Ricardo Botas, Carlos do Carmo… pá.

Almoçamos com Ricardo Botas mais um vez.

É sempre divertido. E, como em muitas destas ocasiões, lembramos da época em que nos conhecemos, no longínquo século passado, às vésperas da Copa da França.

Botas era o director (ó pá!) da Rádio Alfa de Paris, emissora que só trasmite em português.

E é a única pessoa que eu conheço que morou em sete países.

Durante o papo, lembrei-me da historieta abaixo, que já contei aqui no ElefanteNews.

Mas como foi muito no começo, talvez você ainda não tenha lido, reproduzo o texto – com os inevitáveis retoques de mais de um ano depois.

Carlos do Carmo é um dos maiores cantores da história do fado. Para muita gente, só fica atrás de Amália Rodrigues. Para outro tanto de gente, é a Amália Rodrigues de calças.

Pois.

Em 1976, ele cantou todas as músicas que concorreram no prestigiado Festival da Canção da RTP. Nunca mais ninguém fez isso. “Os Putos”, “Um Homem na Cidade”, “Canoas do Tejo”, “Lisboa Menina e Moça”, “Duas Lágrimas de Orvalho”, “Bairro Alto” são alguns dos sucessos dele em 47 anos de carreira.

Pois.

Em 1998 eu não sabia nada disso. Mas eu também era um “puto”, pá – tinha 23 anos. E estava na primeira Copa do Mundo, na França, quando cruzei com esse monstro sagrado… e mal percebi.

Foi assim: em 98, a Rádio Bandeirantes fechou um acordo com uma rádio francesa que só falava e cantava em português, a Rádio Alfa. Como Portugal não se classificou, os caras acharam que seria bacana ter a transmissão dos jogos do Brasil. Era bom pra ambos: a Rádio Alfa transmitiria a Copa em português sem gastar um puto (pá) e a Rádio Bandeirantes seria ouvida em Paris e faria um belo marketing (e fez).

Pois.

Também fazia parte do acordo que a Bandeirantes mandaria um de seus profissionais que estavam em Paris pra participar de um programa diário criado para ocasião – o “Xuta, Brasil” (assim mesmo, com “x”). Era às 10 da noite, de segunda a segunda, depois de um dia todo de trabalho, lá do outro lado de Paris. Claro que o escalado era o mais novo – o “puto” aqui, pá. E lá ia eu, de carro, cruzando o Periférico todo, ou pela margem do Sena (variando o caminho porque era longe).

Mas eu curtia. O programa era divertido. Quem fazia comigo era o diretor da rádio, Ricardo Botas, que punha os tugas “na antena” (ao vivo) conosco, passava rápido. Leandro Quesada, hoje primeiro repórter do esporte da Bandeirantes , foi comigo lá algumas vezes.

Pois.

Um mês e tanto de programa (fiquei 66 dias em Paris), e chega a grande festa que a rádio produzia anualmente – a Festa dos Santos Populares (pra brasiléééiros, são as festas juninas). E a grande estrela seria… Carlos do Carmo. Carlos do Carmo vem, Carlos do Carmo vai, Carlos do Carmo, Carlos do Carmo… e eu sem saber direito quem era o sujeito (mal se pode imaginar hoje em dia, mas houve um tempo em que não existia Google).

Pois chega a festa. Chega Carlos do Carmo! O dono da rádio (um português riquíssimo, dono de uma pedreira e uma joalheira em Paris) me leva no camarim de Carlos do Carmo. Eu converso com ele. Mas não pego autógrafo, não saco o gravador do bolso, nem tiro foto. Não sabia que estava na frente de um mito.

Vim saber só de volta ao Brasil. Conversando com meu colega Agostinho Teixeira, filho de portugueses, comento “pois é, eu falei com Carlos do Carmo na festa…” E ele: “você falou com Carlos do Carmo? Você tocou no Carlos do Carmo? Meu Deus, que sensacional”!

Pois eu tinha estado com um monstro sagrado e nem aproveitei! Não curti. Não senti tudo isso que o Agostinho certamente teria sentido… a inguinorânça da mocidade é bruta mesmo.

Greve em Maputo – sábado

Estive em Boane neste sábado. Passei por Matola também. Andei pelo centro da cidade pela manhã e pela zona mais nobre no começo da tarde.

Não vi nada de anormal ou chamativo.

O número de mortos passou de 7 para 10, mas isso não quer dizer que houve mais três ataques no dia. Podem ser pessoas que já estavam internadas desde antes. Ou dados que ainda não haviam chegado oficialmente ao governo. Não houve esclarecimento cabal.

As lojas hoje estavam cheias, como reportei à Agência Brasil. E você lê aí embaixo.

Um registro: o jornalista Ricardo Botas, que até pouco tempo era diretor da revista Capital, aqui de Maputo, já foi liberado depois de passar a noite no Instituto do Coração, em observação.

Ele foi parado na Matola por bandidos que levaram seu carro e ficou ferido no abdomen. Passa bem. E já faz piadas como sempre.

Foi atacado depois de parar para dar carona – ou “boléia”, como se diz aqui – já que ontem não havia transporte público para todos.

04/09/2010
Número oficial de mortos durante protestos em Maputo sobe para 10

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Subiu para dez o número oficial de mortos nos protestos contra o aumento do custo de vida que ocorrem na capital moçambicana desde a manhã da quarta-feira (1º). A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Ivo Garrido.

Neste sábado (4), o movimento dos chapas 100 (as vans) é aparentemente normal em Maputo. Há muito movimento nas lojas e supermercados da chamada baixa (centro) da cidade, já que muitas ficaram fechadas durante boa parte dos últimos três dias. Também há filas nas padarias – uma cena que se repete desde quinta-feira (2).

No Jardim dos Namorados, um parque com vista para o mar na área nobre de Maputo, os funcionários abriram as portas normalmente. O local é muito procurado por noivas que querem ser fotografadas com o vestido da festa, bem como para os próprios casamentos. “Já há dois agendados para hoje”, disse a funcionária, que não se identificou.

Edição: Graça Adjuto

Eu e os portugueses. Os portugueses e eu. Nós e a Copa

Eu com o microfone da TSF. Paulo Cintrão com o da Rádio Bandeirantes. Ao lado, nas carrapetas de Seul, João Bicev. Copa de 2002.

Minha primeira copa foi 1998, na França. Fiz um relato aqui, até, sobre como os portugueses estiveram ligados a essa experiência, via Radio Alfa de Paris (e eu não sabia direito quem era Carlos do Carmo. Leia aqui). Quem tomava conta lá era o Ricardo Botas. Além de diretor da estação, ele apresentava o programa “Xuta Brasil” (com ‘x’ mesmo) comigo.

Fizemos boa amizade. Ele era um tipo divertido, simpatizou comigo, e eu com ele. Vendo Ricardo trabalhar aprendi bastante sobre como não basta falar bom português pra se comunicar bem com todo mundo. Vale, claro, pro sotaque lusitano. Mas vale dentro do Brasil também, devido à vastidão do nosso país.

Segredo: durante a Copa, a convite do Ricardo, dava umas escapadas (seguindo minha escala na Bandeirnates, claro) pra comentar os jogos que eram transmitidos pela TV5 – a estatal francesa – para os países lusófonos da África. Jamais imaginava que um dia, iria morar aqui.

Uns anos depois, perdemos contato. Fiquei sabendo que ele mudara pra São Tomé e Príncipe, mas não o achei mais.

Pois chego aqui a Maputo e bato os olhos numa revista de economia. Li um pouco, gostei, fui ver quem dirigia. Tá lá: Ricardo Botas. “Não é possível…” Mas era. Liguei lá e confirmei ser ele mesmo. Isso foi logo na primeira semana aqui. De lá pra cá, almoçamos duas vezes por semana, quando ele me ensina muito de Moçambique, da África, do mundo. Afinal, quantas pessoas você conhece que já viveram em SETE países?

A seríssima expressão de Ricardo Botas no expediente da Revista Capital

Como ele veio parar aqui? A terceira mulher dele é moçambicana. Lá na França eu conheci aquela que viria a ser a segunda. Comigo já estava a Sandra. Depois de Paris, e daquela mulher, Botas já dirigiu rádio e TV para portugueses em Luxemburgo e Canadá, agência de publicidade em São Tomé. Largou o jornalismo por um tempo e foi dirigir uma fábrica de sabão no interior do Senegal! Voltou pro jornalismo ao aportar aqui, em Maputo, dois anos atrás. Dirige a revista Capital, de economia. Já escrevi artigo lá pra ele; qualquer hora publico aqui também.

Mas Botas não foi o único portugua que conheci em Paris. Outro que andava comigo dum lado pro outro era Paulo Cintrão, da rádio TSF. Portugal tava fora daquela copa e a rádio dele não tinha pago direitos – o que faz da vida de qualquer um O inferno num evento desses. Dei ao Paulo todo suporte que era possível: gravações de jogadores do Brasil, acesso ao centro de imprensa, até café, quando dava. Não queria nada em troca – mas ganhei a amizade dele.

E amizade sempre compensa. Fomos nos reencontrar em 2002 na Coréia, agora com Portugal em campo. Ele me levou como convidado para o jogo Portugal e Coréia do Sul, que desclassificou os patrícios. Fui no ônibus (autocarro, pá!) dos jornalistas portugueses. Uma festa tremenda, eles estavam certos da classificação.  Perderam por 1 a 0. O locutor da TSF, Fernando Correa, quase morreu no fim do jogo. “Portugal prrrdeu! está tudo acabado! Tudo a-ca-baaaa-do!” Acompanhei isso tudo da cabine, enxugando as lágrimas deles.

Naquele centro de imprensa enorme, ninguém podia fumar – claro. Mas ele e o nosso técnico João Bicev não se continham. Um virava pro outro e dizia: “vamos lá na Coréia do Norte?” Era a senha pra ir fumar lá na escada de incêndio, saindo escondido. Como se fosse cruzar a zona desmilitarizada pra entrar na Coréia do Norte…

Não dá pra esquecer do Paulo Cintrão. E pelo que acabei de descobrir, ele também não esqueceu do tio aqui. Ele conta algumas histórias nossas no blog que escreve. Dê uma olhada clicando aqui. Como eles dizem em Portugal, “valapena, pá”…