O Importante – sempre tão importante

microfone de rádio” – E aí, Fulano: vitória importante…
– Sem dúvida. Foram três pontos importantes, com um gol no momento importante, com a participação importante de todo o grupo, numa competição importante.
– Fale da importância dessa sequência de bons resultados do Clube do Mé Futebol Clube…
– Importantíssimo. Mas só chegamos a isso graças à participação importante do torcedor, apoiando nos momentos importantes, lotando o estádios em rodadas importantes, nos colocando nessa posição importante na tabela do campeonato.
– E quarta-feira tem um jogo importante…
– Por isso é importante a gente descansar bem amanhã, importantíssimo treinar bem na terça, porque é importante chegarmos bem preparados na próxima rodada.
– Tá aí o Lucas Fulano, jogador importantíssimo em mais uma vitória importante do Clube do Mé”.

É assim: em rádio e TV, nada mais – rá! – importante que o tempo. Então, só fale o que for… importante. Se não tiver importância, não diga.
Se você está dizendo aquilo, é importante – porque você não fala bobagem, não perde tempo com besteira, não enche linguiça.

Não precisa contar por ouvinte/telespectador que aquilo é importante. Se precisa explicar que tal coisa é importante, deve ser porque ela não importa pra ninguém nem pra nada.

Ou você troca a palavra por outra, que realmente informe alguma coisa, ou – melhor ainda – não qualifique, não adjetive. Só conte a importantíssima coisa que o David Fulano fez pelo Clube do Mé Futebol Clube.

Falar de improviso é uma coisa importante, meu caro.
Mas é importante treinar muito antes, no chuveiro, segurando o xampu igual microfone.
Importantíssimo.

60 anos de TV no Brasil

Pra lembrar, um dos maiores nomes dela em todo esse tempo, que passou nela a maior parte desse tempo.

Blota Junior foi a primeira pessoa a aparecer na mais antiga emissora em atividade no Brasil, a Record. Em 27 de setembro de 1953, a TV entrou no ar com ele descendo uma escada e anunciando “boa noite. Está no ar a TV Record, canal 7 de São Paulo”.

Teve que aprender a fazer TV fazendo, e, ao longo da vida, ensinou muita gente a fazer também. Orgulhosamente, fui um deles.

Convivemos na Bandeirantes e na casa dele – era avô da minha madrinha de casamento, Sonia, repórter da Band.

Me ajudou até a escolher o nome. Aliás, se não fosse “Eduardo Castro” seria “Edu Castro Macedo”. Segundo ele, os dois funcionariam no ar.

Ele morreu um pouquinho depois do meu casamento, no final de 1999. Numa deferência que não me esqueço, a família ligou pra me avisar durante uma edição do Jornal da Bandeirantes Gente. Dei a informação com um aperto no peito.

Aqui embaixo, Blota Junior fazendo o que mais sabia: TV, e de improviso. Apresentando o prêmio Roquete Pinto de 1970. Ele inventou o prêmio, e ganhou tantos que virou hors concours. Ao seu lado – como sempre – a esposa Sonia Ribeiro.

Um desses tantos troféus em formato de papagaio, o de “melhor apresentador de 1962”, está conosco. Presente da Sonia (a neta). Uma inspiração e tanto.

Senhoras e senhores: com vocês, Blota Junior e Sonia Ribeiro….

Em tempo: 18 de setembro é aniversário da TV no Brasil porque marca a primeira transmissão oficial do veículo e a inauguração da primeira estação, a TV Tupi de São Paulo. Ela foi fechada em 1980, depois de ter a concessão cassada pela ditadura militar.

Greve em Maputo: coleguinhas ilhados

Minha solidariedade com os coleguinhas aqui de Maputo que se preparam para passar a segunda noite seguida na redação.

Muitos vão de “chapa” – as vans – e não conseguiram voltar para casa nem ontem nem hoje. Afinal, elas não estão circulando.

Quem tem carro tem receio de passar pelo piquetes, pois vários foram queimados. E os bloqueios surgem muito rápido.

Sem contar que os postos de combustíveis estão fechados há 2 dias – não se pode reabastecer.

Hotéis? Todos lotados por causa da FACIM. Comida? Os restaurantes, bares e supermercados estão fechados porque os funcionários e as mercadorias não conseguem chegar.

Todas as TVs modificaram a programação para abrir espaço para os distúrbios sociais. Neste instante tem um debate ao vivo na TVM. A turma está trabalhando muito, preocupada com a família que ficou em casa.

Nosso carro tem uma imensa marca “TV Brasil”, imantada, em cada porta. Ajudou a nos proteger e, literalmente, quebrou os bloqueios durante os protestos.

Conosco está tudo bem.

Vamos ver como a cidade passa a noite. Vai acalmando de hora a hora. Pelo menos é o que parece.

Big Brother África

Saudades do bigui bródi?

Seus problemas acabaram! – como dizia aquele programa que foi engraçado na década de 80.

O Big Brother África está em andamento. Aliás, é só procurar, que sempre tem um em andamento.

Tem Uhu! Ae! e todas as demais interjeições conhecidas. Também tem mocinhas e garotões desinibidos demonstrando sapiência e erudição a cada comentário.

E, como se vê abaixo, também tem visitas inesperadas de estrelas conhecídissimas.

Mas nem tudo é igual.

Não tem Bial. Tem I.K. Osakioduwa. Se ele faz poesia ou dá lição de moral ainda não sei…

E a versão africana lembra concurso de miss – ou Fórmula Um, quando era sério: cada concorrente representa um país. Começaram 14: Moçambique, Namíbia, Etiópia, Zimbábue, Uganda, Botswana, Malawi, Tanzânia, Gana, Zâmbia, Quênia, África do Sul, Angola, Nigéria. Já se passaram 40 dias e alguma eliminações. Fala-se inglês – of course, my horse.

Com gente de vários lugares, economiza-se na produção, vende-se pra vários lugares que não têm mercado publicitário que suporte tamanha maravilha, e espalha-se a praga por todo o mundo mesmo.

Como no Brasil, o jornal do grupo de comunicação que tem a TV que passa o programa faz matéria sobre ele. Abaixo, trecho da reportagem dO País de hoje.

“O “reality show” mais visto no continente africano está cada vez mais renhido, mais competitivo e emocionante. No dia 22 de Agosto, a Etiópia foi o país escolhido pelos africanos para abandonar a casa do Biggie, através do seu concorrente Yacob, juntando-se aos seus colegas Hannington, Tatiana e à sua amiga especial Lerato, no Celeiro do Big Brother (casa alternativa). Sem sombra de dúvidas, a última semana dos concorrentes foi marcada por conflitos entre Jacob e Maryl (Namíbia), enquanto a moçambicana Jennifer e a queniana Sheila tiveram um pequeno desentendimento.”

Quer saber mais? Continua espiando, aqui no ElefanteNews…
Tá bom, vai: clique aqui que cai no site deles.

Bélia e o lábaro

Bélia é a produtora (já falei dela aqui. Clique pra ver, que vale.)

Durante os Jogos da CPLP, ela foi comigo ao Parque dos Continuadores, onde aconteciam as finais do atletismo. Estávamos na grama, no meio da pista, assistindo à entrega de medalhas, quando ela manda:

“Sr. Eduardo, o que é lábaro?”

“Ah?”

“Lábaro. Lábaro que ostentas estrelado…”.

Descobri que a Bélia, e milhares de jovens moçambicanas e moçambicanos, também não sabem o que é lábaro (como muitos brasileiros também não sabem), mas conhecem a letra do hino nacional brasileiro (o que muitos brasileiros também não conhecem).

Há algum tempo, o programa Hoje em Dia, do meu amigo Celso Zucatelli, fez uma promoção dando prêmio em dinheiro para quem cantasse o hino inteiro e corretamente. Como a TV Record retransmite o programa na sua TV Record Moçambique (sim, tem uma TV Record Moçambique – canal 5, VHF, aberto) e na também sua TV Record Internacional, milhares de moçambicanos, e – suponho – cabo-verdianos, tomeenses e gente de onde lá mais chegue o sinal delas – acabaram sabendo a) um pouco ao menos do hino brasileiro; e b) que os brasileiros não conhecem o próprio hino a ponto de saber cantá-lo valer prêmio.

Mas, afinal… o que é lábaro mesmo?

É bandeira, como você já sabia, né?. Mas bem que clicou aí no link só pra ter certeza…

Como é duro ser global

Global aqui é global mesmo. Planetário. Até porque o fato se deu na Record.

A reportagem é sobre a falta de educação no ambiente social. A repórter está numa escada rolante, mostrando que o filho de boa família abre espaço para quem tem pressa. Para fazer isso, o bem educado pára do lado direito, deixando a esquerda livre para quem precisa sair correndo…

Errado, fofa.

Isso vale para os países que usam a mesma mão de direção que o Brasil. Mas quem tem a chamada mão inglesa (ingleses, escoceses, japoneses, indianos, e um imenso número de africanos) parar do lado esquerdo é uma tremenda falta de touché – ui!

Como a amiga repórter fala num canal que é simultaneamente transmitido para o resto do mundo pela Record Internacional, deveria lembrar disso na hora de escrever o texto.

Mas nem culpo a repórter. A turma sequer leva em conta que o Brasil é grande na hora de fazer matéria, quanto mais que sua carinha está rodando o planeta. Pautas são elaboradas e produzidas por ou para paulistas, cariocas e mineiros – nesta ordem. Do resto o local cuida.

Lutei muito contra isso na redação da TV Brasil. Mas, se bobeasse, a moçada esquecia de, ao dizer um horário, completar informando tratar-se da hora de Brasília; usava gírias cariocas ou paulistas – mas pedia pra mudar o texto quando surgia uma expressão diferente nos textos aque vinham de Manaus ou Recife.

O motivo é comercial. É ali que está a bufunfa e só ali funciona o IBOPE minuto-a-minuto. Logo, é para eles que falamos. Também tem um pouco de desconhecimento. E até uma pitadinha de bairrismo.

Aprendi muito sobre esse troço com meu amigo Pedro Bassan. Na minha primeira copa, em 98, a Rádio Bandeirantes fez um acordo com uma rádio de Paris que só falava portugues (já falei disso no blog – relembre aqui . Apresentávamos programas que eram transmitidos simultaneamente no Brasil, na França, Portugal e até na Austrália e Canadá, numa cadeia bem interessante. Fora a Bandeirantes, todas as demais falavam para público lusitano.

Pois um dia Bassan cruza comigo no centro de imprensa e diz, que eu tinha atrapalhado bem aquele dia dele. “Mas por que”, perguntei. “Porque voce falou que hoje era dia do rodízio pros carros com placas tal e tal.”

“É, lá em São Paulo”, disse eu.

“Pois na próxima diga bem alto – e repita 50 vezes – que é só pra São Paulo. Porque meu motorista portugues não queria sair da garagem de jeito nenhum”.

Claro que era sarro. Mas serviu de alerta.

Quer dizer, espero que tenha sido só sarro mesmo…

A salsicha vista por dentro

Aula inglesa de jornalismo televisivo.

É complicadíssimo fugir disso. Ainda mais no Brasil, onde uma emissora só praticamente dita as regras e quem faz – ou tenta fazer – algo diferente é olhado com desprezo ou com piedade, como se só lá se fizesse coisa boa.

A molecada chega na redação da faculdade querendo fazer exatamente o que se faz lá. E só o que se faz lá. Talvez porque queriam trabalhar lá. E, para trabalhar lá, precisam impressionar os chefes de lá. Não os daqui.

O telespectador também se acostumou tanto com o padrão que acha estranho qualquer coisa fora dele. Os próprios coleguinhas consideram as tentativas de sair fora do padrão globalmente aceito de “alternativo”.

“Globalmente aceito” aqui não é provocação, como você vai ver no vídeo do comediante Charlie Brooker. Ele tira um sarro enorme da nossa cara ao mostrar que é só ler como todo mundo lê, usar os truques que todo mundo usa pra ficar algo convincente na TV.

Graças a esse modelito, muita anta vira gênio, diga-se.

Eu juro que tento fugir disso. Mas sei que não consigo sempre. Ou… será que já consegui alguma vez?

Big Phil is here. Big time.

foto IG

E o nosso Felipão – aliás, muito mais nosso depois da Copa – comentou ontem o jogo do Brasil na TV pública daqui, a SABC. Ele fez sua análise no monumental estúdio que fica no mesmo Centro de Convenções em que está instalada a Casa Brasil.

Detalhes sobre a transmissão: os comentaristas, três, não falam com bola rolando. Só antes, no intervalo e no fim. E falam do estúdio, não do estádio. Assistem ao jogo num telão imensamente gigantesco colocado no fundo do cenário. O locutor narra o jogo sozinho, sozinho. E não grita, fala baixo. Mesmo quando sai gol. Se você não estiver prestando atenção, acha que foi lateral.

Pois bem. Estava fechando matéria, na correria, então não pude beber das sábias palavras de Big Phil o tempo todo. Mas alguns comentários eu captei, num inglês de matar Sheakespeare de inveja. Sem falar em Joel Santana e o Luxa, que manda bem é no ixpanhol…

Sobre o gol ligeiramente irregular de Luis Fabiano, take that: “Hand one time, fault. Hand two times, no more fault. New rule”. Rá! “Mão uma vez é falta. Duas não é mais. É uma regra nova.”

“E no gol da Costa do Marfim, Big Phil, Drogba tava ou não impedido?” “Not offside”. “When the player touches the ball, he is out ou the line.”, claramente demostrando que Didier não estava na mesma linha.

E Felipão segue esmirilhando no ingrêis ao dizer que sabia porquê o juiz não marcou a imperceptível irregularidade no segundo gol:

“Ah, I know now. The referee ie french, he remembered Henry. This is it.”

Period.

Ai lóve Big Fil. End Ai rolp to si rim bec rolm veri sum, mai frêin…

Eles nos amam. Mas negócios à parte.

Já disse mais de uma vez o quanto os moçambicanos gostam do Brasil. Mas eles também querem seu espaço – claro, aqui, principalmente.

Logo aí abaixo, um exemplo. Moçambique compra muito frango brasileiro – aqui, aliás, eles dizem mais “galinha”. Uma delas foi à TV mostrar suas qualidades e ressaltar, com um meneio de corpo, os defeitos da congênere que cruza o Atlântico.

Ó só:

Lucrécia Paco e o racismo


Lucrécia Paco é um símbolo de Moçambique. Atriz, interpreta em ronga, português, inglês, francês e alemão. Já esteve na Europa toda, África toda, América toda, representando personagens e todo um país.

Hoje foi a entrevistada do programa do Gabriel Junior, o “Moçambique em Concerto” (já falei deles aqui).

Durante a conversa, relatou pra Moçambique todo que sentiu racismo na pele uma única vez. E…oh!… foi no Brasil. Não disse onde exatamente, mas contou que foi numa casa de câmbio, enquanto participava de um festival de teatro no Instituto Itaú Cultural, que fica na Avenida Paulista, dando a entender que (oh! de novo) foi em São Paulo.

Segundo Lucrécia, uma senhora protegeu a bolsa ao vê-la na fila, e disse que ali “não era lugar pra ela estar”. Não houve queixa formal. Discreta (sempre, aliás), não quis escândalo.

Lucrécia, querida. Antes de tudo, as desculpas sinceras e envergonhadas dos brasileiros que não pensam assim e não são assim. Depois, seria bom que você tivesse feito queixa. Porque há brasileiro que acha, defende e bate o pé – até escreve livro – afirmando que no Brasil não há racismo. Gente mal informada que precisa conhecer a realidade que – oh! – não está nas novelas de maior audiência, mas nos shoppings centers de nossa maior e mais diversa cidade.

Novelas que, por sinal, são vistas – muito vistas – aqui também.

Aqui, link prum texto da revista Época que relata o caso.