Duas reportagens publicadas na Agência Brasil.
24/10/2010
África se firma como prioridade nas relações comerciais do Brasil
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo – A África foi uma das regiões escolhidas pelo governo brasileiro para diversificar laços comerciais e de relacionamento diplomático. Desde que assumiu o poder, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já esteve em 27 países do continente.
A última visita antes de deixar o cargo será a Moçambique, entre os dias 9 e 10 de novembro, a caminho do encontro dos líderes do G20 (grupo das maiores economias mundiais, incluindo países emergentes) em Seul, capital da Coreia do Sul.
Em Maputo, Lula vai conhecer o local onde será instalada uma fábrica de medicamentos antirretrovirais, para tratamento da aids, a ser gerida pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). A planta será instalada em um galpão ao lado do local onde hoje já funciona uma fábrica de soros do governo moçambicano.
Será a primeira fábrica pública de medicamentos contra a aids na África. Até agora, o continente abriga apenas pequenas plantas privadas na África do Sul, no Quênia e em Uganda. O presidente também dará uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, que está prestes a se tornar a primeira instituição estrangeira a integrar a Universidade Aberta do Brasil, que forma e qualifica educadores por meio do ensino a distância.
Esses são dois exemplos dos mais de 30 projetos de cooperação que o Brasil mantém ou auxilia no país. “É uma responsabilidade que está no contracheque dos países que abraçam grandes causas no cenário internacional”, disse o embaixador brasileiro em Moçambique, Antônio Souza e Silva. “São os encargos de quem tem a posição que o Brasil tem hoje em dia, de líder no G20 financeiro, de participante ativo das discussões da OMC [Organização Mundial do Comércio] e de aspirante a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas”.
Instituições públicas brasileiras também ajudam Moçambique a implementar uma série de projetos, entre eles o curso de formação profissional no setor manufatureiro, com o apoio do Serviço Nacional da Indústria (Senai); o mestrado para ciências da saúde, com o apoio da Fiocruz; e a informatização da Previdência Social do país, com acompanhamento da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev).
Entre os projetos, estão ainda o de melhoramento agrícola, com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) nas áreas de reflorestamento de Machipanda, na fronteira com o Zimbábue, e o de desenvolvimento do Pró-Savana, programa nos moldes da parceria com o Japão que viabilizou uma série de culturas no cerrado brasileiro.
Também é da Embrapa um dos projetos mais ousados em andamento na África para melhoria de culturas agrícolas: o desenvolvimento de tecnologia de aperfeiçoamento do algodão em países pobres como o Benin, Burkina Fasso, o Chade e Mali. Em toda a África, são mais 150 projetos de cooperação. Segundo a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), os programas movimentam recursos da ordem de US$ 40 milhões.
Além da atuação diplomática, o Brasil também passou a disputar espaço no crescente mercado africano, como já fazem os emergentes Índia e China. De acordo com o Panorama Econômico Africano 2010, elaborado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, o crescimento econômico médio do continente, entre 2006 e 2008, estava na casa dos 6% ao ano. Caiu para 2,5% no ano passado como consequência da crise mundial.
Entre 2002 e 2008, as exportações brasileiras para a África aumentaram 340%, três quartos de itens manufaturados. Antes da crise, o volume total de negócios bateu a casa dos US$ 26 bilhões em 2008. No ano passado, a corrente comercial foi de US$ 17,2 bilhões, sendo US$ 8,7 bilhões em exportações e US$ 8,5 bilhões em importações. Em 2002, não passava de US$ 5 bilhões.
Os principais grupos de produtos exportados para a África são açúcar e confeitarias; veículos e peças sobressalentes; carnes; óleo refinado de petróleo; máquinas e similares; minérios; óleos; cereais; materiais elétricos e eletrônicos; e produtos de ferro e aço.
Angola é o principal parceiro comercial brasileiro no continente e um dos maiores destinos de exportações brasileiras em geral, à frente do Canadá, dos Emirados Árabes Unidos, da Austrália e Índia. Também são parceiros no continente a África do Sul, Nigéria e o Egito, entre outros.
Empresas brasileiras de grande porte já atuam na região, como Marcopolo, Camargo Corrêa, Votorantim, Embraer, Petrobras, Odebrecht, WEG e Vale, que recentemente lançou a pedra fundamental de uma mina de cobre na Zâmbia. A empresa também vai começar a exportar, em meados do ano que vem, carvão mineral da região moçambicana de Moatize, na Província de Tete.
24/10/2010
Empresa brasileira de papel e celulose quer montar fábrica em Moçambique
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Maputo – A empresa brasileira Suzano quer produzir papel e celulose em Moçambique. Representantes da empresa estiveram no país no início do mês, visitando pontos onde o empreendimento poderá ser montado. “Nós sentimos que eles [Suzano] estão cada vez mais interessados em se estabelecer aqui”, disse o diretor nacional da Indústria de Moçambique, Sidone dos Santos.
A comitiva da empresa brasileira visitou áreas nas províncias da Zambézia, de Nampula e de Cabo Delgado, no Centro-Norte do país, que já estuda investimentos de infraestrutura na região, por causa de outros projetos em implantação. Um dos principais é o de exploração de minérios pela brasileira Vale e pela australiana Riversdale, na vizinha Província de Tete. A demanda é por melhores condições de transporte para escoar a produção pelos portos da Beira ou de Nacala.
A Suzano ainda não apresentou formalmente o projeto de investimento. As autoridades moçambicanas esperam que ele envolva toda a cadeia produtiva, do plantio do eucalipto até o processamento final do papel e da celulose. “Temos grande necessidade de uma fábrica dessas aqui, mas que venda para nós também. Gastamos demasiadamente com importação”, disse Santos. Moçambique importa praticamente todo papel que consome, de embalagens a papel higiênico, papel de jornal, cartões e outros derivados da celulose.
Por haver a possibilidade de envolver a plantação de eucaliptos e pinus, matéria-prima da celulose, o projeto também precisará da aprovação do Ministério da Agricultura, que vai analisar o impacto ambiental da iniciativa.
Procurada pela Agência Brasil, a Suzano preferiu não fazer comentários a respeito do projeto, o segundo envolvendo o setor de papel e celulose trazido para apreciação do governo moçambicano este ano. Em março, a portuguesa Portucel divulgou que pretende investir US$ 2,3 bilhões no país até 2025. A planta, ainda em processo de aprovação, irá servir ao mercado asiático e deve produzir 1 milhão de toneladas por ano.
A Suzano Papel e Celulose tem cinco fábricas, todas no Brasil, mas atua fortemente no exterior. No ano passado, a Ásia foi o principal destino de suas vendas, com 44,9% de participação. O segundo maior mercado foi o europeu, com 32,9%. Na sequência vêm América do Norte (6,7%) e América do Sul (0,9%).
As vendas para o mercado brasileiro absorveram 14,7% da produção da Suzano. A companhia produziu 1,6 milhão de toneladas em 2009, ano de recuperação da demanda por celulose no mercado internacional, sendo que 1,5 milhão foi vendida fora do Brasil. A empresa tem investimentos programados da ordem de US$ 6 bilhões para a construção de novas plantas no Maranhão e no Piauí.
Edição: Vinicius Doria
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