Eu e os portugueses. Os portugueses e eu. Nós e a Copa

Eu com o microfone da TSF. Paulo Cintrão com o da Rádio Bandeirantes. Ao lado, nas carrapetas de Seul, João Bicev. Copa de 2002.

Minha primeira copa foi 1998, na França. Fiz um relato aqui, até, sobre como os portugueses estiveram ligados a essa experiência, via Radio Alfa de Paris (e eu não sabia direito quem era Carlos do Carmo. Leia aqui). Quem tomava conta lá era o Ricardo Botas. Além de diretor da estação, ele apresentava o programa “Xuta Brasil” (com ‘x’ mesmo) comigo.

Fizemos boa amizade. Ele era um tipo divertido, simpatizou comigo, e eu com ele. Vendo Ricardo trabalhar aprendi bastante sobre como não basta falar bom português pra se comunicar bem com todo mundo. Vale, claro, pro sotaque lusitano. Mas vale dentro do Brasil também, devido à vastidão do nosso país.

Segredo: durante a Copa, a convite do Ricardo, dava umas escapadas (seguindo minha escala na Bandeirnates, claro) pra comentar os jogos que eram transmitidos pela TV5 – a estatal francesa – para os países lusófonos da África. Jamais imaginava que um dia, iria morar aqui.

Uns anos depois, perdemos contato. Fiquei sabendo que ele mudara pra São Tomé e Príncipe, mas não o achei mais.

Pois chego aqui a Maputo e bato os olhos numa revista de economia. Li um pouco, gostei, fui ver quem dirigia. Tá lá: Ricardo Botas. “Não é possível…” Mas era. Liguei lá e confirmei ser ele mesmo. Isso foi logo na primeira semana aqui. De lá pra cá, almoçamos duas vezes por semana, quando ele me ensina muito de Moçambique, da África, do mundo. Afinal, quantas pessoas você conhece que já viveram em SETE países?

A seríssima expressão de Ricardo Botas no expediente da Revista Capital

Como ele veio parar aqui? A terceira mulher dele é moçambicana. Lá na França eu conheci aquela que viria a ser a segunda. Comigo já estava a Sandra. Depois de Paris, e daquela mulher, Botas já dirigiu rádio e TV para portugueses em Luxemburgo e Canadá, agência de publicidade em São Tomé. Largou o jornalismo por um tempo e foi dirigir uma fábrica de sabão no interior do Senegal! Voltou pro jornalismo ao aportar aqui, em Maputo, dois anos atrás. Dirige a revista Capital, de economia. Já escrevi artigo lá pra ele; qualquer hora publico aqui também.

Mas Botas não foi o único portugua que conheci em Paris. Outro que andava comigo dum lado pro outro era Paulo Cintrão, da rádio TSF. Portugal tava fora daquela copa e a rádio dele não tinha pago direitos – o que faz da vida de qualquer um O inferno num evento desses. Dei ao Paulo todo suporte que era possível: gravações de jogadores do Brasil, acesso ao centro de imprensa, até café, quando dava. Não queria nada em troca – mas ganhei a amizade dele.

E amizade sempre compensa. Fomos nos reencontrar em 2002 na Coréia, agora com Portugal em campo. Ele me levou como convidado para o jogo Portugal e Coréia do Sul, que desclassificou os patrícios. Fui no ônibus (autocarro, pá!) dos jornalistas portugueses. Uma festa tremenda, eles estavam certos da classificação.  Perderam por 1 a 0. O locutor da TSF, Fernando Correa, quase morreu no fim do jogo. “Portugal prrrdeu! está tudo acabado! Tudo a-ca-baaaa-do!” Acompanhei isso tudo da cabine, enxugando as lágrimas deles.

Naquele centro de imprensa enorme, ninguém podia fumar – claro. Mas ele e o nosso técnico João Bicev não se continham. Um virava pro outro e dizia: “vamos lá na Coréia do Norte?” Era a senha pra ir fumar lá na escada de incêndio, saindo escondido. Como se fosse cruzar a zona desmilitarizada pra entrar na Coréia do Norte…

Não dá pra esquecer do Paulo Cintrão. E pelo que acabei de descobrir, ele também não esqueceu do tio aqui. Ele conta algumas histórias nossas no blog que escreve. Dê uma olhada clicando aqui. Como eles dizem em Portugal, “valapena, pá”…