A Miss Angola e a vida de miss

A coleguinha Madeleine Lacsko tem trajetória profissional, de certa forma, parecida com a minha: depois de um tempão numa rádio grande de São Paulo (a Jovem Pan, no caso dela), foi pra Brasília, trabalhou em empresa pública (Rádio Justiça) e acabou aqui na África (Angola).

De bebê novinho, voltou para São Paulo, para – certamente – olhar para a cidade e sua gente como nunca dantes.

As referências mudam. O tamanho dos problemas, principalmente.

Aliás – paulistano classemédiaalta querido – pra rever conceitos, abrir a mente, dar mais valor ao que tem, não precisa bater o carro, viver experiência de quase-morte ou falir de maneira irremediável.

É só viajar um pouco – claro, longe do circuitinho Elizabeth Arden, paralelos e adjacências.

É da Madeleine o texto que vai aí embaixo, originariamente publicado no blog Vida de Madá (e o link para ele está aqui)

“A MISS ANGOLA E A VIDA DE MISS

A gente (Carlos Moraes e eu) torceu para a Leila Lopes, mas não só porque ela é linda e sambou na cara das outras.

É que, em Angola, miss é um troço diferente, importante e, ao mesmo tempo, lindo.

Não existe por lá essa figura meio apagada, meio caricata, que a gente mal sabe o nome e trilha essa vida de sub-celebridade, do ar condicionado ao programa de variedades, estampada nas fotinhos menos importantes de coluna social.

Miss Angola é uma pessoa importante para a sociedade do próprio país, que todo mundo conhece, sabe o nome, sabe a cara.

Além disso, é uma moça que põe a mão na massa, põe o pezinho no barro, dá voz a campanhas importantes, usa a própria beleza para fazer a diferença na vida de muita gente que precisa de verdade.

A minha experiência foi com a Miss Angola do ano passado, a Jurema Ferraz, negra com uns olhos de chinesa, uma cara diferente e um jeito de menina.

Eu, no Sambizanga (só quem vive em Luanda entende), ouço que a Miss Angola ia participar da abertura nacional da Campanha de Vacinação contra a Pólio, da qual eu fazia parte.

E aí que eu já pensei que a moça ia dar um puta trabalho, que não ia querer andar na lama, que ia ter frescura com as crianças, a falta de estrutura, a falta de banheiro e tudo mais.

Mas Jurema Ferraz surpreende. Surge de tênis no pé, toda empolgada para vacinar as crianças. Amassa barro, se envereda pelas vielas e, sempre com um sorriso no rosto, beija criança suja, catarrenta, descalça, sem roupa.

Decora algumas coisas sobre a vacina contra a pólio, sorri para as mães, pede que avisem as vizinhas, as parentes, vacina mais crianças, tudo isso com a faixa de Miss Angola no peito.

Não há como negar que a Miss Angola foi importante ali.

E, bem lembrado pelo Kênio Andrade, o episódio em que a mesma moça, sem salto e sem luxo, passou o dia todinho na porta do Belas Shopping, o único de Angola.

São umas 30 lojas, se tanto, um único andar e os melhores cinemas do país. Um supermercado grande, todos os ricos disputando vaga para os carrões praticamente a tapa.

O caso é que ali, na porta, o dia todo, a Miss Angola pedia donativos para montar cestas básicas ou agasalhos para os pobres. Teve sucesso. Depois, com a mesma simplicidade, foi entregar todas as cestas para as pessoas.

A importância da Miss de um país não se faz no concurso, se faz no dia-a-dia, na capacidade que ela tem de usar a própria beleza em prol de algo maior que a beleza.

Sem falar na condição feminina em Angola, tão problemática, tão desigual, capaz de render livros e mais livros sem a gente entender como isso existe.

Angola é um lugar cheio de problemas, mas onde as pessoas são tão bem feitas, de uns corpos tão lindos e umas caras tão desenhadas que, às vezes, a gente nem acredita no que está vendo.

E eu, por ali, mal acreditava que a Miss Angola podia ser algo tão interessante. Por isso a empolgação da gente, esse bando de expatriados, com essa história de Miss Universo.

2 comentários em “A Miss Angola e a vida de miss

  1. O concurso d miss è bem vindo no nosso país, ms as nosas eleitas miss depos d coroadas esqcem as suas horigens,tornam-si ,cinicas afastam-si das amizades d loga data

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