Será que eu estou falando xangana?

Pra mim, tão difícil de entender quanto grego. Na hora de falar, tem sons sibilantes (quase uns assobios) que não costumamos usar no português.

Mas chego lá. Já sei ser educado – agradecer, dizer bom dia-boa tarde-boa noite e até logo.

Como é muito parecido com o ronga, considero que já domino princípios de civilidade em dois dos idiomas moçambicanos.

Faltam só 20 e poucos.

Veja aqui a reportagem na TV Brasil.

E aqui, texto de um tempo atrás sobre a dicionarização do xangana.

XiChangana, xê!

Reportagem publicada no domingo (12) na Agência Brasil.

E ainda estou trabalhando em outra na mesma linha, sobre uso de línguas moçambicanas em sala de aula (já falei disso noutro post – clique aqui se quiser ver mais).

As apurações que estavam em curso tiveram que ser remanejadas por causa das manifestações – e os efeitos delas – nas últimas duas semanas.

Mas elas vão aparecendo, aos pouquinhos. Xê!

12/09/2010
Idioma mais falado no Sul de Moçambique terá dicionário a partir do ano que vem

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Será publicado no ano que vem o primeiro dicionário do idioma xiChangana, o mais falado no Sul de Moçambique, também presente na África do Sul e no Zimbábue. Quatro pesquisadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane trabalham no projeto, que é o primeiro do gênero no país.

“A línguas maternas devem ter a oportunidades de se desenvolver. Estamos a trabalhar em gramáticas e dicionários para que os demais idiomas do país se modernizem. É importante para nossa história e preservação da nossa identidade”, diz o coordenador do trabalho, professor Armindo Ngunga.

Já existem dicionários que traduzem os idiomas falados na África Austral, praticamente todos de origem banto, para o português e o inglês. Mas a iniciativa de enumerar as palavras em xiChangana, explicando seus significados na própria língua, é inédita.

O idioma oficial de Moçambique é o português, mesmo sendo a língua materna de apenas 6% da população, de acordo com o Recenseamento Geral de 1997. Na mesma pesquisa, apenas 40% da população declararam que sabem falar o idioma. O percentual é bem mais elevado na capital, Maputo, próximo de 90%.

O português divide o território com mais de 20 idiomas, entre eles o barwe chinianja, chona, chope, echuwabo, ciyao, kunda, lolo, elomwe, maindo, makhuwa, maconde, mwani, xiChangana e zulu.

“Os moçambicanos conquistaram e domesticaram a língua portuguesa”, afirma Ngunga. “Mas isso não dá o direito de se sobrepor ao ponto de aniquilar as demais”, diz ele.

Bri xile pra você também

Nota que dei na Rádio Nacional:

“As línguas africanas de origem banto serão tema de um seminário a ser realizado em Salvador entre os dias 1o e 3 de setembro. O encontro na Universidade Estadual da Bahia vai discutir formas de preservar os idiomas e estudar como eles influenciaram o português. São mais de 600, e estão distribuídos em todo centro-sul da África.”

Mais de 600 línguas… línguas mesmo, idiomas com vocabulário, gramática e fonética. Em toda África, é comum as pessoas serem mais que bilíngües: normalmente falam o seu idioma materno, a chamada língua de integração (aqui é o português) e a língua do local em que atualmente vivem, ou de alguma comunidade próxima.

É, bonitão. Você, que se sente genial porque tem diploma da Cultura Inglesa, saiba que minha colaboradora para assuntos domésticos daqui fala mais línguas que você. Gertrudes fala xangana, ronga e português.

Aliás, macua, xangana e ronga – línguas daqui de Moçambique – junto com yorubá, kimbundo, kikongo… são algumas das línguas que fizeram com que da sua boca saísse a melodia que sai. Seus termos e ritmos marcaram profundamente o português aqui da África e também o do Brasil.

Suahíli é a língua mais falada na África, por 50 milhões de pessoas. Ela é do centro do continente. Che Guevara aprendeu um pouco de suahíli, quando passou pelo Quênia, Congo, Ruanda, Tanzânia. O nome suahíli dele era Tatu (que quer dizer número 3).

Aqui em Moçambique, são 23 línguas maternas. Xangana e ronga são as mais faladas em Maputo. São bem parecidas, usam até as mesmas expressões.

Então, por ora, macuerro (meu irmão), bri xile (bom dia) pra você.