”. Ressaltou, porém, que originalmente, a fábrica objetiva atender à demanda da população moçambicana.

Lula, Guebuza, TV Brasil na África

Antes de deixar Moçambique, o presidente Lula foi ver a futura fábrica de antirrretrovirais, a primeira pública do continente.

Em outras palavras: o primeiro lugar na África onde se vai fazer remédio anti-AIDS (na parte do mundo mais afetada por ela) sem objetivo de obter lucro – e, consequentemente, injetá-lo no preço do comprimido.

Como brasileiro, tenho muito orgulho disso. E, confesso, não sei se nossas reportagens conseguiram fazer com que o telespectador notasse o que está ajudando a fazer com o dinheiro dos seus impostos. Na agência, texto escrito, é mais fácil.

Como vou continuar aqui, tentarei deixar isso claro sempre que falar do assunto -como já tenho feito.

Clique aqui para ver como a TV Brasil mostrou a despedida de Lula da África.

Pela última vez como presidente, Lula se despede da África

Maputo despediu-se de Lula com muita gente na pista do aeroporto. Na correria, não tirei nenhuma foto em que ele aparece…

Bélia adorou ver o presidente “de pertinho”, mas ficou mais radiante quando ela e o Estevão, nosso cinegrafista, foram apresentados ao presidente moçambicano, Armando Guebuza.

Como toda visita presidencial, houve muito trabalho, muita tensão e – isso nem sempre é assim – muita notícia.

Lula parou para falar conosco nos três dias, em entrevistas rápidas, mas organizadas.

Como dizemos no nosso jargão, “deu lead”.

10/11/2010
Moçambique: Lula volta a defender Enem, mas diz que prova pode ser refeita

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (10) que qualquer problema ocorrido nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não invalida os resultados alcançados e que o processo vai continuar. “O Enem é um exemplo de uma coisa bem-sucedida. Se tem problemas, vamos consertar”, afirmou. Lula falou com os jornalistas na Base Aérea de Malavane, minutos antes de deixar a capital moçambicana rumo à Coreia do Sul, onde participa da reunião do G20.

O presidente garantiu que a Polícia Federal vai investigar para saber o que ocorreu efetivamente no exame e que nenhum jovem vai ficar sem cursar a universidade. “Se for necessário fazer uma prova, faremos; se forem necessárias duas, faremos. Mas o Enem vai continuar a ser fortalecido. É isso.”

Sobre a recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) de paralisar 32 obras públicas por irregularidades graves, Lula disse que o ato é uma questão administrativa. Do total, 18 são do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O relatório foi entregue ao Congresso Nacional, que decidirá se aceita a recomendação.

“Se o TCU encontrou alguma irregularidade, na lógica dele, numa obra, pode ficar certo que o ministério atingido vai entrar com recursos e isso certamente será resolvido”, afirmou Lula. “No fundo, faz parte da normalidade administrativa do nosso país”.

Sobre a prisão de um dos chefes da Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e mais 22 pessoas, por suspeita de fraudar importações, o presidente disse que o fato mostra a seriedade do trabalho da polícia brasileira. “Seja quem quer que seja – do presidente ao menor servidor público – só tem um jeito de não ser molestado: é andar na linha.”

No último compromisso antes de deixar Moçambique, o presidente Lula visitou as futuras instalações da fábrica de remédios antiaids, que está sendo montada com patrocínio do governo brasileiro. Depois de uma espera de sete anos, a primeira máquina foi instalada para treinamento.

A mineradora brasileira Vale anunciou que irá ajudar o governo moçambicano a completar o valor necessário (U$ 4,5 milhões, aproximadamente R$ 7,6 milhões) para a adequações do prédio que vai abrigar os laboratórios. O investimento do governo brasileiro foi de R$ 13,6 milhões. A meta é produzir 250 milhões de comprimidos até 2012.

A comitiva do presidente deixou Maputo logo depois do meio-dia, hora local (8h em Brasília). A aeronave fará uma escala para abastecimento nas Ilhas Maldivas e desembarca em Seul ao meio-dia de amanhã (11), pelo horário local.

Lula chegou… e já deu entrevista

Na TV Brasil, mostramos assim, como você vê clicando aqui.

Na Agência Brasil, os seis primeiros minutos de convívio aqui (o tempo da entrevista) rendeu a reportagem que vai aí embaixo.

08/11/2010
Lula chega a Maputo e comenta apoio dos EUA à Índia para o Conselho de Segurança da ONU

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, desembarcou hoje (8) à noite em Maputo para sua última visita à África no exercício do cargo. O avião presidencial, procedente de Brasília, pousou na Base Aérea de Malavane às 23h30 – hora local (19h30 em Brasília).

Ao chegar na capital de Moçambique para uma visita de dois dias, Lula comentou o apoio dos Estados Unidos à entrada da Índia no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Para o presidente, a decisão americana não é uma ameaça às pretensões brasileiras de ter um assento permanente no órgão.

“Pelo contrário”, disse. “O Brasil defende a participação da Índia. E a Índia faz parte do G4 (Brasil, Índia, Alemanha e Japão). Eu só espero que o presidente Obama [Barack Obama, presidente dos Estados Unidos] faça agora desse compromisso, dele com a Índia, uma profissão de fé e consiga efetivamente abrir o Conselho de Segurança para que outros países possam participar”, afirmou.

Lula também falou sobre os problemas envolvendo as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicadas nesse fim de semana e que foram suspensas pela Justiça Federal no Ceará. “É muito difícil lidar com seriedade quando se tem pessoas que não agem com seriedade”, afirmou o presidente. De acordo com ele, o Enem foi um “sucesso extraordinário, com mais de 3 milhões de participantes. “Não vai ser um ou outro caso que vai impedir o sucesso do Enem”, disse.

A agenda do presidente Lula em Maputo contempla as iniciativas de cooperação, diplomáticas e comerciais. Ela começa amanhã (9), às 11h da manhã (8 horas em Brasília), com uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, que se torna a primeira instituição estrangeira a fazer parte da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que capacita professores por meio do ensino a distância. A Universidade Eduardo Mondlane também participa do projeto.

O acordo prevê, ao fim de quatro anos, a participação de mais de 7 mil estudantes em quatro cursos – gestão pública, pedagogia, matemática e biologia. Mais de 90 universidades brasileiras estão envolvidas na UAB. Os estudantes farão jus à dupla diplomação (os diplomas serão reconhecidos nos dois países) e os cursos terão metade do currículo desenvolvido em cada país.

A aula inaugural será transmitida simultaneamente plea internet para dois polos instalados em Moçambique, além da capital Maputo: Lichinga e Beira. Um total de 620 estudantes vai acompanhar a palestra.

À tarde, o presidente Lula irá receber um grupo de empresários brasileiros e moçambicanos para um encontro no Hotel Serena Polana. Ele terá uma reunião fechada com representantes de empresas brasileiras já instaladas em Moçambique, como a Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Vale, Queiroz Gavão e outras.

No fim do dia, o presidente irá a um jantar na residência oficial da Ponta Vermelha, sendo recebido pelo colega moçambicano Armando Emílio Guebuza. Na ocasião, serão assinados atos de cooperação. Dois deles na área de saúde maternoinfantil: um ajuda na criação de um banco de leite materno e outro no desenvolvimento de uma biblioteca de saúde.

A agenda termina na quarta-feira (10), de manhã, com a visita à futura fábrica de medicamentos antirretrovirais construída com apoio do Brasil. Um projeto que nasceu há sete anos, quando da primeira visita de Lula ao país. O presidente brasileiro irá ao local onde ela será instalada – um galpão de 2 mil metros quadrados ao lado de uma fábrica de soros do governo moçambicano, na cidade da Matola, vizinha a Maputo.

O Brasil também irá doar 21 dossiês de medicamentos a serem produzidos em Moçambique, sem a necessidade de pagamento de direitos ou royalties. Cada documento, no mercado, poderia custar entre U$ 30 e 80 mil.

Hoje, técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – que fará a gestão técnica da fábrica – terminavam a instalação da primeira máquina da linha de produção, que terá a função de moldar e embalar comprimidos. Ela ficará em Moçambique até a chegada do conjunto completo de novos equipamentos adquiridos nos Estados Unidos. A peça, emprestada, foi trazida da Fiocruz há dez dias, em um avião da Força Aérea Brasileira.

A coordenadora do projeto, Lícia de Oliveira disse que há necessidade de uma obra de adequação do prédio, que deve começar ainda no mês que vem. “A previsão é que, entre março e abril, chegue o conjunto completo de equipamentos, que será instalado paralelamente à obra”. Depois de terminada a readequação técnica do prédio, a fábrica precisa receber a validação
e passa pela fiscalização para funcionamento.

“A primeira fase se dará pelo processo de capacitação para a feitura de embalagem e técnicas de controle de qualidade, até chegar à fabricação propriamente dita. Mas no fim do processo, aqui haverá uma fábrica completa”, explicou diz Hayne Felipe, diretor de Farmanguinhos, unidade tecnicocientífica da Fiocruz. Segundo ele, a previsão “otimista” é que isso ocorra até 2012.

“É extremamente gratificante e importante ajudar a capacitar este país tecnologicamente e, ao mesmo tempo, dar a ele condição de enfrentar este quadro trágico que é a epidemia de HIV/aids”, disse Hayne. “Nos traz uma lembrança de quando tivemos que enfrentar situação semelhante na década de 1970, no Brasil, com relação à produção de imunobiológicos”.

Moçambique está entre os dez países mais atingidos pelo vírus da aids no mundo, com índice de prevalência de 15% entre os adultos. Ao todo, o país tem cerca de 1,7 milhão de infectados em uma população de cerca de 22 milhões de habitantes.

Edição: Aécio Amado

E ela talvez não venha…

Acabo de saber que a presidenta-eleita pode optar por não vir.

Imagino mesmo que esteja precisando de descanso.

Entretanto, quando fizemos a reportagem, ontem, tudo indicava que viria.

Fato: como eu mesmo digo lá, as agendas ainda não estavam completamanrte fechadas.

Enfim, com ela ou sem ela…. estamos aqui, a espera de quem queira vir nos ver.

Clique aqui para ver como mostramos a expectativa em torno da visita
a Maputo, no Repórter Brasil.

Ela vem chegando…

O maior privilégio de um jornalista é ver de perto aquilo que a infinita maioria das pessoas viu (ou vai ver) pela TV, ouviu pelo rádio ou ficou sabendo pelo jornal, revista, internet.

E, entre todos os mais de 200 países do mundo, Dilma escolheu o que eu vivo para fazer sua primeira viagem depois de eleita.

Desnecessário dizer que jamais esperava por isso.

Em 2001, quando morava nos Estados Unidos, o 11 de Setembro aconteceu na minha janela. Por pouco o avião que caiu no Pentágono não entrou pela minha sala de jantar.

Vi as vítimas de Eldorado dos Carajás, os sequestrados na casa do embaixador do Peru. Vi todos os presidentes da república vivos. Vi um papa morto (nunca um vivo, aliás). Vi a eleição americana quase não acabar em 2000.

Vi três copas do mundo, um olimpíada, um monte de grandes prêmios de Fórmula Um, outro tanto de corridas de São Silvestre.

Vi a posse do Lula, a despedida de Fernando Henrique. Vi Lula e Obama no Salão Oval da Casa Branca. Como já tinha visto Fernando Henrique e Bush usando as mesmas cadeiras.

Vi os memoriais do genocídio em Ruanda. E os índios sequestrarem um padre na reserva Raposa Serra do Sol.

Vi partos e casamentos. Enterros, missas, cultos e procissões.

Vi o Brasil todo e boa parte do mundo.

Vi muita gente boa. E muito salafrário também.

Bom ou ruim, vi. E para minha satisfação, verei – de novo – bem de pertinho.


02/11/2010
Para Moçambique, visita de Dilma é indício de que a África seguirá como prioridade do Brasil

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – O governo de Moçambique considera a visita da presidente eleita, Dilma Rousseff, ao país um indício de que a África vai seguir como uma das prioridades da política externa do Brasil. “Que melhor sinal de continuidade no relacionamento poderíamos ter se não este?” – indagou o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi.

A presidente eleita acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última visita dele à Africa, na semana que vem (dias 9 e 10). Ambos ficarão por dois dias em Maputo, capital de Moçambique, antes de seguir para o encontro dos líderes do G20 (as 20 maiores economias do mundo) em Seul, na Coreia do Sul. “Será um privilégio muito grande que ela, logo depois da eleição e mesmo antes de sua posse, venha a Moçambique”, disse Balói, na saída da reunião semanal do Conselho de Ministros moçambicano.

De acordo com ele, o esforço do governo Lula em fortalecer os laços comerciais, de amizade e cooperação com a África foi reconhecido em todo o continente. “Com o presidente Lula, a política externa do Brasil teve enfoque muito grande na África, algo sem precedentes”, afirmou. “Nos diferentes fóruns em que tenho participado – da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, a sigla em inglês)), ou da União Africana, por exemplo – isso tem sido notado.”

A agenda oficial da visita a Maputo ainda está sendo finalizada, mas um dos compromissos é a visita ao local onde será instalada uma fábrica de remédios contra a aids. A primeira máquina a funcionar, uma emblistadeira (que molda e embala comprimidos), chegou a Moçambique na semana passada e está sendo montada.

Lula e Dilma devem conhecer o local onde a fábrica vai funcionar: um galpão ao lado de uma fábrica de glicose e soro fisiológico do governo moçambicano, que está sendo adaptado para receber o laboratório.

Instalada a primeira máquina, os técnicos moçambicanos passam por um treinamento. Até março, os outros equipamentos já comprados pela Fundação Oswaldo Cruz (que fará a gestão técnica da planta) irão chegar. Seis meses depois, a fábrica começa a embalar remédios e em mais seis, passa a produzir antirretrovirais. Além de remédios antiaids, está programada a produção de medicamentos contra a tuberculose e a malária.

O presidente Lula divulgou a intenção de auxiliar no projeto durante sua primeira visita ao país, em 2003. O Congresso brasileiro só autorizou o gasto (R$ 13,6 milhões) em dezembro do ano passado. Neste ano, Moçambique fez a concorrência para as obras de adequação do espaço. Esse é apenas um dos cerca de 150 projetos de cooperação que o Brasil mantém com países africanos.

O presidente também dará uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, a primeira instituição de fora do país a integrar a Universidade Aberta do Brasil, que forma e qualifica educadores por meio do ensino a distância.

São apenas dois dos mais de 150 projetos de cooperação que o Brasil mantém ou apoia na África. Além da Fiocruz, instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão envolvidas nas iniciativas.

Muitas empresas brasileiras também fortaleceram suas operações na África nos últimos anos. Na semana passada, a Petrobras anunciou a descoberta de petróleo em Angola. Há cerca de 20 dias, a mineradora Vale lançou a pedra fundamental de uma mina de cobre na Zâmbia.

As construtoras Camargo Correa, Odebrecht, Constran e Andrade Gutierrez, além da montadora Marcopolo, da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e do grupo Votorantim, são alguns dos conglomerados brasileiros que trabalham no continente. Outros, como a fabricante de papel e celulose Suzano, estudam a possibilidade de instalar unidades. Além das operações locais, as exportações brasileiras para a África triplicaram entre 2002 e 2008.

“É bom termos parceiras fortes entre os emergentes”, ressalta o ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano, lembrando que além do Brasil, a Índia, China e África do Sul têm estreitado o relacionamento com o continente. “Temos identidade em vários temas internacionais. E ainda há muito trabalho a fazer e sinergias a aproveitar e criar”, completou Balói.

Chega a primeira máquina da fábrica de antirretrovirais

Demorou. Mas veio.

27/10/2010
Chega a Moçambique máquina brasileira da primeira fábrica de remédios contra Aids do país

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Depois de quase sete anos de expectativa, chegou hoje (27) a Moçambique a primeira máquina da fábrica de remédios de combate à aids do país, que está sendo montada com auxílio do Brasil. O equipamento, uma emblistadeira, foi trazido do Rio de Janeiro para Maputo em um avião Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB).

A máquina serve para moldar e embalar comprimidos. Foi levada para o local definitivo, um galpão na cidade vizinha da Matola, onde hoje já opera uma fábrica de soro fisiológico e glicose do governo moçambicano.

“Os técnicos começam o treinamento já nos próximos dias. Eles vão aprender a montar um equipamento deste porte, bem como utilizar o maquinário depois”, disse a coordenadora do projeto, a brasileira Lícia de Oliveira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela acompanhou a chegada da máquina na pista do aeroporto, junto com representantes da embaixada brasileira, três técnicos e o futuro diretor da fábrica, o também brasileiro Roberto Castrignani.

A Fiocruz será responsável pela gestão técnica da planta, a primeira pública a produzir antirretrovirais na África. Laboratórios privados produzem remédios anti-aids em pequena escala em Uganda, no Quênia e na África do Sul.

Além da emblistadeira, outras máquinas virão do Brasil. “Essa foi emprestada pela Fiocruz. As definitivas já foram compradas e chegam a partir de março do ano que vem”, explicou Lícia. Também foram encomendados diversos equipamentos para fabricação, controle de qualidade e armazenamento de remédios.

A fábrica de antirretrovirais é um desejo antigo de Moçambique. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, em 2003, a intenção de ajudar o projeto, durante a primeira visita dele a Moçambique. O Congresso brasileiro liberou a verba em dezembro do ano passado (R$ 13,6 milhões). Na nova visita que fará a Moçambique no mês que vem, entre os dias 9 e 10, o presidente Lula deve visitar o local onde a fábrica vai funcionar.

Moçambique é um dos dez países mais afetados pela aids no mundo, com índice de prevalência de 11,5% (no Brasil, por exemplo, é de 0,5%). Tem 1,5 milhão de infectados em uma população de 22 milhões de pessoas. Diariamente, 85 crianças nascem com o vírus HIV no país. Segundo o escritório local do Programa das Nações Unidas para HIV-aids (Unaids), 200 mil moçambicanos são tratados com antirretrovirais. Bem mais que os 6 mil registrados em 2005, mas longe do necessário.

Em setembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros informou, em reunião das Nações Unidas sobre as Metas do Milênio, que, mesmo com o avanço, o país não conseguirá atingir seu objetivo no combate ao HIV. “Menos custo vai significar mais gente sendo atendida, porque teremos verba para comprar mais medicamentos, pagar mais médicos. É um ganho imenso”, relativizou o porta-voz do Ministério da Saúde moçambicano, Leonardo Chavane.

Além de antirretrovirais, a fábrica vai produzir medicamentos para combater a tuberculose e a malária. O prazo para o início das atividades depende, além da chegada dos equipamentos, do fim das obras de adequação do prédio.

Edição: Vinicius Doria