Greve em Maputo: chapas voltam aos poucos

Alguns já circulam. Bem menos que o habitual, é verdade. Mas começam a voltar

“Chapas 100” são as vans de Maputo. Único jeito de chegar ao trabalho para imensa maioria.

Recebem o interessantísimo nome oficial de “semi-coletivos”.

Acabo de saber que a FRELIMO, partido do governo, organiza uma marcha para hoje. Também vai promover a limpeza das ruas.

Vamos acompanhar.

Detalhes mais tarde – aqui, na Rádio Nacional, TV Brasil, e Agência Brasil.

José Maia, o mito

Mais uma historieta copística. Passada em 1998, em Paris. José Maia, o moço que veio de Jaú, é o personagem central.

Personagem mesmo, até porque o nome dele de verdade não é Maia. É José Maria Contatori. O “Maia” foi uma invenção de Sérgio Cunha, editor-chefe da Rádio Bandeirantes na época que ele chegou. Cunha, o primeiro dos vários chefes que tive na Bandeirantes, achava que “José Maria Contatori” era complicado pra falar na transmissão. Tirou o “r” do Maria e virou José Maia.

Pois bem. Alguns dias depois de chegar a Paris, nosso solerte narrador começa a reclamar de dor de garganta. Algo muito normal em copas, porque os caras narram um monte de jogos – mais de um por dia até – no geladíssimo ar condicionado do IBC – Internacional Broadcasting Center. Limão não resolveu, tal… o jeito foi procurar ajuda profissional.

Maia pega pelo braço o nosso chefe da técnica na época, Luis Anunciatto Neto, o Netão. E seguem ambos para a farmácia mais próxima. Nenhum dos dois exatamente dominava o idioma de Alberto Camus.

Olham pro balconista e tentam explicar o problema com sinais mímicos universais: “aaaaahhhhh! Aaaaahhhhh! Aqui ó!” Sem conseguir muito mais que uma cara de espanto, Maia vai lá atrás nas aulas de francês do externato de Jaú, aponta pra garganta e manda ver:

“Injechiôn, si vu plê! Injechiôn! Aqui ó! Aqui na gole! Na gole!”

Eu e os portugueses. Os portugueses e eu. Nós e a Copa

Eu com o microfone da TSF. Paulo Cintrão com o da Rádio Bandeirantes. Ao lado, nas carrapetas de Seul, João Bicev. Copa de 2002.

Minha primeira copa foi 1998, na França. Fiz um relato aqui, até, sobre como os portugueses estiveram ligados a essa experiência, via Radio Alfa de Paris (e eu não sabia direito quem era Carlos do Carmo. Leia aqui). Quem tomava conta lá era o Ricardo Botas. Além de diretor da estação, ele apresentava o programa “Xuta Brasil” (com ‘x’ mesmo) comigo.

Fizemos boa amizade. Ele era um tipo divertido, simpatizou comigo, e eu com ele. Vendo Ricardo trabalhar aprendi bastante sobre como não basta falar bom português pra se comunicar bem com todo mundo. Vale, claro, pro sotaque lusitano. Mas vale dentro do Brasil também, devido à vastidão do nosso país.

Segredo: durante a Copa, a convite do Ricardo, dava umas escapadas (seguindo minha escala na Bandeirnates, claro) pra comentar os jogos que eram transmitidos pela TV5 – a estatal francesa – para os países lusófonos da África. Jamais imaginava que um dia, iria morar aqui.

Uns anos depois, perdemos contato. Fiquei sabendo que ele mudara pra São Tomé e Príncipe, mas não o achei mais.

Pois chego aqui a Maputo e bato os olhos numa revista de economia. Li um pouco, gostei, fui ver quem dirigia. Tá lá: Ricardo Botas. “Não é possível…” Mas era. Liguei lá e confirmei ser ele mesmo. Isso foi logo na primeira semana aqui. De lá pra cá, almoçamos duas vezes por semana, quando ele me ensina muito de Moçambique, da África, do mundo. Afinal, quantas pessoas você conhece que já viveram em SETE países?

A seríssima expressão de Ricardo Botas no expediente da Revista Capital

Como ele veio parar aqui? A terceira mulher dele é moçambicana. Lá na França eu conheci aquela que viria a ser a segunda. Comigo já estava a Sandra. Depois de Paris, e daquela mulher, Botas já dirigiu rádio e TV para portugueses em Luxemburgo e Canadá, agência de publicidade em São Tomé. Largou o jornalismo por um tempo e foi dirigir uma fábrica de sabão no interior do Senegal! Voltou pro jornalismo ao aportar aqui, em Maputo, dois anos atrás. Dirige a revista Capital, de economia. Já escrevi artigo lá pra ele; qualquer hora publico aqui também.

Mas Botas não foi o único portugua que conheci em Paris. Outro que andava comigo dum lado pro outro era Paulo Cintrão, da rádio TSF. Portugal tava fora daquela copa e a rádio dele não tinha pago direitos – o que faz da vida de qualquer um O inferno num evento desses. Dei ao Paulo todo suporte que era possível: gravações de jogadores do Brasil, acesso ao centro de imprensa, até café, quando dava. Não queria nada em troca – mas ganhei a amizade dele.

E amizade sempre compensa. Fomos nos reencontrar em 2002 na Coréia, agora com Portugal em campo. Ele me levou como convidado para o jogo Portugal e Coréia do Sul, que desclassificou os patrícios. Fui no ônibus (autocarro, pá!) dos jornalistas portugueses. Uma festa tremenda, eles estavam certos da classificação.  Perderam por 1 a 0. O locutor da TSF, Fernando Correa, quase morreu no fim do jogo. “Portugal prrrdeu! está tudo acabado! Tudo a-ca-baaaa-do!” Acompanhei isso tudo da cabine, enxugando as lágrimas deles.

Naquele centro de imprensa enorme, ninguém podia fumar – claro. Mas ele e o nosso técnico João Bicev não se continham. Um virava pro outro e dizia: “vamos lá na Coréia do Norte?” Era a senha pra ir fumar lá na escada de incêndio, saindo escondido. Como se fosse cruzar a zona desmilitarizada pra entrar na Coréia do Norte…

Não dá pra esquecer do Paulo Cintrão. E pelo que acabei de descobrir, ele também não esqueceu do tio aqui. Ele conta algumas histórias nossas no blog que escreve. Dê uma olhada clicando aqui. Como eles dizem em Portugal, “valapena, pá”…

Carlos do Carmo

Carlos do Carmo, numa foto que NÃO fui eu que tirou!

Carlos do Carmo é um dos maiores cantores do fado da história. Pra muita gente em Portugal, só fica atrás de Amália Rodrigues. Em 1976, ele cantou todas as músicas que concorreram no prestigiado Festival da Canção da RTP. Nunca mais ninguém fez isso. “Os Putos”, “Um Homem na Cidade”, “Canoas do Tejo”, “Lisboa Menina e Moça”, “Duas Lágrimas de Orvalho”, “Bairro Alto” são alguns dos sucessos dele em 47 anos de carreira.

Pois.

Em 1998 eu não sabia nada disso. Mas eu também era um “puto”, pá – tinha 23 anos. E estava na primeira Copa do Mundo, na França, quando cruzei com esse monstro sagrado… e mal percebi.

Foi assim: em 98 a Rádio Bandeirantes fechou um acordo com uma rádio francesa que só falava e cantava em português, a Rádio Alfa. Como Portugal não se classificou, os caras acharam que seria bacana ter a transmissão dos jogos do Brasil. Era bom pra ambos: a Rádio Alfa transmitiria a Copa em português sem gastar um puto (pá) e a Rádio Bandeirantes seria ouvida em Paris e faria um belo marketing (e fez).

Pois.

Também fazia parte do acordo que a Bandeirantes mandaria um de seus profissionais que estavam em Paris pra participar de um programa diário criado para ocasião – o “Xuta, Brasil” (assim mesmo, com “x”). Era às 10 da noite, depois de um dia todo de trabalho, lá do outro lado de Paris. Claro que o escalado era o mais novo – o “puto” aqui, pá. E lá ia eu, de carro, cruzando o Periférico todo, ou pela margem do Sena (variando o caminho porque era longe).

Mas eu curtia. O programa era divertido. Quem fazia comigo era o diretor da rádio, Ricardo Botas (que acabo de reencontrar aqui em Moçambique – caso para contar mais tarde), que punha os purtugas “na antena” conosco, passava rápido. Leandro Quesada, hoje primeiro repórter do esporte da Bandeirantes , foi comigo lá algumas vezes.

Pois.

Um mês e tanto de programa (foram 60 dias) chega a grande festa da rádio – a Festa dos Santos Populares (pra brasiléééiros, são as festas juninas). E a grande estrela seria… Carlos do Carmo. Carlos do Carmo vem, Carlos do Carmo vai, Carlos do Carmo, Carlos do Carmo… e eu sem saber direito quem era o sujeito (ah, se houvesse Google!).

Pois chega a festa. Chega Carlos do Carmo! O dono da rádio (um português riquíssimo, dono de uma pedreira e uma joalheira em Paris) me leva no camarim de Carlos do Carmo. Eu converso com ele. Mas não pego autógrafo, não saco o gravador do bolso, nem tiro foto. Não sabia que estava na frente de um mito.

Vim saber só de volta ao Brasil. Conversando com meu colega Agostinho Teixeira, filho de portugueses, comento “pois é, eu falei com Carlos do Carmo na festa…” E ele: “você falou com Carlos do Carmo? Você tocou no Carlos do Carmo? Meu Deus, que sensacional”!

Pois eu tinha estado com um monstro sagrado e nem aproveitei! Não curti. Não senti tudo isso que o Agostinho certamente teria sentido… a inguinorânça da mocidade é bruta mesmo.

Tudo isso porque acabo de ouvir na rádio RDP (Rádio Difusão Portuguesa) que Carlos do Carmo estará cantando para a comunidade lusa de África do Sul durante a Copa. Pois eu vou atrás dele de novo. Vou arrumar um jeito de entrar no camarim. E vou tirar uma foto com o homem, três copas e 12 anos depois… pois.