Zimbábue e seus carros japoneses

Carroça não. Mercedão 93 também não.

Em tempo: numa semana que em que, no Brasil o noticiário está tão focado (nem poderia ser diferente, em semana de eleição) aproveito para levantar temas para tratar mais adiante.

Por isso, o número de posts aqui vai cair um pouquinho. Aproveite para vasculhar mais lá atrás, encontrar coisas que você ainda não viu aqui no ElefanteNews. Sempre tem algo novo.

Passe também no Mosanblog e faça o mesmo. Lá tem, inclusive, uma explicação interessante sobre o uso da chamada “mão inglesa”, como você vê aqui.

Publicado na Agência Brasil.

28/09/2010
Zimbábue proíbe importação de carros com mais de cinco anos de fabricação

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Uma nova lei aprovada no Zimbábue proíbe a importação de carros com mais de cinco anos de fabricação. A regra consta do Regulamento de Tráfego Rodoviário, que entra em vigor em março de 2011.

O número de veículos de segunda mão, procedentes principalmente do Japão, cresceu muito nos últimos anos no Zimbábue e em outros países africanos. A legislação japonesa impõe restrições à revenda de automóveis com mais de cinco anos de uso. Graças a isso, são exportados a preços mais acessíveis à população africana.

Segundo o ministro do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Zimbábue, Francis Nhema, a medida visa a “salvar vidas e a proteger o meio ambiente”. Só neste ano, mais de 150 pessoas morreram em acidentes de trânsito no país, que tem tem cerca de 15 milhões de habitantes.

“A maioria dos carros que chega aqui foi banida nos seus países de origem”, disse o ministro, citado pela imprensa local. “Mas são jogados aqui no Zimbábue e depende de nós nos protegermos dessa exploração”. O ministro também espera que o banimento impulsione a indústria local, que começou a retomar a produção depois de uma crise que paralisou a economia do país por quase uma década.

A maioria dos veículos vendidos no Zimbábue é de usados, levados do exterior. Cerca de 400 carros são importados por dia.

O novo regulamento de tráfego também proíbe a circulação dos carros que tenham o assento do motorista do lado esquerdo (como é no Brasil, por exemplo). A maioria dos veículos que circula no país já tem a direção instalada do lado direito, porque chega da África do Sul e do Japão.

Grande parte dos países da África Austral (Quênia, Uganda, Tanzânia, Namíbia, África do Sul, Botsuana, Moçambique, Suazilândia, Lesoto, Ilhas Maurício, Comores, Malaui e Zâmbia) adota a chamada “mão inglesa”, com o motorista no lado direito.

Xenofobia preocupa. De novo.

Ataques a estrangeiros na África Austral marcaram o ano de 2008. O medo de vê-los de volta tem mobilizado Moçambique, África do Sul, Zimbábue, Malawi.

Fui ver isso tudo de perto nesta semana. Foram quase 4 dias pra colocar a história de pé, porque todo mundo sabe, todo mundo está preocpado, mas quase ninguém quer falar.

O resultado da ida à fronteira é uma reportagem já publicada na Agência Brasil e outra que irá ao ar na TV Brasil.


Passada a Copa, fantasma da xenofobia volta a atemorizar imigrantes

Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Ressano Garcia (Moçambique) – O ódio a estrangeiros na África do Sul voltou a mobilizar as comunidades de imigrantes e a preocupar autoridades em Moçambique, no Zimbábue e na própria África do Sul.

Há dois anos, a xenofobia foi responsável por um episódio que traumatizou a região sul do Continente Africano. Em maio de 2008, 62 pessoas morreram e mais de 10 mil deixaram a África do Sul depois de uma onda de ataques nos arredores de Joanesburgo.

Estima-se que 25 mil estrangeiros perderam suas casas e foram obrigados a buscar refúgio em igrejas, centros comunitários e em instalações da Cruz Vermelha. Centros de acolhimento foram montados na África do Sul e nos países vizinhos. As pessoas chegavam com a roupa do corpo, sem dinheiro e muitas vezes feridas. Pela primeira vez desde o fim do apartheid (regime de segregação racial) em 1994, o Exército sul-africano foi às ruas para restabelecer a ordem.

Logo na primeira semana pós-Copa do Mundo, estrangeiros foram alvo de violência nas proximidades de Joanesburgo e da Cidade do Cabo. Para a polícia, foram casos isolados, tratados como agressões ou brigas comuns.

Segundo o líder comunitário moçambicano Matias Ezequiel, que vive no subúrbio de Pretória, os estrangeiros são perseguidos por aceitar empregos de baixa remuneração e trabalhos pesados em um país que não tem colocação sequer para os próprios cidadãos. A taxa de desemprego na África do Sul é uma das maiores do mundo: ficou em 25% no mês de maio.

O comentário na cidade, contou Ezequiel, era que, tão logo terminasse o Mundial, os estrangeiros seriam expulsos de novo. A maior presença da polícia nas ruas e os empregos temporários oferecidos em função da Copa do Mundo ajudaram a amenizar um pouco a tensão. Mas, desde que acabou a Copa, a recomendação que ele dá aos compatriotas é que voltem para Moçambique.

“A situação vai ficar muito caótica”, previu Ezequiel. “Nós já testemunhamos isso. As pessoas que vivem nessas regiões [com população predominantemente imigrante] são as primeiras vítimas.”

Em Maputo, capital moçambicana, o clima é de apreensão entre as famílias que têm parentes na África do Sul. Moçambique, com 22 milhões de habitantes, tem quase 3 milhões de cidadãos vivendo no país vizinho – a economia mais forte da região, apesar das altas taxas de desemprego.

O marido de Olga Machava trabalha nas minas de carvão sul-africanas há 20 anos. Enoque Machava passa quase todo o ano fora. Periodicamente, Olga cruza a fronteira para arrumar a casa do marido, fazer companhia a ele e também trazer roupas para revender em Moçambique. As quatro filhas e o filho pequeno do casal ficam em Maputo. Olga voltou preocupada da última visita.

“Ele diz: não sabemos onde estaremos, o que vai acontecer. Mesmo porque, desde que o Mundial acabou, muita gente está a voltar. Agora, quando alguém bate à porta ou toca o telefone, não sabemos se é o papai que está a chegar.”

Em Ressano Garcia, cidade que faz fronteira com a África do Sul, o abrigo para repatriados mantido por irmãs de caridade já foi alvo de reclamações de xenofobia. A casa recebe semanalmente um ônibus com moçambicanos expulsos da África do Sul por falta de documentos ou visto de permanência.

Na semana passada, porém, a voluntária Vânia Mondlane notou algo diferente: mais de 40 mulheres e cerca de 300 homens desembarcaram, dizendo que fugiam. “Isso não é normal”, afirma ela. “Nunca apareceram 40 senhoras ao mesmo tempo. Sempre vêm três, quatro, seis no máximo. De verdade, é xenofobia.”

No Zimbábue, o governo montou três grandes tendas na cidade fronteiriça de Beitbridge para acolher quem volta da África do Sul. As agências das Nações Unidas doaram 10 mil cobertores, galões de água e sabonetes. O diretor da Defesa Civil, Madzudzo Pawadyira, informou à imprensa local que já foi criado um comitê específico no governo para acompanhar o tema.

Em Moçambique, o assunto é tratado com reserva. “Ainda não houve ações significativas de xenofobia. O que existe é uma forte ameaça”, afirmou Oldemiro Baloi, ministro dos Negócios Estrangeiros. “Sem querer criar alarme, podemos dizer que estamos em estado de alerta”.

África do Sul, Zimbábue, Tanzânia… tudo meu vizinho.

Zimbábue à esquerda. Tanzânia lá em cima. Aqui do lado.

A seleção brasileira enfrentará Zimbábue e Tanzânia antes da Copa na África do Sul, nos dias 2 e 7 de junho, informam as agências.

Tanzânia é meu vizinho de cima. Lá ficam o Monte Kilimanjaro e a ilha de Zanzibar. Mas até 15 dias atrás não tinha ligação por terra com Moçambique. É a nova Ponte da Amizade, pensada e desejada desde a década de 80, que só saiu agora. A capital é Dar as Salaan. Daqui tem vôo direto. De Joanesburgo também – lá tem vôo direto pra quase toda África.

Zimbábue
é vizinho de canto. Faz fronteira lá com a província de Tete, onde a Vale trabalha pra explorar carvão. A capital é Harare. Tem vôo direto daqui – também dá pra ir de carro – e de Jo’ burg também. O país tinha a maior inflação do mundo até dolarizar a economia, em 2008. A taxa, em abril deste ano, estava em 5%, contra 3% em março. Moleza pra quem viva com 3.000%.

Seleção e ElefanteNews também são curtura, meu!