Depois das mortes, Moçambique revê aumentos

Reportagem da Agência Brasil.

07/09/2010
Depois de 13 mortes, governo de Moçambique volta atrás e anula aumentos de preços

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Uma semana depois dos protestos que paralisaram Maputo por dois dias e deixaram 13 mortos, o governo de Moçambique anunciou um pacote de medidas para minimizar o impacto da alta internacional de preços.

Foram mantidas as tarifas da água e energia elétrica para consumidores de baixa renda, que iriam subir 11% e 13%, respectivamente. O preço do pão, que seria reajustado em 17%, também fica inalterado graças a um subsídio. Foram ainda mantidos os preços do transporte coletivo, da batata, do tomate, da cebola e dos ovos. O valor cobrado pelo arroz de terceira qualidade vai cair graças a um corte de impostos.

Outra medida foi obrigar o pagamento de despesas em moeda nacional (metical). Até agora, era comum a fixação de salários de dirigentes de empresas, bem como preços de consultas médicas e mensalidades das escolas privadas, em dólar. Também foi anunciado o fortalecimento da fiscalização das instituições financeiras e do fluxo de capitais no país.

O governo congelou os salários e subsídios dos ministros e diretores de empresas estatais até dezembro deste ano. Anunciou ainda cortes nas despesas de passagens aéreas, ajudas de custo, combustíveis e comunicações, bem como reforços orçamentários e a criação de novas empresas estatais.

Segundo o ministro da Planificação e Desenvolvimento, Ayuba Cuereneia, a demora em anunciar as medidas deveu-se à necessidade de estudos pormenorizados. “O trabalho foi profissional, sério.” Mas, segundo ele, ainda não é possível dizer qual será o impacto nas contas do governo, ou se haverá redução na estimativa de crescimento de cerca de 6% para este ano.

Na semana passada, o Conselho de Ministros fez outra reunião de emergência, mas não anunciou nenhuma medida concreta. Pediu apenas que os moçambicanos mantivessem a calma e trabalhassem “de forma árdua”.

Hoje (7) de manhã, o presidente Armando Guebuza havia dito que receberia o relatório do grupo de trabalho formado para estudar como “resolver de forma responsável o problema de que todos temos conhecimento”.

No primeiro dia de manifestações, ele atribuiu os reajustes a “fatores externos, que incluem a crise financeira, de alimentos e a subida dos preços dos combustíveis”. Chamou as manifestações de “agitação que está a agravar as condições de vida dos nossos concidadãos” e condenou o que classificou de “vandalismo e destruição”.

As declarações não foram bem recebidas pela população, que voltou a fazer protestos e bloqueios no dia seguinte.

Guebuza e os ministros participaram das celebrações do Dia da Vitória, em que Moçambique e Portugal fizeram o acordo que culminaria na independência do país africano, em 1975. O entendimento foi fechado na capital de Zâmbia, Lusaka.

A Praça dos Heróis Moçambicanos, onde foi a celebração, fica na mesma região em que foram registrados os mais violentos confrontos entre manifestantes e policiais na semana passada. Por coincidência, uma das avenidas que termina na praça chama-se Acordos de Lusaka. Guardas com armamento pesado faziam a segurança da região. Não houve protestos.

Perguntado sobre o pedido da Anistia Internacional para que o governo investigasse as mortes de 13 pessoas durante os protestos, já que, segundo a polícia, só foram usadas balas de borracha, o ministro Cuereneia afirmou que as mortes “naturalmente já estão sendo investigadas.”

Edição: Graça Adjuto

Greve em Maputo: mortos são 13

Como publicado na Agência Brasil.

06/09/2010
Sobe para 13 número de mortos em protestos em Moçambique

Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África

Maputo (Moçambique) – Subiu para 13 o número oficial de mortos durante os protestos contra o aumento do custo de vida em Moçambique. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (6) pelo Ministério da Saúde. As manifestações foram mais intensas entre os dias 1º e 2 de setembro.

A última morte aconteceu de madrugada. A vítima estava internada no Hospital Central de Maputo. Não foram dados mais detalhes sobre a pessoa que morreu.

As aulas foram retomadas nas escolas públicas de Maputo e Matola. Mas nem todos professores conseguiram chegar, porque em vários pontos da periferia ainda há falta de transporte público. Muitos motoristas de vans, chamadas de chapas 100, preferiram não circular diante de inúmeros boatos de que os protestos iriam recomeçar, o que não se confirmou.

As vans atendem à maioria da população porque o número de ônibus (maximbombos) é pequeno. Somente 105 ônibus circularam nesta segunda-feira para atender a uma população de quase 2 milhões de habitantes na região.

Um grupo de jovens foi detido em Tete, Norte do país, enquanto corria pelo comércio do centro da cidade anunciando protestos para hoje. Segundo a polícia, nada aconteceu.

Edição: João Carlos Rodrigues

Greve em Maputo – sábado

Estive em Boane neste sábado. Passei por Matola também. Andei pelo centro da cidade pela manhã e pela zona mais nobre no começo da tarde.

Não vi nada de anormal ou chamativo.

O número de mortos passou de 7 para 10, mas isso não quer dizer que houve mais três ataques no dia. Podem ser pessoas que já estavam internadas desde antes. Ou dados que ainda não haviam chegado oficialmente ao governo. Não houve esclarecimento cabal.

As lojas hoje estavam cheias, como reportei à Agência Brasil. E você lê aí embaixo.

Um registro: o jornalista Ricardo Botas, que até pouco tempo era diretor da revista Capital, aqui de Maputo, já foi liberado depois de passar a noite no Instituto do Coração, em observação.

Ele foi parado na Matola por bandidos que levaram seu carro e ficou ferido no abdomen. Passa bem. E já faz piadas como sempre.

Foi atacado depois de parar para dar carona – ou “boléia”, como se diz aqui – já que ontem não havia transporte público para todos.

04/09/2010
Número oficial de mortos durante protestos em Maputo sobe para 10

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Subiu para dez o número oficial de mortos nos protestos contra o aumento do custo de vida que ocorrem na capital moçambicana desde a manhã da quarta-feira (1º). A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Ivo Garrido.

Neste sábado (4), o movimento dos chapas 100 (as vans) é aparentemente normal em Maputo. Há muito movimento nas lojas e supermercados da chamada baixa (centro) da cidade, já que muitas ficaram fechadas durante boa parte dos últimos três dias. Também há filas nas padarias – uma cena que se repete desde quinta-feira (2).

No Jardim dos Namorados, um parque com vista para o mar na área nobre de Maputo, os funcionários abriram as portas normalmente. O local é muito procurado por noivas que querem ser fotografadas com o vestido da festa, bem como para os próprios casamentos. “Já há dois agendados para hoje”, disse a funcionária, que não se identificou.

Edição: Graça Adjuto