Lula e a universidade aberta

Reportagem publicada na Agência Brasil

09/11/2010
Em Moçambique, Lula chama de “pequena revolução” avanços educacionais brasileiros dos últimos anos

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje (9) o papel do Estado na educação ao lembrar as iniciativas do setor ao longo de seus dois mandatos, que chamou de “pequena revolução”.

“Não permitam que se repita aqui o erro do Brasil da década de 90”, disse o presidente durante a aula inaugural de três polos da Universidade Aberta do Brasil na capital moçambicana. “Quem vai resolver o problema da educação é o Estado. Ele é razão da nossa existência e nós somos razão da existência dele.”

Lula ministrou a aula inaugural da primeira turma da Universidade Aberta do Brasil (UAB) no exterior. No total, 620 estudantes acompanharam a palestra no auditório da Universidade Pedagógica em Maputo e nos polos presenciais das cidades de Lichinga e Beira, ambos em Moçambique. A ideia é, em seis meses, integrar mais três cidades à rede, chegando a nove palos em 2012.

Quando explicou os motivos que levam o governo brasileiro a criar polos de estudo a distância em parceira com universidades de Moçambique, Lula voltou a falar da dívida “histórica” com o povo africano e da necessidade de ambas as nações sentirem-se capazes de sair da condição de pobres ou emergentes.

“É construir um futuro em que o Sul não deve ser dependente do Norte. Devermos ser tão importantes ou sabidos quanto eles”, disse Lula, ao afirmar que o Brasil é uma mistura de africanos, indígenas e brancos. “É uma vantagem comparativa, mas como tivemos a cabeça colonizada por séculos, aprendemos que somos seres inferiores. E que todo mundo que enrola a língua é melhor que nós”, afirmou.

Lula disse que é preciso ter a convicção de que só o estudo pode garantir às pessoas a igualdade de oportunidades, de emprego, salário. “Acho que todo mundo pode levantar a cabeça e tornar o mundo mais igual. E isso se dará pela educação”, afirmou.

Segundo ele, o lançamento do projeto da Universidade Aberta do Brasil na África foi a realização de um “sonho de anos”, lamentando que, “nas relações internacionais, as coisas demoram mais do que a gente gostaria”. Segundo ele, ainda este ano o governo quer lançar a pedra fundamental da Universidade Afro-Brasileira, em Redenção, no Ceará (onde começou a luta contra a escravidão).

A Universidade Pedagógica de Moçambique (UP) e Universidade Eduardo Mondlane são as primeira instituições estrangeiras a fazer parte da Universidade Aberta do Brasil. As aulas devem começar antes do fim do ano.

Criada em 2006, a UAB é um sistema integrado por 91 universidades públicas, que oferece cursos de nível superior por meio da educação a distância. A prioridade é dar formação aos professores que atuam na educação básica. Atualmente, ela tem cerca de 600 polos – todos no Brasil – com aproximadamente 200 mil alunos.

A expectativa é que mais de sete mil estudantes participem de quatro cursos em quatro anos, nas disciplinas de gestão pública, pedagogia, matemática e biologia. Os diplomas serão reconhecidos nos dois países e os cursos terão metade do currículo desenvolvido em cada um deles, bem como o número de professores.

“Duvido que vamos encontrar no mundo um projeto de colaboração tão bem construído, trabalhado e discutido”, afirmou Carlos Bielshowsky, secretário nacional de ensino a distância do Ministério da Educação (MEC). “Diferentemente de outros que conheço, não foi feito no sentido Sul-Norte, com imposições.”

Professores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UniRio), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de Juiz de Fora e Universidade Federal de Goiás irão trabalhar na implantação dos cursos. Um coordenador residente virá da Universidade Federal de Mato Grosso. O projeto tem financiamento garantido de US$ 32 milhões (R$ 54 milhões).

Edição: Talita Cavalcante

Será que eu estou falando xangana?

Pra mim, tão difícil de entender quanto grego. Na hora de falar, tem sons sibilantes (quase uns assobios) que não costumamos usar no português.

Mas chego lá. Já sei ser educado – agradecer, dizer bom dia-boa tarde-boa noite e até logo.

Como é muito parecido com o ronga, considero que já domino princípios de civilidade em dois dos idiomas moçambicanos.

Faltam só 20 e poucos.

Veja aqui a reportagem na TV Brasil.

E aqui, texto de um tempo atrás sobre a dicionarização do xangana.

XiChangana, xê!

Reportagem publicada no domingo (12) na Agência Brasil.

E ainda estou trabalhando em outra na mesma linha, sobre uso de línguas moçambicanas em sala de aula (já falei disso noutro post – clique aqui se quiser ver mais).

As apurações que estavam em curso tiveram que ser remanejadas por causa das manifestações – e os efeitos delas – nas últimas duas semanas.

Mas elas vão aparecendo, aos pouquinhos. Xê!

12/09/2010
Idioma mais falado no Sul de Moçambique terá dicionário a partir do ano que vem

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Será publicado no ano que vem o primeiro dicionário do idioma xiChangana, o mais falado no Sul de Moçambique, também presente na África do Sul e no Zimbábue. Quatro pesquisadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane trabalham no projeto, que é o primeiro do gênero no país.

“A línguas maternas devem ter a oportunidades de se desenvolver. Estamos a trabalhar em gramáticas e dicionários para que os demais idiomas do país se modernizem. É importante para nossa história e preservação da nossa identidade”, diz o coordenador do trabalho, professor Armindo Ngunga.

Já existem dicionários que traduzem os idiomas falados na África Austral, praticamente todos de origem banto, para o português e o inglês. Mas a iniciativa de enumerar as palavras em xiChangana, explicando seus significados na própria língua, é inédita.

O idioma oficial de Moçambique é o português, mesmo sendo a língua materna de apenas 6% da população, de acordo com o Recenseamento Geral de 1997. Na mesma pesquisa, apenas 40% da população declararam que sabem falar o idioma. O percentual é bem mais elevado na capital, Maputo, próximo de 90%.

O português divide o território com mais de 20 idiomas, entre eles o barwe chinianja, chona, chope, echuwabo, ciyao, kunda, lolo, elomwe, maindo, makhuwa, maconde, mwani, xiChangana e zulu.

“Os moçambicanos conquistaram e domesticaram a língua portuguesa”, afirma Ngunga. “Mas isso não dá o direito de se sobrepor ao ponto de aniquilar as demais”, diz ele.