Os albinos e a África

Publicada pela Agência Brasil.

13/12/2010
Albinos africanos lutam contra o tráfico de órgãos, o preconceito e as crenças tribais

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – No interior da África, ainda é forte a crença de que portadores de albinismo são presságio de muita sorte ou grande azar. Na Tanzânia, desde 2007, pelo menos 59 pessoas foram assassinadas por traficantes de órgãos, usados em rituais de magia. “As crenças existem. De que o albino não morre, desaparece. E de que o sangue ou o cabelo do albino pode ajudar a acumular riquezas”, disse Ana Gabriela Eugênio, presidenta da primeira associação moçambicana a lidar com o tema.

Entretanto, em pouco mais de um ano de existência, a Associação Diferentes Somos Iguais não registrou nenhum caso de assassinato de crianças motivado pelo tráfico de órgãos. Em Moçambique, o problema maior, disse ela, é o preconceito. “Nós temos alguns membros que foram abandonados pelos pais porque a mãe preferiu conservar o lar. Existe a crença forte de que um albino na família é sinal de azar”.

Na província de Cabo Delgado, na fronteira com a Tanzânia, uma criança albina chegou a ser vendida pelos pais para um estrangeiro no ano passado, segundo ela. “Muitos são deixados em casa. Não estudam nem trabalham por causa da vergonha da família.” Boa parte dos albinos tem a saúde precária, porque não recebem os cuidados necessários, como proteger a pele e os olhos da exposição ao sol.

Professora de uma escola secundária, casada com um não albino e mãe de uma menina sem problemas de pigmentação na pele, Ana Gabriela se considera privilegiada. “Nasci e cresci aqui em Maputo e tive uma vida absolutamente normal. Quer dizer, normal para quem tem albinismo”. Segundo ela, uma vida normal inclui usar roupas fechadas mesmo no verão escaldante, passar protetor solar o tempo todo e proteger os olhos da radiação solar.

“Eu tinha mais condições de comprar protetor, além de ter a informação de que a exposição ao sol pode causar um cancro [câncer] de pele mais facilmente”. Vendo as dificuldades dos demais, ela diz que “tentou auxiliar de alguma forma” ao criar a associação.“Era um apoio que eu sentia que precisava existir.”

Apoio que, espera, cresça ainda mais depois da primeira audiência que teve com o presidente da República. Armando Guebuza recebeu Ana Gabriela no fim de setembro. Ela pediu ao presidente auxílio para motivar os jovens albinos a voltar para a escola, bem como para a compra de medicamentos e protetores solares, “vendidos aqui [em Moçambique] a preços exorbitantes”, já que todos são importados.

Nesse período, já há o que comemorar. Graças a um entendimento da associação com o Ministério da Saúde de Moçambique, o tempo de espera por uma consulta com um especialista caiu de três meses para, no máximo, uma semana, de acordo com a líder da associação, especialmente em Maputo. Mas a tarefa à frente ainda é grande, pois Moçambique ainda não tem sequer um levantamento sobre a incidência do albinismo na população. Na vizinha Tanzânia, a conta foi feita e apontou que o país tem 170 mil albinos.

Edição: Vinicius Doria

Não só o Brasil foi às urnas no domingo

Houve eleição aqui na África, em dois países. Saiba mais sobre elas aí embaixo, em duas reportagens publicadas na Agência Brasil.

03/11/2010
Tanzânia elege primeiro albino para cargo político

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Pela primeira vez, um homem albino foi eleito para um cargo político na Tanzânia. Salum Khalfani Bar’wani tornou-se deputado e vai representar Lindi Urban, região no Sudeste da Tanzânia, na Assembleia Nacional do país por um partido de oposição.

Pessoas que sofrem de albinismo são alvos frequentes de perseguição e ataques, por causa da crença local de que o uso de partes de seus corpos em rituais de magia pode trazer boa sorte.

O governo faz campanhas de esclarecimento e contra a discriminação, mas os assassinatos ainda são relativamente frequentes no país e no vizinho Burundi. Em agosto, um tribunal tanzaniano sentenciou um queniano a 17 anos de prisão por tentar vender uma pessoa albina a curandeiros.

Em entrevista à BBC, o recém-eleito disse que “sua alegria não tem fim” porque o povo de Lindi reconheceu que os albinos são capazes. Mas ele também creditou a vitória ao descontentamento popular com o atual governo, do Partido da Revolução (CCM – Chama Cha Mapinduzi, na língua local, suahili). Salum Khalfani Bar’wani é da Frente Cívica Unida (CUF).

A Tanzânia promoveu eleições gerais no domingo (31). O atual presidente, Jakaya Kikwete, é apontado como favorito na disputa com mais seis candidatos. No total, 19 milhões de eleitores estavam aptos a votar. O mandato presidencial na Tanzânia é de cinco anos.

De acordo com os observadores da União Europeia, a eleição foi “pacífica e ordeira no geral”. Mas, ainda segundo os especialista europeus, “pontos-chaves do processo careciam de transparência”.

A demora na divulgação de resultados oficiais causou confrontos. Oposicionistas acusam a polícia de dispersar manifestações com bombas de gás em Dar Er Salam, capital do país, e também nas cidades de Arusha e Mwanza. Mesmo durante a eleição, jatos de água foram usados contra eleitores nas proximidades de um local da votação.

Nesta quarta-feira (3), líderes da oposição solicitaram à Comissão Eleitoral que pare a contagem, denunciando fraude. A apuração está demorando mais que o esperado pelos analistas locais.

A Tanzânia é a segunda maior economia do Leste africano, atrás apenas do Quênia. Tem aproximadamente 40 milhões de habitantes. Tornou-se independente do Reino Unido na década de 60, mas ganhou os contornos atuais em 1964, com a união dos estados de Tanganyika e Zanzibar.

Viveu sua primeira eleição somente 31 anos depois, ao sair do regime de partido único. Suas votações anteriores já tiveram os resultados contestados, inclusive por observadores internacionais.

O país está no grupo dos 10 mais pobres do mundo no critério de renda per capita. Uma recente reforma no setor bancário deu fôlego à economia, que cresceu estimados 6% em 2009, mesmo em meio à crise mundial.

Edição: Talita Cavalcante

01/11/2010
Pesquisas indicam possibilidade de segundo turno na Costa do Marfim

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo – Depois de dez anos, os habitantes da Costa do Marfim votaram nesse domingo (31) para escolher seu presidente. Quatorze candidatos concorreram, e as pesquisas indicam a possibilidade de haver segundo turno. Laurent Gbagbo, atual ocupante do cargo, está à frente nas sondagens. Caso seja preciso, a segunda votação foi marcada para 28 de novembro.

Como opositores mais prováveis surgem o ex-presidente Henri Konan Bédié, derrubado por um golpe de Estado em 1999, e o ex-primeiro ministro Alassane Dramane Ouattara.

O processo foi adiado seis vezes desde 2005, quando terminaria o mandato do atual presidente. Rebeliões no Norte do país e dificuldades para recadastrar os eleitores foram alguns dos motivos apresentados. Uma guerra civil estourou em 2002, quando rebeldes no Norte tentaram derrubar o atual presidente. O golpe foi controlado apenas na parte Sul. Por conta da instabilidade, o país vive um embargo para compra de armas de fogo desde 2004.

Entidades de direitos humanos, como o Human Rights Watch, denunciaram a ocorrência de assaltos, estupros e pancadaria em cidades e estradas de Moyen Cavally e Dix-Huit Montagnes nas últimas semanas. As organizações humanitárias definem a área como o “Oeste Bravio”.

As Nações Unidas enviaram mais de 8.500 soldados para acompanhar o processo eleitoral. De acordo com o representante do secretário-geral YJ Choi, o processo foi tranquilo e 5,7 milhões de marfinenses estavam aptos a votar.

Cinco locais de votação, entretanto, precisaram ser fechados depois de atos de violência em Paris, capital francesa, onde vivem mais de um terço dos emigrantes marfinenses.

Os primeiros resultados da eleição devem ser anunciados ao longo da semana.

Independente da França há 50 anos, a Costa do Marfim é o maior produtor de cacau do mundo, o que fez a nação muito próspera. Foi um polo de atração de muitos estrangeiros no período do chamado “milagre econômico” local, vivido nas décadas de 70 e 80, quando a economia crescia a uma média anual de 7%.

Com a instabilidade, os investidores foram embora, deixando mais de 4 milhões de desempregados no país, que tem 21 milhões de habitantes. Quase 70% dependem da agricultura para sobreviver. Desde 2006, o peso da produção de petróleo e gás supera os ganhos com o cacau. O país exporta energia para vizinhos como Gana, Togo, Benin, Mali e Burkina Faso. O crescimento econômico foi de cerca de 2% em 2008 e 4% no ano passado. Mas os ganhos per capita caíram 15% desde 1999.

Edição: Graça Adjuto

África do Sul, Zimbábue, Tanzânia… tudo meu vizinho.

Zimbábue à esquerda. Tanzânia lá em cima. Aqui do lado.

A seleção brasileira enfrentará Zimbábue e Tanzânia antes da Copa na África do Sul, nos dias 2 e 7 de junho, informam as agências.

Tanzânia é meu vizinho de cima. Lá ficam o Monte Kilimanjaro e a ilha de Zanzibar. Mas até 15 dias atrás não tinha ligação por terra com Moçambique. É a nova Ponte da Amizade, pensada e desejada desde a década de 80, que só saiu agora. A capital é Dar as Salaan. Daqui tem vôo direto. De Joanesburgo também – lá tem vôo direto pra quase toda África.

Zimbábue
é vizinho de canto. Faz fronteira lá com a província de Tete, onde a Vale trabalha pra explorar carvão. A capital é Harare. Tem vôo direto daqui – também dá pra ir de carro – e de Jo’ burg também. O país tinha a maior inflação do mundo até dolarizar a economia, em 2008. A taxa, em abril deste ano, estava em 5%, contra 3% em março. Moleza pra quem viva com 3.000%.

Seleção e ElefanteNews também são curtura, meu!