O Importante – sempre tão importante

microfone de rádio” – E aí, Fulano: vitória importante…
– Sem dúvida. Foram três pontos importantes, com um gol no momento importante, com a participação importante de todo o grupo, numa competição importante.
– Fale da importância dessa sequência de bons resultados do Clube do Mé Futebol Clube…
– Importantíssimo. Mas só chegamos a isso graças à participação importante do torcedor, apoiando nos momentos importantes, lotando o estádios em rodadas importantes, nos colocando nessa posição importante na tabela do campeonato.
– E quarta-feira tem um jogo importante…
– Por isso é importante a gente descansar bem amanhã, importantíssimo treinar bem na terça, porque é importante chegarmos bem preparados na próxima rodada.
– Tá aí o Lucas Fulano, jogador importantíssimo em mais uma vitória importante do Clube do Mé”.

É assim: em rádio e TV, nada mais – rá! – importante que o tempo. Então, só fale o que for… importante. Se não tiver importância, não diga.
Se você está dizendo aquilo, é importante – porque você não fala bobagem, não perde tempo com besteira, não enche linguiça.

Não precisa contar por ouvinte/telespectador que aquilo é importante. Se precisa explicar que tal coisa é importante, deve ser porque ela não importa pra ninguém nem pra nada.

Ou você troca a palavra por outra, que realmente informe alguma coisa, ou – melhor ainda – não qualifique, não adjetive. Só conte a importantíssima coisa que o David Fulano fez pelo Clube do Mé Futebol Clube.

Falar de improviso é uma coisa importante, meu caro.
Mas é importante treinar muito antes, no chuveiro, segurando o xampu igual microfone.
Importantíssimo.

Voltando…

O ElefanteNews ficou desativado desde 2011, quando voltamos de dois fantásticos anos vivendo em Moçambique. Desativado numas: deixou de ser alimentado, mas nunca saiu do ar.

Nesse tempo todo, uma média de 150, 200 pessoas por dia procurou o seu conteúdo, e teve a chance de conhecer um pouco mais da África no geral e de Moçambique em especial.

Pois o Elefante vai voltar a trombar por aí. Ainda não sei exatamente como, nem com qual frequência, mas decidi fazer com que ele volte a trombar com as notícias – sempre contra a manada.

Juntando um pouco do que tenho visto sobre jornalismo, falando um pouco da minha experiência no rádio e na TV, revisitando os maravilhosos períodos que vivemos em Moçambique, em Washington DC, em São Paulo e em Brasília.

Ou seja: o conteúdo antigo segue inteiramente disponível. E coisas novas vão começar a chegar.

Afinal, ainda há muita história pra contar.

E outras pra recontar. Afinal, como diz o nosso preclaro Ney Hayashi da Cruz (atualmente na Bloomberg de São Paulo, mas que por dez anos foi setorista da Folha no Banco Central): “Furo é tudo aquilo o que o meu editor ainda não sabe”.

Tem gente que acha que o mundo começou no dia em que ele nasceu. Ou, mais ainda: no dia em que ele começou a trabalhar.

Nesta linha, tenho lido que “uma das grandes novidades” na linguagem televisiva é ser “informal”-  usar “tá” no lugar de “está”, por exemplo. Já em termos de passagem de televisão (aquela hora em que o repórter aparece no vídeo), a “última moda” é aparecer com a mão no bolso.

Por isso, resolvi colocar, como foto fixa do Elefante, uma de 2008 – com um repórter conhecido dos senhores, fazendo passagem em Nova Jersey, Estados Unidos. Naquele tempo, o assunto já era crise. E o repórter já metia as mãos no bolso.

Tá?

A seleção vai mudar. Mas quando será a nossa vez?

Sempre que o Brasil é desclassificado da Copa, a pauta é “enumerar os inúmeros erros” que foram cometidos na convocação, preparação, escalação, alimentação, e qualquer outro “ão” que caiba no processo. Em seguida, apontar o que deve ser feito para que esses erros não se repitam na próxima copa.

Mas quem diz que esses erros aconteceram mesmo? Será que não é possível que tudo tenha sido feito certo e – miraculosamente – algum outro time tenha sido melhor que o nosso?

“Ouvimos as fontes”, dizemos nós. Quais fontes, só pra lembrar? O processo é o mesmo que se usa pra analisar – imparcialmente, é óbvio – decisão de Banco Central ou Ministério da Fazenda: gente “de mercado”, ex-integrantes da instituição ou “comentaristas experientes”. Na enorme maioira das vezes, sempre os mesmos, que já sabemos que vão falar exatamente o que queremos escutar.

Mas daí não é a minha opinião, né? É o que o Mailson da Nóbrega acha.

Sem falar nessa esquizofrenia entre departamento comercial e conteúdo. Enquanto as chamadas são carregadas de emoção e apelos patrióticos, e os comerciais são de um ufanismo só, prafrentebrasilsalveaseleção, a moçada na beira do campo quer provar que é “jornalismo futebol clube”, imparcial, sem pachequismo. Só que sendo contra tudo – tudo – o que os caras fazem. Como se isso não fosse parcial também. Não fosse erro. Ou soberba de achar que do lado de lá só tem mané.

Lembro sempre dos famosos comentaristas que dizem que “o próprio nome da FIFA já diz que futebol é association”, pra indicar que tal time deveria jogar em conjunto. Um sujeito que diz isso deveria ser pendurado de cabeça pra baixo. “Fédération Internationale de Football Association” quer dizer Federação Internacional de Associações de Futebol. Nunca foi “Federação Internacional de Futebol Associado”.

Bom seria que, a cada quatro anos, a imprensa também passasse pelo mesmo escrutínio rigoroso que impõe à seleção. Daí, certamente, os imaturos e ou preguiçosos não viriam nas próximas. Quem previu o futuro e errou feio – ou ficou no muro de sempre – seria obrigado e estudar mais antes de abrir a boca. E quem se mostrou ultrapassado, preconceituoso ou anacrônico passaria a comentar só jogo de showbol. Se tanto.

Mas não. Nós não erramos nunca. Nem vamos a lém da conta. “Como? Campanha contra alguém? Imagine! Só reportamos fatos como eles são e fazemos críticas necessárias. Sempre construtivas, é claro”.

Quantos analistas te contaram como a seleção da Alemanha viria jogar na Copa? Qual o grande diferencial dela? Quantos apontaram a Alemanha como favoritíssima ao título? Claro que não vale aquele troço de “a Alemanha é sempre candidata em qualquer competição.”

Mas fomos várias vezes informados quantos jogos o Zéninguémkovic fez pela segunda divisão da Eslováquia, ou qual o nome da quarta ex-esposa – modelo, por sinal – do craque Bonítolson, que assinou um contrato milionário com aquela famosa grife de botinas Pedeboy.

Desnecessário dizer que tem gente no nosso meio que sabe o que fala, conhece tática, batalha por notícia e não por fofoca, não quer nem o lugar do técnico nem do supervisor da seleção. Claro que tem. Também tem quem apontou a Alemanha como favorito sim. Mas esses tem que ser a maioria. E ainda não são.

É claro que a seleção erra. Mas agora vai trocar técnico, cair comissão, modificar “filosofia”, como tanto gostamos de dizer.

E nós? Quando vamos mudar de tática?

Hoje é hoje; amanhã é amanhã

A maior graça de ser correspondente é ter que dar conta de todos os temas que possam surgir. Na redação, mesmo em TV – bem menos rígido nisso – você acaba setorizado, ainda que informalmente: um faz mais economia, outro comportamento, política quem faz melhor é fulano, esporte é a mesma turma sempre.

Por isso, a quarta-feira aqui em Joanesburgo foi interessante: acordei achando que iria fazer matéria sobre AIDS, mas ela acabou ficando pra amanhã por causa de um problema do entrevistado.

Depois passei a trabalhar em cima de uma reportagem sobre o espaço que as marcas brasileiras ganham no mercado africano, mas um factual do dia acabou prevalecendo: começou hoje o Africa Fashion Week.

Naturalmente, o tema gera boas imagens e tem uma história rica pra contar: o crescimento da classe média negra sul-africana, que entrou no mercado de consumo só há 20 anos e agora já sustenta bem até os supérfluos. Isso num país que ainda é muito desigual.

Assim que a reportagem da Fashion Week for ao ar eu coloco o link aqui. (atualização: já foi ao ar. E o link está aqui) O mesmo vale pros produtos brasileiros. Vamos guardar a surpresa pra TV, né?

Tem sido assim na Copa, e é assim sempre pra quem está fora do país. Ontem falei de erros de arbitragem. Anteontem ouvi os torcedores à saída do estádio sobre o que eles acharam do Brasil. Já falei de Black Economic Empowerment, assisti a Brasil e Portugal numa cabana no meio da savana, fiz reportagem sobre o apartheid…

É um privilégio mesmo.