Mubarak: não concorro de novo

Logo depois que mandei a matéria, vi, pela Al Jazeera, gente critando “sai, sai agora”, indicando que a insatisfação continua – aliás, exatamente como foi na Tunísia.

A Fraternidade Muçulmana também já disse que o pronunciamento “não agradou a ninguém”.

01/02/2011
Mubarak anuncia que não concorrerá a reeleição

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O presidente do Egito, Hozni Mubarak, anunciou hoje (1º) à noite que não vai concorrer a um novo mandato nas eleições de setembro. Em um pronunciamento na TV estatal, afirmou que os protestos da última semana variaram de “manifestações pacíficas a um ataque à estabilidade do país, manipuladas por interesses políticos”.

“Exauri minha vida servido ao povo, e decidi não mais concorrer a um novo mandato”, disse Mubarak. Também afirmou que “morrerá em solo egípcio, que jurei defender”, indicando que não pretende deixar o país.

De acordo com a imprensa norte-americana, horas antes o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aconselhou que Mubarak não se candidatasse à reeleição.

O presidente egípcio está no poder desde 1981. Os Estados Unidos apoiaram Mubarak, inclusive financeiramente, desde então. O Egito é um dos únicos dois países da Liga Árabe (junto com a Jordânia) que reconhecem o estado de Israel.

A decisão ocorre no mesmo dia que milhares de pessoas passaram horas concentradas na Praça Tahrir, no centro do Cairo, pedindo a saída imediata do presidente. A chamada “Passeata dos Milhões”.

Também houve protestos em outras cidades, como Alexandria (a segunda maior do Egito) e Suez. Mais uma vez, o toque de recolher foi ignorado. O exército acompanhou sem intervir.

Foi a primeira vez em muitos anos que as Forças Armadas assumiram posição de neutralidade. No geral, sempre seguiram a orientação do governo – que, até então, era de reprimir os protestos.

A oposição interpretou o gesto como um sinal de que o apoio a Mubarak começava a falhar. Mohamed El Baradei, apontado pela frente oposicionista com o interlocutor para a transição política, anunciou que o prazo para Mubarak abandonar o poder iria até sexta-feira. Também disse que negociações com o governo só começariam depois que ele abandonasse o cargo e o país.

Na tentativa de acalmar os ânimos, Mubarak trocou o primeiro escalão do governo no fim de semana. Na segunda-feira, o novo vice-presidente, Omar Suleiman, anunciou que iniciaria conversações com a oposição para fazer uma reforma constitucional. Nos 30 anos de Mubarak no poder, o cargo nunca havia sido ocupado.

Segundo o vice-presidente, novas medidas iriam atacar o “desemprego, pobreza, corrupção e o alto custo de vida”. Também anunciou novas eleições locais para onde houve evidência de irregularidades no pleito parlamentar de novembro passado.

Instantes depois de Mubarak aparecer na televisão e confirmar que não tentará a reeleição, os manifestantes começaram a festejar na praça Tahrir. Mas muitos haviam anunciado que só abandonariam o local depois que o presidente deixar o poder.

Protestos egípcios na TV Brasil

Clique aqui para assistir à reportagem que foi exibida pelo Repórter Brasil.

E clicando aqui você lê a reproategm publicada pela Agência Brasil.

Onda no areal: depois da Tunísia, o Egito

Mais tarde foram confirmadas as mortes de 3 pessoas.

Essa caçapa estava cantada.

No Egito é ano de eleição. Vamos acompanhar de perto essa campanha.

Reportagem da Agência Brasil.

25/01/2011
Depois da Tunísia, protestos contra governo chegam às principais cidades do Egito

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Milhares de egípcios saíram às ruas da capital Cairo e de outras cidades do Egito para paricipar das manifestações contra a situação política e econômica. A polícia usou bombas de gás e canhões de água para tentar bloquear a passagem dos manifestantes. Às 10h da manhã, o único indício de que algo fora do normal poderia acontecer era o grande aparato policial nas ruas. Duas horas depois, centenas de pessoas bloquearam as avenidas, gritando palavras de ordem contra o governo.

As manifestações, convocadas pela internet, coincidem com o feriado nacional em homenagem à polícia egípcia. Os grupos se apresentam como porta-vozes da “juventude frustrada com a pobreza e a opressão”, segundo denominam o movimento nas mensagens que circulam pela rede mundial de computadores. No sítio de relacionamento Facebook, um grupo com mais de 87 mil seguidores chama o dia 25 de janeiro de “o dia do fim do silêncio e submissão”.

O governo egípcio alertou que iria prender quem se manifestasse sem a devida permissão oficial. “O aparato de segurança irá lidar firmemente com qualquer tentativa de quebra da lei”, informou o diretor de Segurança do Cairo, por meio de um comunicado.

O ministro do interior, Habib el-Adli, ordenou a detenção de qualquer pessoa que “expresse suas opiniões ilegalmente”. No Egito, manifestações sem prévia autorização do governo são proibidas. Solicitações para hoje foram negadas, por motivos de segurança.

Os protestos nascem claramente influenciados pelo sucesso do movimento popular que derrubou o presidente da Tunísia, Zine al-Abidine Ben Ali, que ficou 23 anos no poder. O presidente egípcio, Hozni Mubarak, está no cargo há 30 anos e ainda não anunciou se concorrerá a mais um mandato este ano. Como na Tunísia, o Egito é um estado laico em uma nação majoritariamente muçulmana. Mas, no caso egípcio, a oposição islâmica é organizada.

“Há uma cadeia que está a ocorrer”, diz o doutor em relações internacionais Aly Jamal, do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique. “Já tivemos o caso da Argélia, depois o da Tunísia. Os problemas que produzem essa situação estão presentes na maior parte dos países da região, talvez com exceção da Líbia. São as dificuldades de sobrevivência no dia a dia, o incrementos nos preços e no nível de vida”, explicou o acadêmico.

Para o professor Jamal, a saída para os governos não verem a autoridade questionada seria atacar os problemas diretamente. “Reduzir os impostos, promover políticas de emprego mais efetivas, subsidiar produtos. É o preço a pagar para evitar alguma revolta maior, com ameaça à ordem pública e outras consequências.”

Edição: Vinicius Doria