Costa do Marfim: depois das eleições, toque de recolher

Diga aí, de cabeça, qual é a capital da Costa do Marfim…
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26/11/2010
Costa do Marfim terá toque de recolher depois do segundo turno das eleiçõe
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Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – O governo da Costa do Marfim vai decretar toque de recolher no domingo (28) à noite, depois do segundo turno das eleições presidenciais. A polícia vai patrulhar as ruas a partir das 22h, quando começa a contagem dos votos.

Depois de dez anos sem eleições, 14 candidatos concorreram no primeiro turno, em 31 de outubro. O atual presidente Laurent Gbagbo e o ex-primeiro ministro Alassane Dramane Ouattara foram os mais votados e voltam a se enfrentar nas urnas neste domingo.

Para observadores da União Europeia, o primeiro turno foi “relativamente pacífico.” Líderes religiosos, representantes das Nações Unidas e de governos estrangeiros têm expressado, no entanto, preocupação com a reação dos perdedores. Ontem (25), os dois candidatos pediram calma aos eleitores em debate na televisão, o primeiro da história do país.

“As eleições devem ser pacíficas”, afirmou Ouattara. “Quero vencer porque creio ter algo a oferecer ao meu país. Mas, se perder, não é um problema. Bastam os 11 anos de turbulência. É hora de acabar com isso”, disse o atual presidente.

A campanha ganhou tons mais pesados no segundo turno, mas, no debate, os candidatos mantiveram a calma. Economista, Ouattara prometeu trazer investidores de volta à Costa do Marfim. Gbagbo reforçou que, para promover as mudanças necessárias, o país precisa de um líder com capacidade comprovada.

Nas ruas, apoiadores dos dois lados entraram em choque. Pelo menos uma pessoa morreu, esfaqueada, na localidade de Bayota. Na semana passada, também houve confronto. As Nações Unidas decidiram enviar mais 500 soldados e dois helicópteros militares ao país, deslocados da Libéria, para ajudar na manutenção da ordem.

As eleições presidenciais na Costa do Marfim foram adiadas seis vezes desde 2005, quando terminaria o mandato de Laurent Gbagbo. Uma guerra civil estourou em 2002, quando rebeldes no Norte tentaram derrubar o atual presidente. O golpe foi controlado apenas na parte Sul. Graças à instabilidade, o país vive um embargo para a compra de armas desde 2004.

Independente da França há 50 anos, a Costa do Marfim é o maior produtor de cacau do mundo. O país virou polo de atração para muitos estrangeiros no período do chamado “milagre econômico”, nas décadas de 70 e 80, quando a economia crescia a uma média anual de 7%.

Com a guerra civil, os investidores foram embora, deixando mais de 4 milhões de desempregados no país, de 21 milhões de habitantes. Quase 70% dependem da agricultura para sobreviver. Desde 2006, o peso da produção de petróleo e gás supera os ganhos com o cacau.

A Costa do Marfim exporta energia para vizinhos como Gana, o Togo, Benin, Mali e Burkina Faso. O crescimento econômico foi de cerca de 2% em 2008 e de 4% no ano passado. Mas os ganhos per capita caíram 15% desde 1999.

Edição: Graça Adjuto

Guiné, finalmente, elege seu presidente

É a primeira vez que o país escolhe seu líder.
Reportagem da Agência Brasil

16/11/2010
Guiné: comissão confirma vitória do candidato da oposição nas eleições presidenciais

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – A Comissão Eleitoral da República da Guiné confirmou a vitória do candidato oposicionista Alpha Conde no segundo turno das eleições presidenciais. De acordo com a BBC, ele obteve 1,47 milhão de votos, contra 1,3 milhão do ex-primeiro ministro Cellou Diallo. A votação ocorreu no dia 7 deste mês.

A Suprema Corte do país precisa ratificar os resultados para que eles sejam considerados válidos e oficializados. No domingo (14), Diallo, que venceu o primeiro turno, realizado em junho, declarou que suspeitava de fraude na apuração. Mas ele próprio pediu a seus correligionários que mantivessem a calma.

Porém, antes da confirmação dos resultados, apoiadores de Diallo entraram em confronto com a polícia, fechando ruas e ateando fogo em pneus na capital Conacri. Pelo menos uma pessoa morreu, segundo o relato da Rádio França Internacional.

A Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano conclamou os dois lados a terem cautela e utilizarem os caminhos legais caso tivessem dúvidas com relação ao segundo turno, que chegou a ser adiado por causa da violência entre os apoiadores dos concorrentes.

Antes da segunda votação, os dois candidatos anunciaram que, se eleitos, incluiriam integrantes da etnia adversária na composição do governo. Diallo é peul; o eleito Conde é malinke. Os dois grupos são os maiores do país.

A Guiné – também chamada de Guiné Conacri, nome de sua capital – é um país da África Ocidental com 10 milhões de habitantes, vizinho à Guiné-Bissau (esta última integrante da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a CPLP). Tem um terço das reservas de bauxita do planeta, além grandes depósitos de diamante, ouro, urânio e minério de ferro. Mesmo assim, mais da metade da sua população vivem em estado de pobreza extrema, com menos de um dólar por dia.

Desde a independência da França, em 1958, a Guiné é controlada por militares. Como várias nações africanas, viveu uma experiência socialista logo que se tornou independente, quando foi comandado por 26 anos por Ahmed Sekou Touré.

No ano 2000, o país passou a receber milhares de refugiados das vizinhas Libéria e Serra Leoa, o que agravou ainda mais a pobreza da população. A instabilidade nas fronteiras levou a uma forte tensão racial e étnica.

Em dezembro de 2008, um junta militar tomou o poder horas depois da morte do presidente Lansana Conte, que estava no comando havia 24 anos. Há aproximadamente um ano, cerca de 150 pessoas foram mortas na repressão a uma manifestação política não autorizada contra o grupo que estava no poder. Em janeiro, o general Sekouba Konate passou a governar o país, prometendo entregá-lo ao vencedor das eleições.

Edição: Juliana Andrade