Carlos do Carmo

Carlos do Carmo, numa foto que NÃO fui eu que tirou!

Carlos do Carmo é um dos maiores cantores do fado da história. Pra muita gente em Portugal, só fica atrás de Amália Rodrigues. Em 1976, ele cantou todas as músicas que concorreram no prestigiado Festival da Canção da RTP. Nunca mais ninguém fez isso. “Os Putos”, “Um Homem na Cidade”, “Canoas do Tejo”, “Lisboa Menina e Moça”, “Duas Lágrimas de Orvalho”, “Bairro Alto” são alguns dos sucessos dele em 47 anos de carreira.

Pois.

Em 1998 eu não sabia nada disso. Mas eu também era um “puto”, pá – tinha 23 anos. E estava na primeira Copa do Mundo, na França, quando cruzei com esse monstro sagrado… e mal percebi.

Foi assim: em 98 a Rádio Bandeirantes fechou um acordo com uma rádio francesa que só falava e cantava em português, a Rádio Alfa. Como Portugal não se classificou, os caras acharam que seria bacana ter a transmissão dos jogos do Brasil. Era bom pra ambos: a Rádio Alfa transmitiria a Copa em português sem gastar um puto (pá) e a Rádio Bandeirantes seria ouvida em Paris e faria um belo marketing (e fez).

Pois.

Também fazia parte do acordo que a Bandeirantes mandaria um de seus profissionais que estavam em Paris pra participar de um programa diário criado para ocasião – o “Xuta, Brasil” (assim mesmo, com “x”). Era às 10 da noite, depois de um dia todo de trabalho, lá do outro lado de Paris. Claro que o escalado era o mais novo – o “puto” aqui, pá. E lá ia eu, de carro, cruzando o Periférico todo, ou pela margem do Sena (variando o caminho porque era longe).

Mas eu curtia. O programa era divertido. Quem fazia comigo era o diretor da rádio, Ricardo Botas (que acabo de reencontrar aqui em Moçambique – caso para contar mais tarde), que punha os purtugas “na antena” conosco, passava rápido. Leandro Quesada, hoje primeiro repórter do esporte da Bandeirantes , foi comigo lá algumas vezes.

Pois.

Um mês e tanto de programa (foram 60 dias) chega a grande festa da rádio – a Festa dos Santos Populares (pra brasiléééiros, são as festas juninas). E a grande estrela seria… Carlos do Carmo. Carlos do Carmo vem, Carlos do Carmo vai, Carlos do Carmo, Carlos do Carmo… e eu sem saber direito quem era o sujeito (ah, se houvesse Google!).

Pois chega a festa. Chega Carlos do Carmo! O dono da rádio (um português riquíssimo, dono de uma pedreira e uma joalheira em Paris) me leva no camarim de Carlos do Carmo. Eu converso com ele. Mas não pego autógrafo, não saco o gravador do bolso, nem tiro foto. Não sabia que estava na frente de um mito.

Vim saber só de volta ao Brasil. Conversando com meu colega Agostinho Teixeira, filho de portugueses, comento “pois é, eu falei com Carlos do Carmo na festa…” E ele: “você falou com Carlos do Carmo? Você tocou no Carlos do Carmo? Meu Deus, que sensacional”!

Pois eu tinha estado com um monstro sagrado e nem aproveitei! Não curti. Não senti tudo isso que o Agostinho certamente teria sentido… a inguinorânça da mocidade é bruta mesmo.

Tudo isso porque acabo de ouvir na rádio RDP (Rádio Difusão Portuguesa) que Carlos do Carmo estará cantando para a comunidade lusa de África do Sul durante a Copa. Pois eu vou atrás dele de novo. Vou arrumar um jeito de entrar no camarim. E vou tirar uma foto com o homem, três copas e 12 anos depois… pois.