Suplicy no Sudão

Pra falar de renda mínima, claro.

Sem piada: é o tipo de reportagem que eu curto fazer. Ele me atendeu lá em Cartum (por telefone, obviamente) e também falou do referendo, como você vai ver na reportagem aí embaixo.

Curto não só porque é bacana localizar o senador no Sudão. Mas porque ele veio aqui pra mostrar o que o Brasil fez para estar melhor do que estava há alguns anos. Caminho que qualquer um pode seguir.

Nesse caso específico, está bem, bem melhor, com 21 milhões de pessoas a menos abaixo da linha da pobreza.

E não é porque é bolsa-família, Suplicy, PT, não.

Também curti muito fazer, na semana passada, uma entrevista com a senadora Katia Abreu, no estacionamento da embaixada japonesa aqui em Maputo. Ela veio explicar para Moçambique como o Brasil, com condições (boas e más) de alguma forma semelhantes às dele, conseguiu se transformar no maior exportador de comida do mundo (a matéria está aqui, caso não tenha visto).

Não é patriotada, bairrismo ou outras bobagens do gênero. Mas curto mostrar para o Brasil que muitos brasileiros correm por aí com muita coisa pra mostrar. Ao contrário do que nos fazem sentir, nem tudo no país dá errado. Muito ao contrário.

Hoje em dia mandamos para fora de avião a pão de queijo em saquinho (compro aqui, aliás), passando por pasta de dente, prostituta, técnico de futebol, sapato, bolacha e minério de ferro.

Mas também – e principalmente – exportamos conhecimento.

24/11/2010
Sudão faz plebiscito sobre a separação da parte rica em petróleo

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo – As eleições no Sudão e o plebiscito sobre a separação da parte sul, rica em petróleo, do restante do país, que ocorrerão em 45 dias, ainda não dão sinais de terem tomado as ruas da capital, Cartum. “Nas ruas, não há grandes manifestações, mas existem cartazes com indicações para quem quer se recensear para votação”, diz o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que esteve no Sudão para fazer palestras em defesa da renda básica de cidadania.

No entanto, a consulta popular está marcada para 9 de janeiro do ano que vem, para definir se o Sudão, país com maior território da África, será ou não dividido em dois. O referendo é uma exigência da Região Sul do país que quer a independência. Faz parte do acordo de paz de 2005, que pôs fim a uma guerra civil de 23 anos, que matou mais de 1,5 milhão de sudaneses.

“Fui recebido no palácio do governo por assessores próximos do presidente (Omar Al) Bashir, que disse que o governo vai respeitar o resultado do referendo, que é considerado normal e democrático, porque faz parte do acordo de paz”, afirmou o senador que disse que os sudaneses estão empenhados em demonstrar a unidade do país.

Ontem (23), o presidente Omar Al Bashir e o líder sulista do Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLM), Salva Kiir, reafirmaram o compromisso de respeitar o resultado da consulta.

Os dois estiveram em Adis Abeba, na Etiópia, para um encontro do Inter Government Agency for Development (Igad), mediado pelo primeiro ministro anfitrião, Meles Zenawi. O Igad parabenizou os dois lados por buscar o consenso. Ao mesmo tempo, convocou as lideranças a chegarem à próxima rodada de negociação com o “espírito de compromisso” para garantir os direitos dos cidadãos.

O encontrou terminou sem novos acordos sobre definição de fronteiras ou do destino de Abyei, região produtora de petróleo que fica na divisa Norte-Sul. Porém, ambos concordaram em continuar as discussões.

De acordo com a agência estatal de notícias do Sudão, o presidente Bashir afirmou que “não se voltará à guerra” e que o governo trabalhará para fortalecer as relações com o Sul mesmo que a decisão seja pela separação.

No final de semana passado, integrantes do partido do governo voltaram a dizer que poderiam não reconhecer o resultado da votação de janeiro. O Partido do Congresso Nacional (NCP), do presidente Bashir, acusou o SPLM de pressionar os sulistas que moram na capital, Cartum, a não se registrar para votar.

Uma reclamação formal foi feita à Comissão Eleitoral, que também lista outras “irregularidades”, como atrasos deliberados no registro e fechamento de locais antes da hora prevista.

Já a SPLM acusou o NCP de fazer pressão em favor da unidade, coletando telefones e dados pessoais dos eleitores. O partido alega que muitos sulistas preferiram viajar para a região de origem para evitar o que chama de “intimidação”.

O registro dos eleitores começou em 15 de novembro e vai até o dia 31. Na capital, os centros têm pouca procura, segundo a imprensa local. No Sul, a procura é maior.

24/11/2010
Suplicy defende renda mínima para países africanos em conferência no Sudão

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – Mesmo seguindo os conselhos do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 1997, e rico em óleo, gás, ouro, prata, cobre e outros minérios, metade da população do Sudão está abaixo da linha da pobreza, vivendo do que consegue plantar ou de auxílio humanitário. Palco da guerra civil mais longa da África que durou 23 anos, encerrada em 2005, o país estuda formas de combater a miséria com projetos de inclusão social.

“A ministra de Ação Social daqui me agradeceu muito por vir aqui trazer a nossa experiência para a 2ª Conferência Africana de Desenvolvimento Social”, afirmou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que participa do encontro na capital do país, Cartum, que vai até amanhã (25). “Ela irá ao Brasil na semana que vem para participar de um encontro mundial sobre o assunto, em Brasília”.

Na pauta, projetos de inclusão, transferência de renda, microcrédito, cooperativismo e empreendedorismo. Suplicy falou sobre o programa brasileiro Bolsa Família para ministros da área social dos países africanos. Disse que ele é apenas o primeiro passo para a implementação da renda básica de cidadania, instituída por lei em 2004.

“O conceito de implementar a renda básica universal é cada vez mais aceito”, afirmou o senador, que defende a ideia há muitos anos. “Elimina a burocracia, a vergonha de declara-se pobre e a dependência, pois é igual para todos”.

Segundo ele, o debate está avançado na África do Sul, onde recebeu o apoio da maior central sindical do país – a Cosatu – e do bispo anglicano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1994. “Eles já instituíram uma aposentadoria para idosos que segue os moldes da renda mínima”.

Na Namíbia, um projeto piloto é patrocinado por igrejas e sindicatos alemães, que garantem U$ 12,00 (R$ 20,00) mensais para os mil habitantes da pequena vila da Otijvero, desde janeiro de 2008. “Os resultados são positivos, mas serão mais bem avaliados em fevereiro, durante um seminário”.

Será que a Revolução Verde vai mesmo chegar?

Ouço sobre ela desde que cheguei a Moçambique, há seis meses. “Produzimos pouco alimento”. “Tudo vem de fora” são outras coisas que ouço também.

Vejamos. E comamos.

19/11/2010
Com apoio do Brasil, CNA aposta em Moçambique como grande produdor de alimentos

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Para a presidenta da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, Moçambique tem condições de ser um dos grandes fornecedores de alimentos da África. “A pesquisa agropecuária foi o instrumento mais poderoso que fez do Brasil a potência que é hoje. E isso o Brasil esta abrindo mão e cedendo à África”, disse ela, que também é senadora pelo DEM de Tocantins. A comitiva de técnicos brasileiros veio ao país conhecer oportunidades no setor agroindustrial e trocar experiências.

Mas ela alertou que “não há como ser eficiente sem trabalhadores treinados ou sem logística, que esta sendo construída”. Quanto ao treinamento, o Brasil também vai colaborar. “Fomos convidados pela ABC [Agência Brasileira de Cooperação] para uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que é o nosso braço de qualificação profissional. Nós já recebemos no Brasil produtores e técnicos angolanos e, agora, estamos retornando para treiná-los. Aqui [em Moçambique] é a mesma coisa”, disse a senadora.

Outro ponto fundamental do processo é o financiamento, seja por microcrédito ou com a ajuda dos instrumentos internacionais de fomento dos países desenvolvidos.

Além de ter um encontro com o ministro da Agricultura moçambicano, José Pacheco, a comitiva esteve nas instalações da mineradora brasileira Vale, na província de Tete, e conheceu projetos sociais na região. Também fez visitas técnicas a empreendimentos agropecuários, para identificar novas áreas com potencial para futuros investimentos. “Estamos vendo toda a região como um polo de produção, um celeiro, não só para Moçambique como também para vários países da África”.

Metade do território do país tem condições de ser cultivado. Mas 80% dos produtores praticam a agricultura de subsistência. Hoje em dia, boa parte do alimento em Moçambique é importado, principalmente da África do Sul.

O primeiro passo, disse Kátia Abreu, é fortalecer o mercado interno. “O Brasil produz 80% para abastecer o mercado interno e apenas 20% é exportado. Mesmo assim, o país lidera a tabela mundial de exportadores de soja e carne bovina, por exemplo. Moçambique tem localização muito especial, não só em relação ao mercado africano, mas também ao Oriente Médio, além de China e Japão para direita e Brasil e América Latina para a esquerda”.

Na volta a Maputo, o grupo teve contato com o Programa de Desenvolvimento da Agricultura das Savanas Tropicais de Moçambique (ProSavana), uma parceria que envolve a Agência de Cooperação Internacional do Japão. O governo japonês desenvolveu um projeto semelhante no Brasil, o Pro-Cerrado.

A infraestrutura do ProSavana deve estar pronta nos próximos 2 a 5 anos. Mas Katia Abreu fez um alerta. “Já observamos muitos plantios de madeira. O mundo precisa de papel e celulose, mas aquelas áreas não podem ser ocupadas totalmente por madeira”.

Também nesta semana, outra comitiva brasileira, de 25 empresários de diversos setores, esteve prospectando oportunidades em Moçambique. Na segunda-feira (15), o grupo ouviu do ministro dos Transportes e Energia, Paulo Zucula, quais são os locais do país que mais precisam de investimentos. Também conheceu a estrutura legal e tributária voltada aos investimentos estrangeiros. Os principais focos dos investidores são mineração, energia, agroindústria e serviços.

Edição: Vinicius Doria