Miranda, Jesus e a Fogueteira

braxChi

Publicado sexta, 09 de outubro (05:59)

(Nota: estou republicando aqui no meu blog ElefanteNews minhas primeira colunas no Fato On Line. Cheque a data antes de discutir velhas novidades…)

Escrevo antes de começar Chile e Brasil, primeiro jogo das Eliminatórias da Copa de 2018. Almocei há pouco num simpático quilo aqui no Flamengo. A TV estava ligada e apareceu Miranda (que, talvez, você não associe o nome à pessoa, é…), o capitão da seleção brasileira. Ele diz, de bracinhos cruzados em frente ao microfone fininho: “Se empatarmos, já vai ser um bom resultado”. Do meu lado, um senhor de camisa branca meneia a cabeça e vira o rosto na minha direção, sem dizer nada. Só me olha com aquela cara de “a que ponto chegamos”.

De fato. Lembro do tempo (e não estou falando de quando Dondom jogava no Andaraí, de meia na cabeça, chutando bola de capotão) em que ganhar do Chile era mais que premissa, era uma obviedade. Até acontecia de perder ou empatar, mas, “quando acontecia, era um acontecimento”.

Rosinery Mello morreu aos 45 anos, vítima de aneurisma Ronald Theobald/Estadão Conteúdo

Em 1989, foi mais que um acontecimento – foi uma série deles, e , mesmo assim, o Chile não ganhou. Eles tinham um técnico falastrão, chamado Orlando Aravena, que convenceu o país de que, daquela vez, dava pra não apenas se classificar, mas sim ganhar a Copa do Mundo. No mesmo grupo, estavam Brasil e Venezuela; na Venezuela, coitada, todo mundo batia. Restava tirar o Brasil em dois jogos, um lá, outro cá.

O primeiro foi lá, no mesmo Estádio Nacional da final de 1962 e do jogo de agora, 2015. Já antes de o jogo começar, Aravena falou qualquer coisa no ouvido do Romário, que revidou com empurrões. Contagiado pelo clima – ou por alguma outra coisa contagiante –, o preclaro Jesus Dias Palácios, árbitro colombiano (até bom), deu amarelo pra ele antes de a bola rolar. Com dois minutos de jogo, Ormeño, um dos que Romário havia empurrado, deu uma voadora em Branco. Romário foi tirar satisfações. O juiz tirou o vermelho do bolso. Me lembro bem de ter feito uma cara parecida com a que o senhor fez hoje pra mim, no restaurante. Jesus não estava nada brasileiro naquele dia. Muito pelo contrário.

Ainda no primeiro tempo, ele marcou um sobrepasso de Taffarel. Acho que foi a última vez que vi juiz marcar sobrepasso. Um chileno pegou a bola das mãos do goleiro e tocou rapidinho, dentro da pequena área. Tudo errado, porque a infração (mesmo que inventada, como foi) deveria ter sido batida na linha da pequena área. Gol do Chile. Parêntesis: graças a esse lance é que você aguenta Arnaldo César Coelho comentando arbitragem até hoje. No dia seguinte ao jogo, o então diretor da Globo, Armando Nogueira, ligou pra ele, perguntando do lance. Satisfeito com a explicação, convidou Arnaldo pra almoçar e o chamou pra trabalhar na Globo. Dias depois, Arnaldo anunciou que estava parando de apitar pra ser comentarista. Fecha parêntesis. O Brasil ainda conseguiu empatar a partida.

Rojas e Rosi

A partida de volta foi no Maracanã, no famoso “jogo da fogueteira”. Os mais novos não lembram, mas houve tempo em que se podia levar rojão pra dentro do estádio. Uma moça, chamada Rose, uma das 141 mil pessoas presentes naquele dia, acendeu um sinalizador marítimo, que caiu perto do goleiro Rojas (o mesmo que jogou no São Paulo). O Brasil ganhava por 1 a 0, gol de Careca, e o resultado tirava o Chile da disputa.

Rojas diria depois que o clima feito no Chile em torno da possível classificação ficou tão fora de controle que ele não teria coragem de voltar sem a vaga. Desesperado, enfiou uma lâmina na luva, esperando uma chance de simular uma contusão. Ao ver o foguete no gramado, caiu, tirou a lâmina discretamente e fez um corte na testa, como se tivesse sido atingido. O jogo parou, estabeleceu-se uma confusão, e o Chile saiu de campo carregando seu mártir. O jogo foi encerrado pelo argentino Juan Carlos Lousteau. O Chile saiu do estádio se dizendo classificado. Os brasileiros estava atônitos. E ninguém sabia o que iria acontecer.

Hoje em dia, fatalmente, algumas das trocentas câmeras em campo, ou mesmo um celular de torcedor, teriam mostrado o que ocorreu rapidamente. Mas os tempos – como disse lá em cima – eram outros. No dia seguinte, uma sequência de fotos do jornal O Globo deixava claro que o sinalizador havia caído a alguns metros de Rojas, sem feri-lo. O Brasil foi confirmado como vencedor. A seleção chilena, suspensa por quatro anos; Astengo, zagueiro, também. Rojas foi banido do futebol (anistiado anos depois, quando voltou a trabalhar no São Paulo como auxiliar), junto com o técnico Avarena, um médico da delegação e um dirigente chileno. A fogueteira, localizada, virou capa de Playboy, mas sumiu em seguida. Ela morreu em 2011, vítima de um aneurisma.

Nem com Jesus do lado deles e sinalizador chovendo em campo, o Chile nos punha medo. Hoje, como diz Miranda, se empatar, vai ser bom. Ponto. Parágrafo.

Dunga faz história

Agora escrevo depois da estreia do Brasil nas Eliminatórias. Depois da primeira vez em que o Brasil perdeu numa estreia de eliminatórias de Copa: 2 a 0 para o Chile. Tá: é o melhor Chile da história. Mas nós ajudamos.

O time de Dunga, aliás, parece que não saiu do Chile desde a Copa América. A mesma coisa modorrenta, sem criatividade, sem brilho. Transpirando no limite do necessário. É muito jogador mais ou menos numa seleção brasileira – todos vindos da Europa ou do time que levou de sete da Alemanha. Não entendo tanta insistência com essa turma. Também não entendo quem diz que são “bons jogadores”. Não são. São medianos.

Houve tempo em que mediano não cabia na seleção. Mais recentemente, o mediano tinha que se matar, suar sangue. Mas os tempos são outros. Na segunda etapa, entram dois do Santos – Ricardo Oliveira e Lucas Lima – e o time melhora. Pouco, mas sobe de produção. Não o suficiente. Nada garante que, se Neymar tivesse jogado, a coisa teria sido diferente.

A conversa agora é dizer que “o time comportou-se bem, mas está tudo muito equalizado”, uma versão mais moderna da velha frase, dita há uns 30 anos, que “não tem mais bobo no futebol”. Papo. Se eles melhoraram, os melhores deveriam ter melhorado também. Não, ficamos pra trás.

Que Miranda e seus colegas façam alguma coisa diferente já, agora, terça-feira (13), contra a Venezuela. Mas não tentem trazer Jesus pro nosso lado, nem comprar sinalizadores para espalhar na torcida. Muito menos simular contusão pra sair de campo coberto de glórias. Não funciona. Os tempos, definitivamente, são outros. A que ponto chegamos.

http://fatoonline.com.br/conteudo/10366/miranda-jesus-e-a-fogueteira?or=h-opi-colu&p=l&i=2&v=0

A grana, sempre ela.

Mal vi a seleção aqui. Como sempre aconteceu nas copas que cobri, sou eu de um lado e ela do outro.

Mas a gente tem amigos, né?

Um deles me contou que o time (a “rapaziada” ou “boleirada”, como diz o reportariado íntimo), no geral, ficou bem pau da vida com o Dunga e o Jorginho por causa da reclusão.

Mas não queriam “liberdade, liberdade”, comunicar-se diretamente com o distinto público ou fazer farra só. Até porque, neste grupo aí, o mais provável seria querer ir à igreja.

Eles queriam expor os patrocinadores pessoais.

Além dos básicos e manjados bonés e camisetas, queriam mostrar o tênis, os óculos de sol, o brinco, o colar, a roupa de ir pra… igreja.

Eles apareceram muito pouco, e só de uniforme.

Os milionários deixaram de ganhar mais milzinho cada. E eles ficam bravos quando isso acontece.

A seleção vai mudar. Mas quando será a nossa vez?

Sempre que o Brasil é desclassificado da Copa, a pauta é “enumerar os inúmeros erros” que foram cometidos na convocação, preparação, escalação, alimentação, e qualquer outro “ão” que caiba no processo. Em seguida, apontar o que deve ser feito para que esses erros não se repitam na próxima copa.

Mas quem diz que esses erros aconteceram mesmo? Será que não é possível que tudo tenha sido feito certo e – miraculosamente – algum outro time tenha sido melhor que o nosso?

“Ouvimos as fontes”, dizemos nós. Quais fontes, só pra lembrar? O processo é o mesmo que se usa pra analisar – imparcialmente, é óbvio – decisão de Banco Central ou Ministério da Fazenda: gente “de mercado”, ex-integrantes da instituição ou “comentaristas experientes”. Na enorme maioira das vezes, sempre os mesmos, que já sabemos que vão falar exatamente o que queremos escutar.

Mas daí não é a minha opinião, né? É o que o Mailson da Nóbrega acha.

Sem falar nessa esquizofrenia entre departamento comercial e conteúdo. Enquanto as chamadas são carregadas de emoção e apelos patrióticos, e os comerciais são de um ufanismo só, prafrentebrasilsalveaseleção, a moçada na beira do campo quer provar que é “jornalismo futebol clube”, imparcial, sem pachequismo. Só que sendo contra tudo – tudo – o que os caras fazem. Como se isso não fosse parcial também. Não fosse erro. Ou soberba de achar que do lado de lá só tem mané.

Lembro sempre dos famosos comentaristas que dizem que “o próprio nome da FIFA já diz que futebol é association”, pra indicar que tal time deveria jogar em conjunto. Um sujeito que diz isso deveria ser pendurado de cabeça pra baixo. “Fédération Internationale de Football Association” quer dizer Federação Internacional de Associações de Futebol. Nunca foi “Federação Internacional de Futebol Associado”.

Bom seria que, a cada quatro anos, a imprensa também passasse pelo mesmo escrutínio rigoroso que impõe à seleção. Daí, certamente, os imaturos e ou preguiçosos não viriam nas próximas. Quem previu o futuro e errou feio – ou ficou no muro de sempre – seria obrigado e estudar mais antes de abrir a boca. E quem se mostrou ultrapassado, preconceituoso ou anacrônico passaria a comentar só jogo de showbol. Se tanto.

Mas não. Nós não erramos nunca. Nem vamos a lém da conta. “Como? Campanha contra alguém? Imagine! Só reportamos fatos como eles são e fazemos críticas necessárias. Sempre construtivas, é claro”.

Quantos analistas te contaram como a seleção da Alemanha viria jogar na Copa? Qual o grande diferencial dela? Quantos apontaram a Alemanha como favoritíssima ao título? Claro que não vale aquele troço de “a Alemanha é sempre candidata em qualquer competição.”

Mas fomos várias vezes informados quantos jogos o Zéninguémkovic fez pela segunda divisão da Eslováquia, ou qual o nome da quarta ex-esposa – modelo, por sinal – do craque Bonítolson, que assinou um contrato milionário com aquela famosa grife de botinas Pedeboy.

Desnecessário dizer que tem gente no nosso meio que sabe o que fala, conhece tática, batalha por notícia e não por fofoca, não quer nem o lugar do técnico nem do supervisor da seleção. Claro que tem. Também tem quem apontou a Alemanha como favorito sim. Mas esses tem que ser a maioria. E ainda não são.

É claro que a seleção erra. Mas agora vai trocar técnico, cair comissão, modificar “filosofia”, como tanto gostamos de dizer.

E nós? Quando vamos mudar de tática?

África do Sul, Zimbábue, Tanzânia… tudo meu vizinho.

Zimbábue à esquerda. Tanzânia lá em cima. Aqui do lado.

A seleção brasileira enfrentará Zimbábue e Tanzânia antes da Copa na África do Sul, nos dias 2 e 7 de junho, informam as agências.

Tanzânia é meu vizinho de cima. Lá ficam o Monte Kilimanjaro e a ilha de Zanzibar. Mas até 15 dias atrás não tinha ligação por terra com Moçambique. É a nova Ponte da Amizade, pensada e desejada desde a década de 80, que só saiu agora. A capital é Dar as Salaan. Daqui tem vôo direto. De Joanesburgo também – lá tem vôo direto pra quase toda África.

Zimbábue
é vizinho de canto. Faz fronteira lá com a província de Tete, onde a Vale trabalha pra explorar carvão. A capital é Harare. Tem vôo direto daqui – também dá pra ir de carro – e de Jo’ burg também. O país tinha a maior inflação do mundo até dolarizar a economia, em 2008. A taxa, em abril deste ano, estava em 5%, contra 3% em março. Moleza pra quem viva com 3.000%.

Seleção e ElefanteNews também são curtura, meu!